Por Lênia Soares
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A sessão ordinária da Assembleia Legislativa de Goiás foi aberta, na terça-feira 7, exatamente às 15 horas. Com 21 presenças registradas, a pauta da semana anterior foi lida em oito minutos e, dois minutos depois, o deputado Marcos Martins (PSDB) apresentou um requerimento para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de apurar as denúncias de espionagem ilegal, reportada pela CartaCapital há duas semanas.
A agilidade causou espanto e desconforto entre os oposicionistas, que ensaiaram mais de uma semana – desde a divulgação do esquema de grampos – a apresentação de requerimento similar. “É inadmissível o que aconteceu aqui. Isso prova um grande amadorismo por parte dos deputados da oposição. Três sessões se passaram e ficamos no campo da discussão. Agora, perderemos o total controle das investigações e o governo vai ganhar mais um palanque para defesa do indefensável”, reclamou o deputado Luís Cesar Bueno (PT).
O autor do pedido não escondeu a ironia e foi claro em seus objetivos. “Não tenho culpa do cochilo da oposição. Fui mais rápido (risos). O próximo passo é focar no que temos de concreto. Não vamos perder tempo com investigações sem fundamento. Até agora, nada do que foi apresentado serve como provas, e falo com o embasamento do meu curso de Direito”, afirmou Marcos Martins, que já dirigiu a Polícia Civil do Estado.
O peemedebista Paulo Cezar Martins insistiu na apresentação do documento para instauração da Comissão, elaborado pela bancada de oposição. Os dois requerimentos têm as 15 assinaturas necessárias para a criação da CPI. Como o regulamento da Casa não permite a vigência de duas comissões com o mesmo objeto investigativo, os pedidos serão apensados e a indicação dos membros obedecerá a regra de proporcionalidade.
“A presidência e a relatoria, provavelmente, ficarão com a base. De qualquer forma, não perderemos nosso foco, que é esclarecer essas denúncias, que são muito sérias. Os fatos estão aí, não há como negar. O que não podemos é deixar de utilizar este recurso por não sermos a maioria. A democracia não é unânime, precisamos do contraditório, mesmo que em menor número”, acrescentou o deputado Mauro Rubem (PT).
A expectativa do presidente da Casa, deputado Helder Valin (PSDB), é que a composição da CPI dos Grampos, como os próprios intitularam, seja concluída até quinta-feira 9, para que os trabalhos possam se iniciar na próxima semana. “Temos interesse de dar celeridade a este processo”, disse, objetivamente, o presidente.
Para o líder do governo, deputado Fábio Sousa (PSDB), a criação da Comissão não é prejudicial ao governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB). “Eu mesmo fui citado na reportagem como um dos espionados. Queremos que os fatos sejam esclarecidos. O governador não tem com o que se preocupar”, disse.
Fábio é filho do apóstolo César Augusto, da Igreja Fonte da Vida, proprietária da Fonte TV, de onde os principais protagonistas da espionagem, Luiz Gama e Eni Aquino, foram demitidos no rastro das denúncias. O fato foi visto como um julgamento informal do casal.
O deputado Túlio Isac (PSDB) utilizou seu tempo na tribuna para criticar a revista CartaCapital. “Até a capa deles é vermelha. Cor do PT. Tudo que dizem é mentira”, argumentou.
A estratégia de Túlio Isac, de desqualificação da reportagem, foi a mesma empregada por toda a estrutura de comunicação do governo do Estado. Independente da conclusão, é a segunda CPI em Goiás consequente das denúncias feitas pelo jornalista Leandro Fortes. A primeira foi a CPI da Delta.
Um dos receios do deputado Luís Cesar Bueno é de que o radialista Luiz Gama saia vitorioso deste processo. “Vão tentar inocentá-lo. Ele vai virar o centro das atenções, quando não passa de um assessor desastrado do governador. Temos é que pensar nos assuntos mais sérios envolvendo o governador Marconi Perillo.”
A sessão foi encerrada às 18h10. Ironicamente, com oposicionistas em conflito e situacionistas em festa. De fato, mais uma vitória do governo no Legislativo. Outro fato é o desgaste que acaba de ganhar na Casa um espaço mínimo de três meses. São 90 dias com um novo escândalo envolvendo o governo em foco. No melhor dos mundos, não é algo para o governador comemorar.
Expressão do dia: o pedido de um minuto de silêncio pela morte da menina Kerolly Alves Lopes, baleada em Aparecida de Goiânia durante uma tentativa de proteger o pai em uma briga. Recentemente, 32 moradores de ruas foram assassinados na Capital. Nenhum foi lembrado pelos parlamentares. No fundo, todos mereciam a homenagem, mas na Assembleia Legislativa de Goiás, dois pesos chegam a ter cinco medidas. Foram 33 vidas perdidas. Igualmente vidas. Igualmente perdidas. Nem silêncio, nem barulho de protesto.
Talvez fosse o caso do pedido de um minuto de silêncio pela morte da oposição no Legislativo. Terminaram em luto.