07 de agosto de 2024
Acusações na Alego • atualizado em 15/09/2023 às 16:24

Envolto em nova polêmica, deputado Amauri será denunciado, garante deputada Bia

Caso vai parar em duas instâncias para apurar violência política de gênero e violação ética
Amauri Ribeiro na tribuna da Assembleia Legislativa, dia 6 de junho (Foto: Reprodução/TV Alego)
Amauri Ribeiro na tribuna da Assembleia Legislativa, dia 6 de junho (Foto: Reprodução/TV Alego)

A deputada estadual Bia de Lima (PT) informou hoje, 15, por meio de sua assessoria, que vai entrar com duas representações contra o também deputado Amauri Ribeiro (UB) nos próximos dias. A assessoria jurídica da deputada estava trabalhando no documento nesta sexta-feira. Uma das medidas será formalizada junto à Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e outra na Comissão de Ética da Alego.

As representações estão relacionadas às formas de tratamento do deputado, consideradas ofensivas e machistas, dirigidas à parlamentar durante evento da Alego reunindo prefeitos na quarta-feira, 13. Para agravar, as ofensas acabaram reiteradas depois, na sessão ordinária do dia seguinte.

O deputado se dirigiu a Bia de Lima afirmando, entre outras coisas, que “se a senhora não se sente com competência para tal [o cargo de deputada], peça para sair”.

No dia seguinte, a deputada Rosângela Rezende (Agir), que preside a Procuradoria da Mulher da Assembleia, foi à tribuna para dizer que a forma de tratamento utilizada por ele configura violência política de gênero.

“Não é mimimi”

“Não é mimimi. Estou aqui para dizer não à prática de violência política de gênero”, afirmou a parlamentar que atua juridicamente nas causas femininas do Legislativo Estadual. E ela seguiu, citando a Lei 14.192/2021 que pune a violência política contra mulheres “que atinge a mim e a todas as mulheres que são desestimuladas ao debate, à representatividade”, disse ela.

Finalizando, Rosângela lembrou que em 2024 o país terá a primeira eleição em que a violência política de gênero será considerada crime. “Vejo isto como um avanço que pode fazer com que as mulheres se sintam mais estimuladas a participar da política”, concluiu.

“Canalhas e hipócritas”

Mas, ao ter sua fala confrontada pela deputada do Agir, Ribeiro atacou tanto Rosângela, quanto novamente Bia de Lima.

A reação do deputado foi de utilizar a tribuna para ironizar a presidente da Procuradoria perguntando se podia conversar com a ela “ou se isso era ofensa”. Chamando de absurdo as declarações dela, passou a rechaçar duramente não apenas a fala da Rosângela, como também para se referir a “vitimismo” a conduta de Bia e chamar de “canalhas” os que dizem que ele é homofóbico. A expressão canalhas já tinha sido utilizada por ele com outras como “hipócritas” e até “vagabundos”, sem nominar a quem, mas sinalizando se tratar de Bia de Lima e seu grupo político de “esquerdistas”, também disse.

“Nunca destratei ninguém nessa Casa por ser mulher” afirmou. Em seguida desafiou as deputadas: “Me processe em qualquer procuradoria que a senhora quiser. Não vou tratar nenhuma [deputada] diferente por ser mulher”.

Deputada passa mal

Após a troca de farpas, Rosângela Resende se sentiu mal e foi atendida por uma equipe do Corpo de Bombeiros que atua na Alego. Ela atribuiu a uma desidratação e alteração da pressão arterial. Procurada nesta sexta-feira, a equipe da parlamentar informou que ela estava bem, mas não deu retorno para comentar sobre o que a Procuradoria fará sobre o ocorrido.

A reportagem também procurou o deputado Amauri sobre a decisão de Bia de Lima de mover as ações na Procuradoria da Mulher e na Comissão de Ética, mas ainda não teve retorno da assessoria dele nesta sexta-feira, 15.

Comissão de Ética

O presidente da Comissão de Ética da Alego, deputado Antônio Gomide (PT) explicou à reportagem que, apesar da situação ter chegado ao limite do constrangimento de vários parlamentares esta semana, o órgão somente pode agir por deliberação da Mesa Diretora.

Isto significa que as deputadas Bia e Rosângela devem formalizar suas queixas ao presidente da Alego, deputado Bruno Peixoto (UB). “Ele tem o poder de acatar ou não a representação e encaminhar para a Comissão de Ética”, observa Gomide. Isto está previsto no Regimento Interno da Alego. O deputado informou que não há nenhuma representação contra algum parlamentar na Comissão de Ética atualmente.

Do ponto de vista pessoal, Antônio Gomide disse que tem dialogado com Bruno Peixoto em busca de solucionar o clima de desavenças, “que agora se agravou, atingindo também a deputada Rosângela”, avalia. Mas ele reitera que o rito de apuração e providências pela Comissão de Ética é desencadeado unicamente através da Mesa Diretora.

Reincidências

Já faz tempo que vem chamando a atenção o comportamento do deputado Amauri Ribeiro, considerado machista, e questionado também por outras atitudes.

Em 2019, deputadas estaduais e funcionárias da Assembleia vestiram camisetas com os dizeres “Sou servidora da Alego, me respeite”. Era uma reação contra a declaração insinuante do deputado Amauri, de que, na Assembleia, “mulheres bonitas são contratadas para ficar à disposição dos deputados”.

Recentemente, por outro tipo de declaração, dessa vez confessando na Tribuna que apoiou os atos golpistas, circulou a informação de que ele seria investigado pela Comissão de Ética. O deputado foi, inclusive, alvo de operação da Polícia Federal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido ao episódio, e que consta de investigação em andamento.

Associação protesta

A diretoria da Associação e Sindicato dos Docentes da Universidade Federal de Goiás divulgou nota manifestando repúdio às declarações de Amauri Ribeiro. Para a organização sindical, a violência política de gênero tem sido praticada de forma constante pelo deputado estadual que, “somente nesta semana, ofendeu duas deputadas”.

Para a diretoria do Adufg, as atitudes do deputado “são inaceitáveis e criminosas”. A organização observa que, “quando qualquer mulher é ofendida na política, todas as mulheres são atingidas. Vale ressaltar que a Lei 14.192/2021 considera criminosa toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos das mulheres”, informa a nota.

Polêmicas anteriores

A organização também relembrou o ocorrido em 2019, complementando que o deputado disse na época que a Assembleia Legislativa era uma “casa de mulheres”, onde até “modelos estão ali para servir os deputados”.

E a lembrança dos episódios polêmicos prossegue: “Mais adiante, em 2021, Amauri afirmou que a vereadora de Goiânia, Lucíula do Recanto (PSD), ‘merecia um tiro na cara’ por sua atuação em defesa dos animais maltratados pelos tutores. Quando era prefeito de Piracanjuba, chegou a espancar a própria filha e admitiu ser o responsável pelos hematomas no corpo da jovem”.

“Diante de tamanhos absurdos, a diretoria do Adufg-Sindicato espera que a Assembleia Legislativa tome todas as providências legais com urgência. O Poder Legislativo tem o dever de assegurar as medidas protetivas para resguardar a vida e o livre direito de qualquer mulher exercer seu mandato eletivo com dignidade e segurança. A diretoria do Adufg também manifesta sua solidariedade às deputadas atacadas e às mulheres como um todo”, finaliza a nota.


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