“Do ponto de vista político, a condenação de Lula é o golpe mais sério sofrido pelo PT ao longo de sua história. A figura do Lula era apresentada pela direção do partido como intocável.”
A avaliação é do cientista Francisco Weffort, fundador do PT e secretário-geral do partido entre 1984 e 1988. Ele deixou a sigla e foi ministro da Cultura do tucano Fernando Henrique Cardoso de 1995 a 2002. Hoje, não tem ligações com siglas.
Nesta quarta (12), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).
A sentença do juiz Sergio Moro é a primeira contra o petista no âmbito da Lava Jato.
“O espírito do partido que nós pretendíamos criar nos anos 80 é hoje completamente outro”, afirma Weffort.
“O PT precisa fazer uma autocrítica muito severa. Só assim pode haver uma renovação da esquerda brasileira”, complementa.
De acordo com Marcus Melo, professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco, a condenação de Lula representa a culminância de uma linha histórica de desgaste do PT, cujo início foi o escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005.
“Em termos de impacto, a decisão do Moro é comparável aos fatos revelados na época do mensalão. Mas do ponto de vista histórico, a condenação do Lula nesta quarta (12) tem mais relevância”, avalia Melo.
Para o professor, a condenação demonstra “um avanço do Estado de Direito”. Mostra que “ninguém está acima da lei”, diz Melo.
2018
O ex-presidente poderá recorrer da decisão de Moro em liberdade ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre.
Se a confirmação da sentença na segunda instância não acontecer antes da eleição de outubro de 2018, ele não será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e poderá ser candidato.
Caso Lula participe do pleito do ano que vem, dificilmente será eleito, afirma Marcus Melo.
Segundo o professor, o PT tende a adotar uma “estratégia de vitimização” para unificar o que ele chama de “núcleo duro”, que são os setores tradicionalmente mais leais ao partido, como sindicatos e movimentos sociais.
“Mas essa narrativa [a vitimização] não será capaz de convencer os ‘swing voters’, que são os eleitores mais voláteis, sem uma identidade programática com o PT”, afirma Melo.
Para ele, o partido não vence eleições majoritárias sem o apoio dessa fatia do eleitorado.
Weffort faz avaliação semelhante. De acordo com ele, é muito improvável que Lula saia vitorioso nas eleições de 2018 caso possa concorrer.
“Adhemar de Barros [governador de São Paulo em dois mandatos, entre os anos 1940 e 1960] também tinha uma reputação sacrificada e ainda assim sempre recebeu muitos votos”, diz Weffort.
“Não é impossível, portanto, que Lula seja bem votado em 2018, mas não acredito que ganhe. A reputação dele foi muito prejudicada.”
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