O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), manifestou dura oposição ao decreto publicado na terça-feira (24) pelo governo federal, que estabelece novas regras para o uso da força por policiais. Em suas redes sociais, Caiado classificou o texto como um “presente de Natal para o crime organizado”. “Um decreto que lhes garante mais liberdade de ação e promove o engessamento das forças policiais. É o modelo PT-venezuelano, que parece querer incendiar o país”, afirmou o governador.
O decreto, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, regulamenta o uso de armas de fogo e a força policial em situações específicas. “A força letal não pode ser a primeira reação das polícias (…) Só podemos usar a força letal em última instância. É preciso que a abordagem policial se dê sem qualquer discriminação contra o cidadão brasileiro”, disse Lewandowski, defendendo a necessidade de padronizar as ações de segurança no país.
O problema é que essa padronização veio junto com condições impostas aos estados para o recebimento de recursos federais, causando insatisfação de governadores. Confira nos tópicos adiante as principais mudanças impostas pelo decreto.
Além de Caiado, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também criticou o decreto, como informou a CNN Brasil. Rocha afirmou que as diretrizes estabelecidas pelo governo são inconstitucionais. Para ele, o decreto fere artigo 144 da Constituição Federal, que define quais são as corporações que integram as forças de segurança no Brasil.
“Interferência total. Uma pena que o governo federal, ou melhor, o presidente Lula não saiba seu espaço. Quem faz segurança pública são os estados”, disse.
Tanto Caiado quanto Ibaneis têm críticas à proposta de emenda à Constituição (PEC) do governo federal que aumenta a atuação da União na área de segurança pública. A PEC, segundo Lewandoski deve ser enviada em breve para o Congresso Nacional, mas o goiano tem feito gestões para garantir a autonomia estadual que ele vê sob ameaça com as medidas.
Uso de armas de fogo
Uso da força
Capacitação obrigatória
Condicionamento de repasses federais
O governador Ronaldo Caiado também apontou que a medida caracteriza uma “chantagem explícita contra os estados”. Também para ele, o decreto representa uma ingerência federal sobre a gestão da segurança pública estadual.
“O texto evidencia que a cartilha do governo Lula para a segurança pública foca apenas em crimes de menor potencial ofensivo, comprometendo o combate efetivo à criminalidade organizada” – Caiado
Do lado oposto, o governo federal tem defendido que as novas diretrizes visam promover uma atuação policial mais transparente e compatível com os princípios dos direitos humanos. Segundo o ministro Lewandowski, as medidas buscam padronizar os protocolos em todo o país, prevenindo abusos e assegurando maior responsabilidade nas abordagens policiais.
“É uma agenda de modernização que dialoga com as melhores práticas internacionais em segurança pública” – Lewandowski
A discussão em torno do decreto ocorre em meio a recentes episódios de violência policial em São Paulo, onde 45 agentes, entre civis e militares, foram afastados e dois presos por suspeita de abusos. Para Lewandowski, os casos reforçam a urgência de regulamentar o uso da força. “Esses episódios não podem mais se repetir. Precisamos de regras claras para proteger tanto os cidadãos quanto os policiais”, afirmou.
As novas normas devem entrar em vigor gradualmente, com o Ministério da Justiça publicando detalhes adicionais sobre a implementação nos próximos 90 dias.