Um novo foco de incêndio florestal atinge o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), no Nordeste de Goiás, nesta quarta-feira (18). Mais de 100 pessoas, entre bombeiros e brigadistas do parque e da região de Alto Paraíso de Goiás, lutam contra as chamas no segundo grande incêndio em menos de duas semanas.
O foco foi registrado na região da Cachoeira Simão Correia, dentro da unidade de conservação, e há indícios de ter sido criminoso. Cerca de 9 mil hectares da unidade já foram destruídos da semana passada para cá.
Em entrevista à Tv Anhanguera nesta quarta, a chefe do PNCV, Nayara Oliveira Stacheski, disse que testemunhas informaram terem avistado lanternas durante a noite de segunda-feira no local que amanheceu em chamas na terça. Entre as suspeitas de autoria ela citou garimpeiros. A região sempre foi assediada por garimpeiros de cristal e criadores de gado e búfalos que destroem áreas verdes para forçar pastagens, como ocorre na região da Comunidade Calunga, em Cavalcante, na mesma região do parque.
A chefe falou sobre o risco de o fogo atingir uma área próxima, a Comunidade do Sertão, assim como pode haver a suspensão da visitação turística ao parque se o incêndio progredir.
Brigadistas locais tentaram debelar os focos, mas o terreno acidentado e a quantidade de vegetação seca, natural da região, dificultam muito o trabalho. Foi necessário mobilizar mais efetivo. As equipes estão combatendo a linha de fogo durante 24 horas em turnos diferentes. Aviões estão sendo utilizados no trabalho, mas o fogo já destruiu 10% da unidade de conservação.
O novo foco de incêndio florestal avançou pela Chapada no mesmo dia em que autoridades dos Três Poderes se reuniram em Brasília para tratar do problema que atinge diferentes municípios brasileiros. Um destaque foi para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. O ministro apontou para a necessidade de endurecer as penas para crimes ambientais.
“Temos crimes ambientais que são queimadas, desmatamento, extração ilegal de madeira, mineração ilegal e contrabando. Como as penas são muito pequenas, elas acabam não tendo o efeito dissuasório necessário”, lamentou.
Também na terça, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou o repasse de recursos arrecadados pelo Poder Judiciário com multas e penas pecuniárias para o combate às queimadas em todo o país. Além disso, o conselho decidiu que os juízes de todos os estados devem dar prioridade ao assunto.
Diante do avanço dos incêndios e sinais de que eles são criminosos, o presidente Lula anunciou na semana passada em Manaus (AM) a criação de uma Autoridade Climática e de um Comitê Técnico-Científico para apoiar e articular as ações do governo federal de combate à mudança do clima.
O presidente também afirmou que enviará Medida Provisória para estabelecer o estatuto jurídico da Emergência Climática, o que irá acelerar a aplicação de medidas de combate a eventos climáticos extremos.
Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Brasil enfrenta sua pior estiagem em 75 anos. Apenas os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina não têm registro de seca.
Já nesta semana, ainda na terça (17), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, revelou que quase 5 milhões de quilômetros quadrados do Brasil estão em áreas de risco para incêndios, o que equivale a cerca de 60% do território nacional.
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, da EBC, Marina alertou: “Com essa condição, se o uso do fogo continuar, estaremos diante de um cenário alarmante, com vastas áreas de quase 5 milhões de quilômetros quadrados de matéria orgânica extremamente seca e facilmente inflamável, devido à baixa umidade, altas temperaturas e ventos intensos”.
“A situação é como se todo o território nacional estivesse em perigo”, acrescentou a ministra.
Marina também informou que todos os estados brasileiros já implementaram a proibição do uso do fogo, o que faz com que qualquer incêndio seja considerado um ato criminoso. Além disso, a ministra descreveu a situação como “terrorismo climático”. Ela foi mais uma a considerar as punições atuais para crimes ambientais inadequadas.