Eleitores vão às urnas na Irlanda do Norte e na Escócia nesta quinta (8) não só para eleger o próximo Parlamento britânico, mas também para enviar uma mensagem sobre seus desejos –ou a ausência deles– de independência.
O número de assentos conquistados por partidos nacionalistas pode fortalecer ou frustrar os movimentos separatistas que têm ganhado espaço nessas regiões. A Irlanda do Norte e a Escócia fazem parte do Reino Unido.
O “brexit”, nome dado à decisão de retirar o Reino Unido da União Europeia, selada em plebiscito há um ano, catalisou o processo.
A Irlanda do Norte havia vivido três décadas de confrontos pela independência e sua unificação com a vizinha Irlanda, encerradas com um acordo em 1998. Houve mais de 3.600 mortos no período.
Mas o cerne das negociações de paz é a liberdade de movimento entre as duas Irlandas, algo que o “brexit” atrapalha: ao deixar a UE, o Reino Unido precisará reestabelecer sua fronteira entre Irlanda do Norte e a Irlanda.
“Essa é a base da paz”, disse o analista Robin Pettitt. “Não sei como vão resolver isso, pois é incompatível. Não podemos fechar as fronteiras e mantê-las abertas ao mesmo tempo.”
Pettitt afirma que, por ora, a questão fronteiriça parece detalhe técnico. “Mas essa vai ser a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a UE.”
Nesse contexto, o resultado das eleições será essencial: quantas cadeiras terão o partido nacionalista Sinn Fein, que quer a independência, e o DUP, que prefere permanecer no Reino Unido.
A previsão é que o Sinn Fein tenha oito legisladores, contra os dez do DUP. Isso reduziria a diferença entre eles, hoje em quatro cadeiras, fortalecendo os nacionalistas. Há um total de 18 assentos para a Irlanda do Norte.
Nas eleições regionais de março, eleitores já demonstraram que o “brexit” transformou a política. O DUP perdeu sua maioria pela primeira vez desde 1921, com a diferença de votos reduzida de 36 mil para apenas 1.200.
“Há um ano, as pessoas não cogitariam voltar a pedir a união das Irlandas”, afirma Alex Kane, comentarista político do “Belfast Telegraph”. “Agora elas pensam nisso.”
“Esqueça o debate sobre economia, saúde, educação”, diz. “As eleições na Irlanda do Norte tratam de quando poderia haver um voto pela independência, sobre recriar as fronteiras.”
ESCÓCIA
O debate na Escócia não inclui as fronteiras, mas o governo local também concorda que o “brexit” alterou drasticamente o cenário.
A população escocesa votou contra deixar a UE, mas foi derrotada pela maioria britânica. Com isso em mente, a primeira ministra escocesa, Nicola Sturgeon, quer repetir o plebiscito separatista de 2014, em que o “não” recebeu 55% dos votos.
A prerrogativa de desafiar Londres e convocar a consulta, no entanto, vai depender de quantos assentos seu partido terá nestas eleições.
O SNP (Partido Nacionalista Escocês), de centro-esquerda, pode perder 15 cadeiras no Parlamento, indica projeção. A legenda tem hoje 54 das 59 reservadas à Escócia.
O resultado, se confirmado nesta quinta, será lido como a rejeição da política de Sturgeon. “Eles não poderão mais dizer que as pessoas querem outro referendo”, disse Pettitt.
Com esse cenário, é possível que Londres consiga forçar Edimburgo a esperar até as eleições escocesas de 2022 antes de convocar um referendo para a independência.
“Não estou otimista quanto a termos um segundo referendo”, afirmou Colin Fox, um líder do Partido Socialista Escocês que foi conselheiro da campanha pela independência em 2014.
Não há apoio suficiente da população, ele avalia, e uma consulta nos próximos anos seria outra vez rejeitada. “Seria um golpe fatal à nossa independência.”
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