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Categorias: Política
| Em 12 anos atrás

ELEIÇÃO NA CAMARA/ Favorito, Clécio já se porta como presidente

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O vereador Clécio Alves (PMDB) é o favorito na disputa pela presidência da Câmara Municipal de Goiânia e já mostra isso nas atitudes internas com funcionários e colegas parlamentares. Ele conta com o aval de Iris Rezende (PMDB) e, consequentemente, do prefeito Pau­lo Garcia (PT), que já articulam nos bastidores o apoio necessário para que o peemedebista conquiste o posto.
A escolha está marcada para a tarde do dia primeiro de janeiro, logo após a posse do prefeito, vice e vereadores, no Centro de Cultura e Con­venções de Goiânia. Depois de empossados, o plano é que os novos 35 parlamentares realizem sessão especial na Câmara para a votação e escolha dos novos membros da Mesa Diretora da Casa.
As articulações para a eleição começaram antes mesmo da votação nas urnas do último dia sete de outubro, por vereadores como o próprio Clécio (que é líder do governo e vice-presidente da Câmara) e Paulo Borges, ambos do PMDB, que tinham como certas suas reeleições. Paulo hoje é carta praticamente fora do baralho, já que não alcançou apoio de colegas, principalmente por não gozar nem mesmo de suporte interno no partido.
Outros nomes lançados foram de Denício Trindade e Célia Valadão, também do PMDB. Denício se mantém na disputa, já que tem certa preferência de Paulo Garcia e do atual presidente da câmara, Iram Saraiva (PMDB). Como a principal indicação é de Iris, Denício está restrito à posição de segunda escolha. A possibilidade de Célia surgiu na aposta de que, nos últimos momentos de articulação, a escolha seja feita em favor de um parlamentar sem desgastes na casa. Ela própria afirma apenas que está à disposição do partido, mas não articula apoio para o pleito.
Já com garantias vindas da base de sustentação à prefeitura, Clécio Alves abordou, pela primeira vez, os parlamentares da oposição na Câmara para convencê-los da formação de um consenso em relação à escolha do próximo presidente. Até o fim das sessões ordinárias, ele e o prefeito haviam realizado apenas reuniões com os cerca de 22 vereadores da base.
O peemedebista conversou com Geovani Antônio (PSDB), Anselmo Pereira (PSDB), Elias Vaz (Psol) e Virmondes Cru­vinel (PSD), todos opositores reeleitos. Tentou, de forma enfática, convencer os colegas da necessidade de a escolha ser feita por meio de um acordo entre os dois grupos.
A Tribuna apurou que Paulo Garcia, inclusive, já articula a presença de indicações de PSL (que elegeu três vereadores) e PV (que elegeu dois) na prefeitura, em meio ao processo de reforma administrativa. A intenção é, basicamente, trocar uma ou outra secretaria extraordinária por votos a Clécio para a presidência.

Favoritismo
As condições favoráveis ao atual vice-presidente também se transformam em pontos negativos em alguns momentos, principalmente quando o aparente clima de “já ganhou” entra em cena. Nos bastidores, o que se houve de vereadores e servidores da Câmara é que Alves tem se portado como se já fosse o presidente da Casa.
O maior exemplo citado é o fato de ele acumular as funções de corregedor, vice-presidente e líder do prefeito. Os poderes e influência adquiridos com a soma de funções sobem à cabeça, segundo alguns parlamentares, como aconteceu em uma discussão pública entre Clécio e o vereador Maurício Beraldo (PSDB), no plenário da Câmara, no mês de novembro.
O tucano, assim como outros colegas de oposição, reclamou do fato de o peemedebista orientar o voto da base do prefeito ao mesmo tempo em que presidia a sessão. O próprio Clécio admite que cometeu erros durante sua trajetória no legislativo municipal e afirma que busca corrigi-los, principalmente os ocorridos com outros parlamentares.
“Estou muito tranquilo, com equilíbrio e aproveitando tudo aquilo que já vivi aqui, inclusive aquilo que eu fiz e que foi errado. (…) Uma das coisas importantes é saber ouvir. Olhar o companheiro e aceitar o que ele é. Jamais querer que ele seja do jeito que você quer”, afirma.
Até servidores da casa, que preferem não serem identificados, revelam que o vereador tem assumido postura arrogante a já dá “ordens rudes” aos funcionários.

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Desgastes
Um ponto negativo que pesa contra o pleito de Clécio Alves é o desgaste acumulado em vários acontecimentos nos últimos anos. Entre discussões com colegas, jornalistas e até brigas, a imagem do parlamentar saiu arranhada junto à parte da população e, principalmente, outros vereadores, que não têm certeza de que o perfil até certo ponto intempestivo dele será interessante para um presidente da Câmara.
O fato mais marcante foi a punição sofrida pelo peemedebista pelo fato de o filho dele ter causado um acidente usando veículo oficial do Le­gislativo fora do expediente. Os vereadores questionaram até a permanência dele no cargo de corregedor.
O acidente aconteceu no dia 2 de outubro de 2010, no cruzamento da Avenida T-63 com a C-104, no Jardim América, após o filho do vereador ter avançado o sinal vermelho. Dhan Marcell Deodato Machado, hoje com 24 anos, dirigia um Palio Fire, placa NKQ-9716, e voltava de uma festa com uma amiga.
Quando a imprensa noticiou o fato, o vereador disse que o filho não dirigia o veículo no momento do acidente. Clécio disse que estava em um evento da sua campanha a deputado estadual no Terminal Cruzeiro do Sul, em Aparecida de Goiânia, às 5h. De lá, Clécio iria para Caldas Novas e, por isso, pediu a seu motorista para levar Dhan e a amiga para casa. O vereador apresentou versão dizendo que cancelou os eventos eleitorais quando soube da colisão.
Ele negou que o carro era dirigido pelo seu filho mesmo após o boletim de ocorrência do acidente, liberado pelo Corpo dos Bombeiros, mostrar que Dhan Marcell estava ao volante. Dias depois, assumiu a responsabilidade do jovem e depositou R$ 25 mil à Câmara para ressarcir os danos causados. Por conta do acidente, o peemedebista foi punido com 15 dias de suspensão, pelo Conselho de Ética da Casa.

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ENTREVISTA – CLÉCIO ALVES (PMDB)

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“Que eu não venha a repetir o que fiz de errado”

Tribuna do Planalto – O sr. assume o favoritismo na disputa pela presidência da Câmara?
Clécio Alves – Eu sou favorito com o meu voto, com o meu pensamento e com a minha vontade. Eu sou o meu candidato, mas espero que eu consiga, com o diálogo, equilíbrio, serenidade e respeito, conquistar os votos dos demais vereadores. Se eu não puder ter um consenso e ter o voto de todos, espero alcançar o voto da maioria e ter a responsabilidade que eu venho perseguindo desde quando cheguei aqui, que é presidir o poder. Repito que com equilíbrio, desprendimento e espírito público. Sendo assim, ao final, no dia primeiro, eu espero que meu nome possa estar em condições melhores.

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Como o sr. analisa a experiência que tem na Câmara?
É… a gente vai aprendendo com a vida, com as situações. Aqui é um aprendizado diário. Eu estou tranquilo e aproveitando tudo aquilo que eu já vivi aqui. Aquilo que eu fiz que foi errado, que eu não venha a repetir, e o que eu fiz que deu certo, que eu procure melhorar. Mas com a humildade de saber que aqui é um corpo de 35 homens e mulheres e, para que eu venha ser o próximo presidente, eu tenho que conseguir a maioria desses votos.

Neste sentido de correção dos erros, o que pode ser melhorado, de forma pessoal, para o próximo mandato?
Uma das coisas importantes: ouvir. Saber ouvir. Olhar um companheiro e aceitar e enxergar ele da forma que ele é. Jamais você querer que o companheiro lá seja do jeito que você quer. Se ele tem defeitos, eu também tenho. Então, você tem que aceitar da forma que é e ouvir aquilo que ele pensa e mostrar a ele o que você está pensando, a forma que você pretende. Este é o meu mecanismo. Esta é a minha condição de articulação.

Qual a importância de Iris Rezende para sua trajetória política?
Para mim, o ex-vereador, ex-prefeito, ex-deputado, ex-governador, ex-ministro, ex-senador, Iris Rezende, é o meu espelho político. Sempre deixei isto bem claro e já tive momentos de tomar decisões sérias, por esta amizade, lealdade e admiração. Ter a confiança e o privilégio de conviver, relacionar e ter abertura de ouvi-lo a hora que precisar, já é um patrimônio que eu carrego com muita responsabilidade.

O sr. tem o apoio dele nesta eleição à presidência da Câmara?
Ele não me disse isto em momento nenhum. O momento agora é de muitos boatos. Então, falam de várias coisas, mas o que eu posso dizer é que ele está sabendo que eu iria buscar este projeto e que ele me deixou incentivado. Em momento algum, ele me disse ‘olha você é meu candidato’. Não. Ele sempre disse que eu devo lutar pelo que acredito. Isto desde a primeira vez em que conversei com ele e disse que meu sonho era ser político. É lógico que eu quero contar com o apoio e com a confiança do Iris e do Paulo Garcia, mas, mais do que isso, dos vereadores, porque quem vai eleger o presidente não é o Iris, são os vereadores.


 

Oposição: união para lançar um nome

Apesar da possibilidade de angariar ao menos 15 votos na eleição à mesa diretora da Câmara Municipal, as principais lideranças da oposição ao prefeito Paulo Garcia (PT) na Casa patinam em reuniões isoladas. A intenção, defendida por praticamente todos os opositores, é a de unir os atuais vereadores opositores e os próximos, que chegam ao poder sem posição definida.
Parlamentares como os tucanos Geovani Antônio e Anselmo Pereira chegaram a falar na possibilidade de angariar 20 ou 22 votos para um candidato alternativo à base, mas os constantes encontros realizados entre os atuais e os novos opositores estão longe de uma unidade. Os vereadores ainda acreditam na entrada do governador Marconi Perillo (PSDB) no processo, mas o tucano prefere, assim como fez com a candidatura de Jovair Arantes (PTB) à prefeitura, ficar mais afastado e sem influenciar diretamente na articulação.
A possível participação de Perillo depende da organização própria dos parlamentares. Geovani e Anselmo têm o claro desejo de candidatura, mas, também apontam Virmondes Cruvinel (PSD) como um bom nome, já que não tem desgastes entre os vereadores e foi o mais bem votado em 2012 (8.572 votos).
“Eu defendo que nós temos que apresentar uma candidatura própria, mesmo porque se formos olhar a composição da próxima legislatura, a maioria dos futuros vereadores têm relação e ligação com o governo do Estado. Se houver uma unidade por parte destes vereadores, nos temos condições de disputar com chances reais de vitória”, explica Geovani.
O tucano ainda garante que não se pensa, em momento algum, em fazer uma composição com os vereadores da base do prefeito. Geovani também confirma que Paulo Garcia articula para que um aliado seja o próximo presidente. “A ingerência tem sido feita nos bastidores. Prova disso é que ele não anunciou nenhum nome do novo secretariado esperando a eleição da mesa diretora pra que ele possa utilizar isto como barganha, no sentido de cooptar alguns votos para o candidato da sua preferência”, afirma.


 

(Com texto de Rubens Salomão, publicado no Tribuna do Planalto, edição 1.359, 23 a 29 de dezembro de 2012)

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Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: altairtavares@diariodegoias.com.br .