O programa Cidade Segura, desenvolvido pela Prefeitura de Goiânia em parceria com as empresas de comunicação, com o Ministério Público de Goiás (MPGO) e com a Equatorial Goiás, que teve início em agosto de 2023, prometia a retirada dos fios em desuso da capital, que provocam, além de poluição visual, riscos à população que transita pelas ruas. A questão é que o programa, suspenso durante a época de chuvas, segue a passos lentos diante da quantidade de fios excedentes na cidade.
O especialista em telecomunicações, professor titular da Escola de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Goiás (UFG), Leonardo Guerra de Rezende Guedes, afirma que a responsabilidade dos fios não é somente da Prefeitura e que falta uma legislação que regulamente o uso por parte das empresas de telefonia. “Os postes são de propriedade das concessionárias, servidoras de energia. Elas têm autonomia. Nos seus regulamentos internos determinam como deve proceder toda a operação desses postes que são alugados para as suas empresas de telefonia. Então, não existe uma lei de instalação nem da ANEEL, nem da ANATEL, sobre como deve ser feito. Existe a permissão para que seja alugado”, explica o professor.
De acordo com Leonardo, o problema chegou a esta situação agravado durante anos, sendo repassado de companhia em companhia para três concessionárias de energia diferentes: Celg, Enel e agora, Equatorial. “As empresas herdaram contratos antigos, de uma época onde não tinha essa preocupação porque a fiação não era nem tanta, nem era de risco, nem era necessária”, ressaltou.
A questão é que anos de fios em desuso acumulados já geram transtornos à população. Entre os principais riscos dos fios dependurados pelas ruas da cidade, o professor destaca alguns. “Um é o risco mecânico de um fio solto se enganchar em um veículo ou mesmo em uma pessoa em trânsito com moto ou mesmo andando na rua e isso gerar um ferimento na pessoa. Um outro risco é esses fios terem contato com a rede energizada e eles também passarem a conduzir uma corrente elétrica numa potência suficiente para um plano maior, seja a pessoa, seja também a um equipamento ou uma residência”, elabora Leonardo.
De acordo com ele, a maioria dos fios excedentes em desuso são provenientes das telecomunicações: internet, telefonia e TV à cabo. Com a evolução da tecnologia, essa quantidade de fios foi deixando de ser necessária, sendo substituída pela fibra óptica, que concentra milhares de fios em uma só rede.
Segundo o professor, a iniciativa da Prefeitura no programa Cidade Segura é sim eficaz, mas vai demandar tempo e disposição, visto que são dezenas de toneladas de fios excedentes. A melhor alternativa para resolver a questão seria a implantação de fios subterrâneos.
A fibra ótica é uma tendência, a própria transmissão sem fim é outra tendência, mas tecnicamente é desejável que todos os fios, inclusive de energia elétrica, sejam enterrados, passem por galerias, passem por baixo da terra. Isso traria várias vantagens, inclusive dessas vantagens, por exemplo, a diminuição da poluição visual. Outra vantagem, a diminuição da queda dos serviços, seja de telecomunicações, seja de energia, quando acontece os períodos de chuva.
Leonardo Guedes, especialista em telecomunicações
Conforme a Prefeitura de Goiânia, desde o início das operações, em agosto de 2023, foram mais de 73 toneladas de fios em desuso retirados. O projeto piloto, realizado nos setores Jardim Europa, Jardim Planalto, Vila União e Vila Mutirão I e II, e a primeira etapa, no Setor Sul, já foram concluídos.
Atualmente, os serviços que estavam suspensos devido às constantes chuvas na capital, já estão sendo retomados. Segundo a administração pública, a execução do projeto requer tempo, já que o trabalho é feito detalhadamente e com toda a segurança necessária aos trabalhadores das empresas.
No momento, está sendo executada a segunda etapa, em andamento no Setor Central.Em seguida, a previsão é de que seja contemplado o bairro de Campinas. Ainda não há confirmação do calendário dos próximos bairros.Todos os fios soltos são armazenados pela Comurg e distribuídos igualmente entre cooperativas de catadores de recicláveis já cadastradas.