Em ano de eleição é comum que diversos institutos especializados em pesquisa comecem a divulgar em veículos de comunicação as informações sobre dados coletados, como intenções de voto em candidatos. Isso por si só causa divisão de opiniões na internet e, neste ano, a polêmica da vez é que o pré-candidato à presidência Lula (PT) aparece como favorito e está à frente do atual presidente e também candidato Jair Bolsonaro (PL).
Na polêmica, tem sido comum que seguidores de Bolsonaro acusem as pesquisas de 2018 de errarem, gerando assim a ideia de que o candidato do PT à época, Fernando Haddad, estava na frente, e dando a entender que as apurações foram compradas ou feitas de forma errática. Ou seja, se “erraram” em 2018, vão errar este ano novamente.
Em abril deste ano, o próprio presidente Bolsonaro fez críticas às pesquisas eleitorais em Passo Fundo (RS), durante a entrega de obras de ampliação do aeroporto da cidade. Como ele aparece como segundo colocado, atrás de Lula ele disse: “Quem acreditar em pesquisa, acredita em Papai Noel também”, disse Bolsonaro, diante uma plateia de apoiadores. “Nenhuma pesquisa acertou em 2018 e não vai ser agora que vai acertar também”, afirmou. Mas isso não é verdade, já que a grande maioria das pesquisas mostravam a vitória de Bolsonaro tanto no primeiro, quanto no segundo turno naquele ano.
Especificamente entre os 4 principais levantamentos do País sobre o resultado no segundo turno em 2018, 3 acertaram o resultado dentro da margem de erro. Destas, o Datafolha foi o que trouxe a melhor previsão do cenário eleitoral, que mostrava a vitória de Jair Bolsonaro com 55% dos votos válidos em levantamento divulgado um dia antes do domingo de votação. O Ibope foi o segundo a chegar mais perto do resultado, divulgando a pesquisa também no sábado anterior ao dia no qual o presidente eleito apareceu com 54% dos votos.
Mesmo com proximidade entre pesquisa e resultado final, ainda em 2018, os próprios seguidores de Bolsonaro e membros de sua família criticaram as pesquisas dizendo que Bolsonaro ganharia com uma margem maior do que os institutos apontavam.
Das 4 principais pesquisas, a que passou mais longe do resultado foi a do instituto Paraná Pesquisas, contratado pela Revista Crusoé e pela consultoria Empiricus, que apontava vitória de Bolsonaro por 60,6% contra 39,4% contra o candidato do PT. Diferença de quase seis pontos percentuais do resultado.
vale lembrar, também, que 10 dias antes da eleição no segundo turno em 2018, uma pesquisa feita pelo instituto Vox Populi e contratada pela CUT, mostrou Bolsonaro com 53% dos votos válidos e Haddad com 47%, apenas 6 pontos de diferença. O único cenário em que Haddad vencia era no voto estimulado da região Nordeste, vencendo Bolsonaro por 57% a 27%. Nas demais regiões, o presidenciável do PSL liderava, alcançando 21 pontos percentuais de vantagem sobre o adversário nas regiões Sudeste e Sul. Em termos absolutos, Bolsonaro aparecia com 44% e Haddad com 39%.
Portanto, não é verdade que Haddad aparecia na frente de Bolsonaro em 2018, apesar de que, tanto nesse ano como em muitos outros de eleições presidenciais, a polarização no Brasil tem dividido cada vez mais o eleitorado. Lula X Alckmin em 2006 foi de 60% a 39%, em 2010 Dilma X Serra ficou entre 54% e 43%, em 2014 Dilma X Aécio terminou em 51% contra 48% e, em 2018 como mostrado acima, teve Haddad X Bolsonaro com 55% contra 44%.
Na última semana, a Datafolha mostrou Lula com 43% e Bolsonaro com 26% em uma pesquisa de intenção de votos para presidente no primeiro turno, a que acontece no dia 2 de outubro. A pesquisa tem margem de erro de 2% para mais ou para menos.
Já a última pesquisa do Ipec, fundado em fevereiro de 2021 por ex-executivos do Ibope, que encerrou suas atividades em janeiro por conta do fim de um acordo de licenciamento da marca após 79 anos, mostrou Lula com 45% das intenções de votos e, em segundo lugar, o presidente Jair Bolsonaro, com 32%.
Para o professor e cientista político, Luiz Signates, as pesquisas eleitorais sempre geram e sempre vão gerar controvérsia. “isso acontece por quê grande parte da disputa eleitoral é uma disputa de linguagem, uma disputa simbólica. As pessoas que disputam eleição precisam construir uma imagem que seja positiva para eles e, sobretudo, manter a própria militância em contínua atividade, por esta razão, quando são divulgadas as pesquisas, é comum que todos políticos que estejam disputando e estejam bem nos números, utilizam isso para manter seu seguidores animados, é algo fundamental. Então, por essa razão, os candidatos que estejam ‘perdendo’ na pesquisa eleitoral, vão ouvir da coordenação da campanha e promover junto a sua militância que a pesquisa é falsa, manipulada ou comprada”, explica.
O especialista reforça que este é um dos argumentos eleitorais mais utilizados nas campanhas. “É fácil de ser entendido: se você está perdendo nas pesquisas, como você animará a militância a continuar na campanha mesmo com tanto esforço. Esse é o dilema enfrentado pelo atual presidente, Jair Bolsonaro, que é um candidato pesado, pois tem alto nível de rejeição, mas que voltou a crescer um pouco após a desistência do ex-juiz Sergio Moro, além de que o antipetismo ainda é muito forte”.
Para finalizar, Signates lembra que é possível que pesquisas errem, e que este tema já foi protagonista de muitos embates tanto pela população quanto por autoridades do poder Legislativo e Judiciário, mas que são ferramentas que acabam servido de baliza para eleitores e para apoiadores, financiadores de campanhas e os próprios político. “Hoje não há como fazer uma disputa eleitoral sem ser informado por pesquisas, quantitativas e qualitativa, que analisam imagem, rejeição. Isso é útil para posicionamentos e para que políticos argumentem com seu eleitor”.