O médico Sérgio Rassi foi aclamado presidente do Goiás Esporte Clube em 2014. Foi reeleito para mais um mandato em 2015. Porém, em agosto de 2017, seis meses antes do término do seu ciclo à frente do Verdão, renunciou ao cargo.
O dirigente teve sucesso na parte administrativa e financeira na Serrinha. Assumiu o Goiás com uma grande dívida e conseguiu equilibrar as contas. Só que os resultados no futebol não apareceram. Durante seu período no comando esmeraldino, o time foi rebaixado e agonizou na Série B do Brasileirão.
Cinco anos após a saída, Sérgio Rassi está de volta ao cenário político do Goiás. É uma peça importante no tabuleiro das eleições no executivo que estão programadas para o final do ano. O cargo hoje é de Paulo Rogério Pinheiro, que não é candidato à reeleição.
Sérgio Rassi também não é candidato. Sua volta é como líder do movimento ‘Goiás para Todos’, que na semana passada, reuniu sócios proprietários e conselheiros. O grupo, que é contrário ao atual modelo de gestão no Goiás, tem como principais reivindicações: a liberação para que sócios proprietários possam votar nas eleições para o executivo e uma maior valorização para a classe.
O Diário de Goiás entrevistou Sérgio Rassi, que hoje, mesmo sendo ex-presidente, não faz parte do Conselho Deliberativo alviverde. Na conversa com nossa equipe, o médico detalhou as mudanças que são importantes para o clube, a possibilidade de mudança no estatuto no ano da eleição e se pretende, no futuro, assumir um cargo dentro do Verdão.
Sérgio Rassi: Em primeiro lugar, dar mais voz e representatividade para os sócios proprietários. São poucos. Acredito que o Goiás é o clube com o menor número de sócios, envolvendo todas as divisões do Brasileirão. São 730 sócios proprietários, que gozam de pouquíssimos privilégios. Com direito a apenas um ingresso para os jogos, sem direito a acompanhante e desconto de 20% na loja oficial do clube. Apenas isso. Saiu agora uma portaria dizendo que o sócio tem direito, isso por conta das nossas reinvindicações, alinhado evidentemente ao bom senso, em que aumentou para dois ingressos e um lugar reservado para entrar no estádio e ficar nas arquibandas. Isso já foi uma grande conquista, mas isso não basta.
A eleição do presidente é de direito do sócio proprietário. Essa é a nossa maior reinvindicação. Mas aí vamos ver lá que temos cerca de 45% de inadimplentes. São pessoas que estão tão insatisfeitas que pensam assim: triplicaram o valor da mensalidade – de R$ 100,00 para R$ 300,00 – e reduziram os benefícios que todos nós tinhamos.
Hoje, na verdade, o Goiás tem cerca de 400 sócios adimplentes. Lembrando que, desse número, 250 estão no Conselho Deliberativo. Acredito que esses, na maioria, estejam adimplentes. Então acaba sendo um currar eleitoral que o Goiás sempre se caracterizou ter e perpertuar as mesmas pessoas no poder ou pessoas afins e que rezem ou rezavam em suas cartilhas.
Estamos, por isso, reinvindicando um plano de refis para que esses sócios proprietários inadimplentes, possam se tornar adimplentes. Não é perder, mas uma renociação desses debitos.
Pleiteamos uma mudança radical do modo de gestão do clube. Esse modo patriarcal, familiocrata, autocrático que campeia no Goiás há decadas tem que ser mudado. Faz muito tempo que não existe isso no futebol brasileiro. Vários clubes que tinha famílias controlando clubes, não existem mais. Essas pessoas possuem méritos, pois conseguiram conduzir o clube, mantendo e aumentando o patrimônio. Zelaram do clube como se fossem sua própria casa. Eu aplaudo isso. Mas estamos em outros tempos. Modernização e profissionalização da gestão, colocando especialistas no cargos dos clubes, pessoas que seriam gestores. Eu tentei fazer isso na nossa gestão, talvez o embrião tenha sido lá, mas depois retroagiu, na gestão seguinte e nessa agora, voltando a distribuição de cargos para amigos ou familiares.
Sérgio Rassi: Por que não foi feita essa mudança no começo do mandato? Será que estão com medo de perder alguma coisa nas próximas eleições? Para se cercarem de mais segurança para manter esse modo tão desgastado de governança e ainda com essa história de criar um CEO, um Conselho de Administração.
CEO escolhido por quem? Pelo próprio presidente do Conselho Deliberativo? Não é por aí. Acaba sendo um profissional que vai rezar na cartilha do presidente do Conselho, escolhido por ele. E esse Conselho Administrativo?
Essa proposta não muda quase nada. É a mesma coisa com uma roupagem diferente, tentando iludir a todos que está havendo alguma mudança. Não concordamos com isso.
Sérgio Rassi: É importante para um clube que está redondinho financeiramente com o Goiás? É importante! Mas não nesse tempo. Em um segundo momento, quando vir uma empresa para mesa de negociação, uma empresa forte, que com certeza que vai somar benefícios. E com um detalhe: fazendo SAF apenas no departamento de futebol. Nosso patrimônio é intocável, e é muito grandioso. Só na nossa gestão tivemos um ganho de 52% do patrimônio e isso tem que ser mantido e não pode entrar em uma negociação com SAF. Nós não queremos vender o Goiás. Agora, para o departamento de futebol, em que o acordo seja interessante para o clube, eu vejo com bons olhos.
Sérgio Rassi: Há um tempo atrás me prôpus a ser candidato mediante a solicitação de vários conselheiros que me apoiaram, mas declinei no finalzinho, por conta de um pedido especial do Sr. Hailé Pinheiro, pessoa que prezo e admiro muito. Digo isso no presente e não no passado, porque isso será uma constante na minha vida e memória.
A eleição para presidência do Conselho Deliberativo é em 2025. Tem muito tempo até lá. Claro que é um cargo que gostaria de exercer, ele não tem uma janela de exposição tão grande perante a torcida, fanáticos e pessoas que são incentivadas a falar mal de você. Pessoas que mandam colocar faixa como ‘Fora Rassi’. Você está um pouco mais blindado, pois você tem com você 250 conselheiros que te apoiam, e eu faria uma governabilidade extremamente dividida e democrática com a participação de todos.