Sigmund Freud recebeu em 1935 uma carta de uma mãe aflita lhe perguntando se poderia ajudar seu filho homossexual a deixar de se atrair por pessoas do mesmo sexo. O pai da psicanálise foi enfático na resposta: “não podemos prometer esse resultado”.
O manuscrito tem sido compartilhado nas redes sociais em protesto contra liminar do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, que deu, na última sexta-feira (15), aval a terapias de “reversão sexual”. Tal prática é proibida pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) desde 1999. A entidade se manifestou contra a liminar.
A decisão deu origem a uma série de memes nas redes sociais e reações indignadas. “Não apenas Freud, mas vários estudos mostram que nada pode alterar a natureza do desejo sexual”, diz o psicólogo Klecius Borges. “Há tentativas nesse sentido baseadas em princípios religiosos, mas o que muda é o comportamento da pessoa. Há uma diferença grande entre comportamento e desejo sexual”, completa.
Na carta, Freud ainda tenta convencer a mãe, cuja identidade foi rasurada no escrito original, de que não há nada de errado em seu filho ser homossexual. “Homossexualidade não é nenhuma vantagem, mas ao mesmo tempo não é algo pelo qual deva se envergonhar. Não é um vício, uma degradação e nada que possa ser classificado como uma doença.”
Leia abaixo a tradução livre da carta
“Cara senhora
Eu presumo pela sua carta que seu filho é homossexual. Me chama mais atenção, porém, o fato de a senhora não ter mencionado isso nas informações que forneceu sobre ele. Poderia lhe perguntar o motivo de ter evitado isso?
Homossexualidade não é nenhuma vantagem, mas ao mesmo tempo não é algo pelo qual deva se envergonhar. Não é um vício, uma degradação e nada que possa ser classificado como uma doença.
Nós a consideramos uma variação da função sexual causada por uma certa repressão do desenvolvimento da sexualidade. Muitas personalidades ilustres dos tempos atuais e do passado são homossexuais, entre eles, grandes homens (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci etc).
É uma grande injustiça e uma crueldade enxergar a homossexualidade como um crime. Se não acredita nisso, leia os livros de Havelok Ellis (1859-1939) [médico britânico estudioso da sexualidade humana].
Ao pedir minha ajuda subentende-se que eu poderia acabar com a homossexualidade e substituí-la pela heterossexualidade. A resposta, de maneira geral, é que não podemos prometer esse resultado.
Em alguns casos podemos desenvolver tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, mas na maioria dos casos, isso não é mais possível. Depende da idade do paciente. O resultado desse tratamento não pode ser garantido.
A análise pode beneficiar seu filho de uma outra forma. Se ele está infeliz, neurótico, envolto em conflitos, retraído na vida social, a análise pode lhe proporcionar harmonia, paz de espírito e completude, mesmo se ele continuar ou não um homossexual. Se a senhora se convencer disso -não espero que irá-, ele poderia vir a Viena fazer sessões de análise comigo. Não tenho previsão de sair da cidade. Mesmo assim, não deixe de me dar uma resposta.” (Folhapress)
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