Em entrevista concedida e publicada na última sexta-feira (30/08) à BBC News, o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol teve uma das mais longas conversas com um jornalista desde que os vazamentos do site The Intercept começaram a acontecer em série a partir de junho desde ano. Com quase três meses de matérias, Dallagnol sempre se posicionou por notas não reconhecendo a autenticidade das matérias e quando as reconhece, diz que estão colocadas fora do contexto, deslegitimizando todas as reportagens feitas em conjunto com o El País, Folha de São Paulo, Veja, Uol, Buzzfeed e o jornalista Reinaldo Azevedo.
À BBC, Dallagnol diz que é vítima de “maldade” e do “veneno” de pessoas que querem trazer descrédito à Operação. Por outro lado, reconheceu que o acervo que os veículos adquiriram a partir do The Intercept por meio de uma fonte não-revelada são verdadeiras. “A gente foi hackeado, eles têm mensagens verdadeiras. Eu não posso atestar que tudo lá seja verdade, mas existem coisas lá que a gente se lembra”.
Uma das maiores provas das lembranças das conversas por parte dos procuradores foi exposto esta semana. Na última terça-feira (27/08) o Uol publicou mais uma reportagem da série onde mostrava procuradores da Lava Jato ironizando a morte de Marisa Letícia, ex-esposa do presidente da República Luíz Inácio Lula da Silva.
Quando o procurador Júlio Noronha publica um link sobre a morte de Marisa Letícia, no dia 3 de fevereiro sua colega Jerusa Viecili comenta sarcasticamente: “Querem que eu fique pro enterro?”, encerrando com uma figurinha (‘emoticon’) em que o rosto estava sorrindo, deixando claro a ironia.
No mesmo dia, a procuradora da força tarefa foi ao Twitter pedir desculpas e assumir que errou: “Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, salientou.
Dallagnol no entanto, diz que há uma publicidade fora do contexto inserido. E lamenta por isso: “Existe aí um foco em tentar sempre mostrar aquilo que pode gerar uma polêmica”, explica.
Um dia antes da entrevista ser concedida à BBC, o site The Intercept publicava mais uma reportagem da série: “Dallagnol mentiu: Lava Jato vazou sim informações para a imprensa”. Naquela matéria, eles relembravam uma entrevista concedida à mesma BBC, dois anos antes, em que Dallagnol dizia “que agentes públicos não vazam informações — a brecha estaria no acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”.
As conversas publicadas na quinta-feira, mostravam o contrário. Inclusive, expõe que um desses vazamentos se tornou capa de uma edição do Estadão. O procurador Carlos Fernando Santos Lima chega a admitir que os seus vazamentos objetivavam sempre passar a impressão que a única alternativa para o investigado era aceitar a delação para abrandar sua pena. “Mas meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”, expunha com a expressão no plural, dando a entender que já havia utilizado a técnica outras vezes.
À BBC na última sexta-feira, Dallagnol diz que há uma deturpação nos conceitos de “vazamentos” e “furos” que o The Intercept pretende induzir o leitor a acreditar. Ele mantém a informação que concedeu dois anos atrás que a Lava Jato nunca realizou vazamentos e chama as insinuações de ‘ridículas’. “Hoje [se referia à data da publicação da matéria no The Intercept], em um jogo semântico, uma reportagem com base em supostas mensagens que a gente teria trocado quis dizer que a gente vaza informação e que eu teria mentido naquele momento. Mas aí eles mudam o significado de vazamento. Usam vazamento no significado de “furo”, de informação inédita, o que é ridículo porque quando você está conversando em uma entrevista como agora você pode fazer uma pergunta sobre algo que eu nunca falei para ninguém”, avisou.
Por fim, falou que as informações de que a Lava Jato ‘vazava’ informações são ‘levianas’. “As informações levianas que diziam que a Lava Jato trabalha com vazamento de informações: isso é balela, mentira, falso. A gente nunca vazou.”
Em outro ponto da entrevista disse que não dá para se ter por base as ironias feitas no grupo. No melhor estilo ‘fazem parte’, pois são suas ‘perspectivas individuais’ e não representavam a Força Tarefa. “Ainda que aquilo eventualmente tenha acontecido, isso são afirmações individuais, de pessoas determinadas, e quiseram colocar uma pecha dizendo assim “ah, a força-tarefa””, explica.
Ainda questiona tentando minimizar o humor aplicado em alguns comentários feitos no grupo. “Quantas vezes não estamos com a família e com as esposas e não falamos algo irresponsável? Uma bobagem? É injusto você usar uma régua que você usa para declarações públicas e colocar essa régua para uma conversa que você tem com a sua esposa. É injusto, em segundo lugar, você levar isso a público sabendo que o efeito disso é a vilanização das pessoas e isso fica muito claro quando você pega o conjunto das reportagens que trazem essa conotação”.
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