Numa banda marcada pelas raízes africanas e por uma forte percussão, a estreia de uma cantora branca e de fora da Bahia causou estranhamento entre fãs da Timbalada, um dos principais grupos de axé do país.
A nova cantora, Millane Hora, foi recebida sob vaias no primeiro ensaio de verão da banda neste domingo (4) no Museu du Ritmo, em Salvador.
Revelada no reality show “The Voice Brasil”, da TV Globo, Millane é alagoana e não tem uma trajetória no axé. Canta há 18 anos e tem um disco solo com sonoridade pop e romântica.
Ela dividirá os vocais da banda com o cantor Denny, que comandava sozinho desde 2007 a banda criada por Carlinhos Brown e conhecida por músicas como “Mimar Você” e “Beija-flor”.
Nas redes sociais, parte dos fãs da banda criticaram a nova cantora por ser branca, loira e não ser da Bahia. Foi alvo de ofensas, sendo chamada de “branquela” e “branca azeda”.
Millane minimizou o incidente das vaias no show e diz que a atitude partiu de um grupo específico do público ‘timbaleiro’, que refuta novidades. Mas lamentou as críticas de fãs da banda nas redes sociais sobre sua cor de pele e Estado de origem.
‘Não fazem sentido nenhum [as críticas]. Não fiz nada de errado. Pelo contrário, estou cumprindo a função para qual fui contratada com todo o respeito pela banda e por seus fãs’, afirmou a cantora.
Segundo ela, as críticas ganharam uma proporção muito maior na internet e ainda deram origem a boatos, como o que ela teria saído do palco chorando sem completar o show.
‘Cumpri todo o roteiro previsto para o show de estreia. Estava feliz da hora que entrei até o momento em que deixei o palco’, disse a cantora, que participou de apenas uma parte do show.
Fundada nos anos 1990 no Candeal, comunidade pobre de Salvador encravado entre bairros de classe média alta, a Timbalada faz um dos ensaios mais disputados do verão baiano. Em sua trajetória, já teve vocalistas brancos, como Amanda Santiago, e de fora da Bahia como a carioca Juju Gomes e o japonês Akira Takakura.
“DEVOLVAM MINHA TIMBALADA”
Na internet, os fãs da banda organizam um boicote aos ensaios e criaram a campanha ‘devolvam minha Timbalada’, na qual criticam a ‘descaracterização’ da banda.
A maioria nega que o problema seja a origem ou a cor de pele cantora, mas por uma suposta falta de sintonia de Millane com a banda. Também há críticas aos preços cobrados pelo show, cujos ingressos foram vendidos por até R$ 200.
Millane diz que, ao contrário das ofensas, as críticas serão sempre bem-vindas e que as ouvirá ‘com respeito’. Diz que o ‘tempo vai ajudar’ na sintonia com a banda e com o universo da Timbalada. ‘Estou feliz, realizada profissionalmente e todas as minhas respostas serão dadas no palco. Estou aqui para servir ao público de forma respeitosa’, diz.
(FOLHA PRESS)
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