07 de agosto de 2024
Cidades

Como ‘descascar o abacaxi’ do transporte coletivo? Caiado diz que irá se reunir com prefeitos eleitos

Terminal Recanto do Bosque segue vazio; Caiado pretende conversar com prefeitos eleitos para buscar uma solução
Terminal Recanto do Bosque segue vazio; Caiado pretende conversar com prefeitos eleitos para buscar uma solução

O transporte coletivo em Goiânia parou neste sábado (19/12) e deve seguir paralisado neste domingo (20/12). A situação chegou a um verdadeiro caos e o prefeito Iris Rezende (MDB) reconheceu que o sistema está ‘deteriorado’. “Eu, prefeito e o governador Ronaldo Caiado [estamos] com esse abacaxi na mão. Mas temos que buscar uma solução porque o transporte urbano é importante e imprescindível”. Caiado destacou que pretende se reunir com os prefeitos eleitos quando forem empossados numa tentativa de alcançar soluções. 

As declarações foram dadas em coletiva à imprensa na manhã deste sábado (19/12) após a inauguração de uma ponte na Avenida dos Alpes. Questionados pelo Diário de Goiás sobre a situação do transporte coletivo que chegou ao colapso, prefeito e governador, responsabilizaram as gestões passadas e acusam-nas de fazer ‘populismo’ em torno da pauta. Eles evitaram citar os nomes dos que possivelmente seriam os responsáveis pela situação desastrosa.

“Todos nós temos que ter uma saída a uma situação e ela realmente mostra mais uma vez com a experiência que o Iris tem o quanto que as medidas populistas levam as consequências e sequelas gravíssimas. Isso é que a sociedade tem que enxergar hoje. Naquela época para fazer um enfrentamento político ao prefeito, aí criou-se uma expansão sem poder buscar fonte orçamentária para arcar com todo esse transporte, fez aquilo que foi o mais populista do mundo. Estava a campanha pela frente, colocou o preço da passagem com o número de sua campanha”, pontuou o governador Ronaldo Caiado.

Questionado sobre o que se pode fazer, Caiado disse que irá sentar com os empresários e prefeitos eleitos, no intuito de encontrar uma solução. “Em primeiro lugar sentar com todos. Não existe uma decisão única. Tem que ser uma decisão transparente. Os empresários tiveram comigo, vou receber outros tantos, vamos convocar os novos prefeitos que são eleitos a partir do dia 1º de janeiro. Não se pode cobrar o prefeito Iris Rezende e que estão encerrando o seu mandato e querer colocar em xeque uma situação que foi deteriorada e causado esse problema todo por ele.”

Abacaxi para ser descascado: ‘gestão anterior desorganizou e anarquizou o transporte’

“É possivelmente a questão mais complexa de Goiânia é o transporte urbano que num determinado momento o governo anterior convocou os prefeitos da Região Metropolitana e eu era prefeito de Goiânia e constituiu esse sistema e Goiânia ficou isolada, é o resultado que nós estamos vendo hoje. Um sistema deteriorado justamente porque mudou tudo, excluindo Goiânia, com objetivo de fazer política aqui com os prefeitos da Região Metropolitana”, contextualizou Iris Rezende.

O prefeito foi além e disse que a gestão anterior anarquizou o transporte. ‘O abacaxi está para ser descascado’. “Hoje, está aí esse problema. O Governo Estadual tomou essa atitude, desorganizou, anarquizou e hoje somos nós, eu prefeito e o governador Ronaldo Caiado com esse abacaxi na mão. Mas temos que buscar uma solução porque o transporte urbano é importante e imprescindível para a população de nossa capital”

O que as empresas dizem?

O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo da Região Metropolitana de Goiânia (SET) já havia alertado que a situação estava caótica e beirava o colapso. Eles haviam comunicado à gravidade tanto a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e a Prefeitura de Goiânia para vislumbrar uma solução.

Em entrevista ao Diário de Goiás no sábado passado (12/12) o presidente do SET, Adriano de Oliveira, fez um resumo do cenário catastrófico que as empresas viam adiante. “As empresas ao longo desses nove meses mantendo um serviço que não parou nenhum um dia, mas nós temos sim, uma preocupação com tudo neste momento. Uma coisa era quando esse prejuízo operacional era de 20, 30 milhões e a gente buscava recursos no sistema financeiro para continuar operando. Hoje, esse valor já vai superar 70 milhões e o próprio crédito das empresas está ameaçado”, explicou Oliveira. Algumas empresas sequer conseguiram fechar a folha salarial de novembro e o décimo terceiro dos funcionários está comprometido.

Solução

As concessionárias estão trabalhando para que o serviço retome sua normalidade até segunda-feira. E afirma continuar na busca por uma solução para a crise instalada que, neste momento, a saída vislumbrada poderia ser o cumprimento, pelos municípios, do Plano Emergencial formulado pelo Estado de Goiás, que, inclusive, foi homologado parcialmente no processo judicial promovido pelo Ministério Público visando assegurar a manutenção da prestação do serviço de transporte público.

Adriano entende que se em especial as Prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia, entre as demais da Região Metropolitana aderissem ao Plano Emergencial proposto por uma Ação Cívil Pública do Ministério Público, possibilitaria um respiro temporário para a operação de transporte público. 

Adriano lembra que o serviço de transporte é público e o poder público deve dar a devida atenção. “Do mesmo jeito que estamos alertando estamos apontando a solução. Ao fazer o alerta, também não adianta apontar uma solução e a solução que a gente entende é que as prefeituras especialmente em Goiânia e Aparecida possam fazer adesão ao plano emergencial lembrando que esse plano emergencial foi proposto pelo Ministério Público por meio de uma Ação Cívil Pública do MP. O estado compareceu assumindo sua responsabilidade como um dos entes que compõem a região metropolitana de Goiânia e apresentou um plano e nesse plano a proposta do Estado é que haja uma recomposição do prejuízo operacional”, explicou.

O que os motoristas dizem?

O Sindicoletivo alega que não tem influência nessa paralisação e que as empresas estão tentando atribuir à categoria a responsabilidade pela interrupção no serviço.

“Os motoristas estão parados porque as empresas não deixaram eles [motoristas] trabalhar. Não tem nada a ver com o trabalhador, não. Pegaram meia dúzia de testas de ferro só para falar que representavam os motoristas, mas é uma paralisação das empresas, não tem nada a ver com o Sindicoletivo. O Sindicoletivo é contra essa paralisação porque já temos um acordo na Justiça, queira sim ou queira não eles vão ter que cumprir isso”, explica em entrevista ao Diário de Goiás, o presidente do Sindicoletivo, Sérgio Reis.

Sérgio se refere ao acordo coletivo que foi decidido no começo de novembro e que suplantou qualquer possibilidade greve no transporte. Na época, as empresas concordaram em conceder um reajuste salarial a partir de 2021 no percentual de 3,75% e concessão de reposição de 5% no valor do ticket alimentação.

Reis no entanto, pondera que a paralisação é uma forma que as empresas encontraram de protestar contra o veto do presidente Jair Bolsonaro em não conceder socorro financeiro às empresas. “Essa questão do subsídio [financeiro do governo], eles têm que trabalhar em cima disso. O trabalhador tem que estar pronto ao seu trabalho. Tanto que as garagens estão cheias, não deixaram ninguém trabalhar, eles mesmos tiraram as chaves e não deixaram ninguém trabalhar.”


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