Nesta segunda-feira (28), a escritora Clara Averbuck de 38 anos, relatou em sua página do Facebook que foi vítima de um estupro no domingo (27), por um motorista do aplicativo de viagens Uber. O crime aconteceu em São Paulo, após a escritora sair de uma festa.
Na publicação, Clara denuncia que havia consumido bebida álcoolica e que o motorista tirou proveito de sua situação de vulnerabilidade. Além do violência sexual, o homem a agrediu com um soco no olho. Veja o relato:
“bom, virei estatística de novo. queria chamar de “tentativa de estupro” mas foi estupro mesmo. tava bêbada? tava. foda-se. não vou incorrer no mesmo erro de quando eu era adolescente e me culpar. fui violada de novo, violada porque sou mulher, violada porque estava vulnerável e mesmo que não estivesse poderia ter acontecido também. o nojento do motorista do uber aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo imundo em mim, ainda pagando de que estava ajudando “a bêbada”. estou machucada mas estou em casa e medicada pra me acalmar. estou decidindo se quero me submeter à violência que é ir numa delegacia da mulher ser questionada, já que a violência sexual é o único crime que a vítima é que tem que provar. não quero impunidade de criminoso sexual mas também não quero me submeter à violência de estado. justamente por ter levado tantas mulheres na delegacia é que eu sei o que me espera. estou ponderando. estou com o olho roxo e a culpa de ter bebido e me colocado em posição vulnerável não me larga. a culpa não é minha. eu sei. a dor, a raiva e a impotência também não me largam. estou falando tudo isso para que todas as que me lêem saibam que pode acontecer com qualquer uma, a qualquer momento, e que o desamparo e o desespero são inevitáveis. o mundo é um lugar horrível pra ser mulher.”
Após a repercussão do assédio, a escritora criou uma campanha para que outras mulheres tenham espaço para denunciar outros crimes. Com as hashtags #MeuMotoristaAbusador e #MeuMotoristaAssediador, centenas de artistas e ativistas participam da campanha.
Clara afirmou que ao Jornal O Globo que ainda não decidiu se irá fazer o registro na polícia. “Eu não decidi se farei o registro porque não confio no sistema. Ele sabe onde eu moro, tenho medo que me encontre. O sistema do jeito que é…é muito falho. Como sou militante feminista, acompanho muitas mulheres nas Delegacias da Mulher. É um despreparo incrível. Obviamente que não são todos. Mas eu vou ter que provar que fui vítima. O estupro é o único crime em que você tem que provar que é vítima. Como eu vou provar? Não teve penetração de pênis em mim, foi com o dedo. Que exame eu vou fazer para provar isso? Não existe. As pessoas acham que é muito fácil ir lá e pronto. Mas não é assim. Eu não confio na polícia. Eles não me deixam segura. Tenho mais medo do que acho que vão me proteger”, disse em entrevista ao O Globo.
De acordo com o Uber, o motorista foi denunciado e punido. Em nota, a empresa afirmou que repudia o ocorrido e informou que o motorista foi identificado e banido da empresa. “A Uber repudia qualquer tipo de violência contra mulheres. O motorista parceiro foi banido e estamos à disposição das autoridades competentes para colaborar com as investigações. Acreditamos na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência contra a mulher”, diz nota ao Jornal Globo.
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