A época de floração dos Ipês chama a atenção na capital. As vias enfeitadas pelas cores fortes da árvore do Cerrado levam os goianienses a preferirem a espécie para arborização de ruas e calçadas. Mas será que o Ipê é adequado para qualquer local? Apesar da necessidade do aumento de áreas verdes na capital, o plantio indiscriminado sem orientação não é recomendado, e é preciso seguir critérios estipulados pelo plano de arborização urbana, alertam especialistas.

Nesse sentido, a prática de plantio em calçadas e canteiros sem orientação adequada é um problema recorrente na capital, inclusive com o uso dos Ipês. Apesar de serem árvores resistentes, bonitas e adaptadas ao clima goiano, os Ipês também possuem características que podem gerar alguns transtornos. “Ele não é indicado para uma calçada muito estreita, não é indicado para um local onde tenha afiação daquele lado da calçada, então também tem as suas limitações”, pontua o superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Amma, Ormando Pires.

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Plantio em calçadas

O professor do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (ICB/UFG), Aristônio Magalhães Teles, explica que os Ipês possuem várias espécies, identificadas de acordo com as cores das flores. Dentre elas, o Ipê branco é o único recomendado para plantio em calçadas, por crescer menos que os outros. 

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O especialista destaca que é uma árvore ideal para arborização urbana, mas o local de plantio deve ser levado em consideração. “É recomendada desde que seja plantada em locais adequados. Por exemplo, dentro da cidade. Cidade não se restringe apenas a calçadas, então, nós temos praças, parques, campos centrais e bosques. Acho que é uma planta muito interessante, porque tem toda aquela questão da coloração, especialmente nesse período da seca”, exemplifica Aristônio. 

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Ipês Amarelos da Praça do Cruzeiro, no setor Sul. Foto: Altair Tavares/DG

Árvores adequadas para meio urbano

Aristônio ressalta quais os tipos de árvores mais adequados para o plantio urbano. De acordo com o professor, é interessante privilegiar espécies que sejam nativas da vegetação local, no caso o Cerrado. Além disso, também é importante pensar nos animais que vivem na cidade, por isso, árvores que produzem frutos atrativos para a fauna local também são indicadas. 

O botânico também alerta para uma característica importante na escolha da espécie. Além da altura das copas, as raízes também merecem atenção. “Um outro cuidado que se deve ter é com as espécies em relação ao seu sistema subterrâneo, sistema radicular. Tem espécies que têm raízes muito fortes e superficiais, que não são adequadas, por exemplo, para o plantio em calçadas, porque ela arrebenta todo o calçamento”, acrescenta o professor. 

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Ademais, é necessário, também, evitar plantas consideradas exóticas, ou seja, que são provenientes de outros biomas, e árvores que produzem frutos muito grandes, que podem trazer riscos para pedestres e causar transtornos aos motoristas. Nesse sentido, um bom exemplo é o Jamelão, considerado uma espécie exótica. “O jamelão é um problema, justamente por conta dos frutos, ele frutifica bem no início das chuvas. E os frutos, ao caírem em contato com a água, viram uma pasta escorregadinha. Realmente não é adequado para um plantio em vias públicas, de passagem de veículos, de motos, mas é uma planta que pode ser plantada em parques, sem o menor problema”, acrescenta Aristônio.

Orientação de plantio e Disque-árvore

Pensando nos critérios de arborização urbana, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) desenvolveu projetos que auxiliam a população a aumentar a área verde na cidade e escolherem os tipos ideais de espécies para cada local de plantio. Com o Disque-Árvore, o cidadão pode enviar fotos do local onde deseja plantar e os técnicos da Amma sugerem o tipo certo de árvore e fazem a doação da muda. 

O superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Amma, Ormando Pires, explica como o programa funciona. “Pelo WhatsApp, ele (cidadão) aciona a Amma e envia três fotos. Nessas fotos, o nosso técnico, o nosso biólogo, ele vê ali a largura da calçada, o espaçamento, a distanciamento de meio-fio e se tem a presença de fiação. Através disso, ele escolhe a espécie apropriada para o morador, a Amma faz a doação dessa muda e uma equipe operacional vai até a residência dessa pessoa e já deixa essa muda plantada”, informa. 

Entre as árvores indicadas pelo professor para o plantio em calçadas e casas pelos moradores, estão o Oiti e o Cajuzinho-do-cerrado. “O Oiti é uma planta que faz sombra, uma planta muito boa pra isso. Entre espécies frutíferas, o Cajuzinho-do-cerrado e o próprio Pequi, que é um produto que pode ser plantado em calçadas, que não tem nenhum prejuízo. São plantas que perdem poucas folhas, produzem frutos, são atrativos para a fauna e que não vão atrapalhar a atenção”, ressalta o botânico.

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