O diretor italiano radicado no Brasil Andrea Tonacci morreu na tarde desta sexta (16), em São Paulo. Ele tinha 72 anos e lutava contra um câncer de pâncreas.
Tonacci era um dos expoentes do chamado cinema marginal, geração de diretores que despontou na virada dos anos 1960 para os anos 1970 sob a censura da ditadura militar e como reação ao intelectualismo extremo do cinema novo.São dessa época, por exemplo, um de seus longas mais famosos, “Bang Bang” (1970), também conhecido pelas cenas em que o ator Paulo Cesar Pereio traja uma máscara de macaco. No filme, o ator interpreta um sujeito delirante que foge de tipos excêntricos.
Rodada em Belo Horizonte, a obra insólita pode ser interpretada como alegoria à falta de saídas diante do recrudescimento da ditadura. O filme foi exibido no Festival de Cannes.
Outra de suas obras que cutucam a ditadura é o curta “Bla Bla Bla”, de 1968. Nele, o ator Paulo Gracindo faz um ditador demagógico -o filme satiriza o discurso travestido de humanismo que saía da boca dos governantes militares da época.
Dono de uma produção bissexta, Tonacci fez um de seus filmes mais conhecidos em 2006, o premiado documentário “Serras da Desordem”, sobre um índio que sobrevive ao massacre de sua tribo e vai parar em Brasília.
“Ele fez alguns dos filmes mais belos do cinema brasileiro, além de ter tido um desenvolvimento como ser humano que chegou ao sublime”, diz a atriz e diretora Helena Ignez. “Tínhamos uma amizade de quatro décadas. Ele está além de críticas. Quem o conheceu sabe de sua luz extraordinária.”
O diretor foi homenageado no começo deste ano pelos 50 anos de carreira no Festival de Tiradentes, que exibiu uma retrospectiva de seus filmes e abriu com “Serras da Desordem”, que havia estreado justamente nessa mostra dez anos antes.
Na ocasião, ele contou que tinha pavor da página em branco e de colocar as suas ideias no papel, na forma de roteiro, e comparou o ato de fazer cinema com o xamanismo.
“Porque você não está fazendo para o mal do mundo”, explicou. “Você está querendo para um equilíbrio do mundo. Uma percepção, uma compreensão. E ela não é sua, porque é um ritual público.”
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