Direto de Washington, o jornalista Fernando Hessel, observador da Casa Branca junto ao Pentágono, jogou luz sobre um tema que tem movimentado os bastidores da política brasileira: a possível aplicação da Lei Magnitsky por Donald Trump contra autoridades do governo brasileiro. Em sua rede social, Hessel explicou, sem rodeios, o que ele define como “um trem que ninguém consegue explicar”, mas que pode reacender tensões diplomáticas entre os dois países.
“Não é um bicho de sete cabeças, não. Não é o fim do mundo”, afirma Hessel logo no início do vídeo que circula entre analistas e formadores de opinião. Em meio à escalada de declarações e ameaças envolvendo Washington e Brasília, ele questiona a histeria em torno da medida e destaca: “Essa lei funciona mesmo é pra magnata russo, oligarca chinês, gente com fortuna espalhada. Brasileiro graúdo, com conta na Caixa ou no Banco do Brasil, vai continuar jantando fora e comprando no débito”.
A explicação surge em meio à possibilidade de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aplique sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que votaram pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro. A medida, segundo apurou a CNN Brasil, faria parte de um pacote mais amplo de retaliações, que inclui tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros e o cancelamento de vistos diplomáticos.
Efeitos práticos da lei
Segundo Hessel, a lei sancionada em 2016 e inspirada na morte do advogado russo Sergei Magnitsky, permite ao governo dos EUA aplicar sanções unilaterais a estrangeiros envolvidos em corrupção ou violações dos direitos humanos. Isso inclui o bloqueio de bens vinculados ao sistema financeiro americano e a suspensão de vistos. “A pessoa não entra mais nos Estados Unidos, não mexe em conta fora do país, não usa cartão internacional. E vira praticamente um fantasma no mundo globalizado.”
Mas, para quem vive e opera exclusivamente dentro do Brasil, os efeitos práticos seriam bem diferentes. “Dentro do Brasil é outra história”, explica. “Se a pessoa tem conta no Banco do Brasil ou na Caixa, continua a vida normalmente. Recebe salário, compra imóvel, janta fora. Agora, se for Bradesco, Itaú ou qualquer outro banco com laços internacionais, pode ter a conta encerrada.”
Hessel faz ainda uma crítica bem-humorada ao modo como parte da elite brasileira lida com bens e patrimônios. “Vamos combinar: muita gente importante não tem nada no próprio nome. Sempre tem alguém que assina por ela. Estou errado? Segredo isso, né? E o que muitos fazem no Brasil também. Deus está vendo, hein?”.
Sanção com efeito moral e político
Na visão do jornalista, o impacto real da sanção seria muito mais simbólico do que prático. “Se atingir juízes brasileiros, o efeito vai ser praticamente zero. Porque o jeitinho brasileiro sempre dá um jeitinho brasileiro. O cara vai continuar comendo no mesmo prato com a ajuda de muitos amigos, com a ajuda de muitos companheiros invisíveis.”
Ele também relativiza o temor que cerca o nome da lei, tratado por muitos como uma arma geopolítica de grande impacto. “Sinceramente, uma energia jogada fora”, diz completando:
Pão quanto mais bate, mais ele cresce. Não transformem o Alexandre de Moraes no Salvador da Pátria.
Para Hessel, a Lei Magnitsky vem sendo usada como instrumento de moral seletiva. “Hoje, é usada pelos EUA para escolher quem eles querem cancelar no tabuleiro internacional. O objetivo nunca é só justiça, é geopolítica pura”.
Decisão política
Fernando Hessel encerra sua análise com uma constatação direta: “Isso é decisão política. Só. Nada mais que isso.” Ele lembra que, mesmo que as sanções venham a ser aplicadas, o cenário pode mudar rapidamente. “Depois de três anos, vai ter um outro presidente aqui nos Estados Unidos. Vamos ver”.
O recado final é claro: embora a possível aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do STF represente um gesto forte de oposição, ela deve ser entendida mais como um ato de provocação política do que como uma punição com consequências estruturais. Confira o vídeo de Hessel na íntegra:
FAQ – Lei Magnitsky e o Brasil, por Fernando Hessel
1. O que é a Lei Magnitsky?
É uma lei dos Estados Unidos que permite sancionar estrangeiros envolvidos em corrupção ou violações de direitos humanos. Ela inclui bloqueio de bens, cancelamento de vistos e restrições ao acesso ao sistema financeiro internacional.
2. Quem pode ser alvo da Lei Magnitsky?
Qualquer pessoa estrangeira considerada envolvida em práticas corruptas ou abusos de direitos humanos. No caso atual, ministros do STF e outras autoridades brasileiras podem ser incluídos, segundo especulações sobre medidas de Donald Trump.
3. A lei afeta a vida da pessoa dentro do Brasil?
Pouco. Segundo Fernando Hessel, se a pessoa vive exclusivamente no Brasil, continua com acesso a salário, contas em bancos estatais, cartões de débito e bens. O impacto real acontece fora do país, especialmente no sistema financeiro global.
4. Se eu tiver conta em banco privado, posso ser afetado?
Sim. Bancos como Bradesco e Itaú têm conexões com o sistema financeiro internacional e podem encerrar contas de sancionados. Cartões de crédito internacionais também podem ser bloqueados.
5. É uma medida definitiva?
Não necessariamente. Trata-se de uma decisão política e, como destacou Hessel, o cenário pode mudar com a troca de governo nos EUA. Sanções podem ser revistas ou suspensas conforme os interesses do momento.
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