Com o prazo de negociações para o ‘brexit’ chegando ao fim, as companhias que atuam no mercado europeu já começam a se preparar para o fim da livre circulação comercial entre Reino Unido e União Europeia.
As partes têm até março de 2019 para definir quais serão as novas regras. Depois disso, ainda deverá haver um período de transição até o fim de 2020 para que elas passem a valer.
Mesmo com esse prazo, um novo desenho logístico para as importações e exportações na região já começa a ser estudado pelas empresas.
Na Holanda, os projetos em estudo envolvendo companhias instaladas no Reino Unido cresceram 80% no ano passado, segundo Stan de Caluwe, gerente de logística da Nederland Distributieland, órgão do governo responsável por assessorar a entrada de empresas no país.
Neste ano, há também um aumento das consultas dessas empresas, que passaram a avaliar a transferência de sua operação a outros países, diz ele.
“Alguns negócios têm seus centros de distribuição no Reino Unido, com contratos vencendo em breve, e terão que decidir se vão mantê-los dessa forma, ou trazer a operação ao continente. Há também empresas americanas, que historicamente escolheram o Reino Unido para entrar no mercado europeu, e agora estão revendo sua cadeia logística.”
O número de contratos fechados, porém, ainda é baixo, devido à indefinição sobre os termos finais do acordo.
Além da Holanda, a Bélgica e a Alemanha também têm sido alvos dessas companhias em busca de uma nova referência logística na Europa, afirma.
O ‘brexit’ também deverá trazer mudanças na inspeção sanitária da região.
No porto de Roterdã, uma das principais portas de entrada de produtos na Europa, o governo holandês prevê um aumento das cargas que terão que ser avaliadas após o rompimento, afirma Patrick van Dijk, diretor da agência holandesa de segurança alimentar.
Hoje, os armazéns refrigerados do porto, onde as carnes são inspecionadas, já operam com toda sua capacidade.
Um deles, operado pela Agro Merchants Group desde o fim de 2016, ocupou em um ano seus 18 mil m2 de espaço e planeja dobrar de tamanho no ano que vem.
Lá, as cargas de carnes congeladas vindas de todo o mundo entram por um portão e são avaliadas por uma equipe de veterinários.
Dentro de uma sala branca, asséptica, munida de mesas de metal e uma espécie de microondas, uma amostra aleatória de peitos de frango recém-chegados da China passou pela avaliação -processo que se repete das 7h às 23h, cinco dias por semana.
Uma dupla de inspetores mede a temperatura da carne e, após descongelar alguns pedaços, faz o chamado teste físico, que consiste em despedaçar o frango e levá-lo nariz (ou mesmo provar um pedaço) para decidir se o produto pode ou não circular livremente pela Europa.
O governo pretende quase dobrar a equipe de 23 veterinários que faz o trabalho no local, devido à expectativa de aumento de demanda, afirma van Dijk.
Segundo ele, ainda há desafios sem uma solução. Por exemplo, o porto ainda não tem estrutura para fazer a inspeção sanitária dos animais vivos (como cavalos e ovelhas) vindos do Reino Unido, que hoje entram livremente no continente, mas que que precisarão de inspeção após o ‘brexit’.
“O governo não monta esse tipo de estrutura, e sim as companhias privadas. Ainda estamos avaliando o que pode ser feito”, diz ele.
No entanto, o que pode soar como uma oportunidade de negócios com o rompimento das relações, não é vista de forma tão otimista.
O saldo tende a ser negativo, afirma Jeroen Nijland, comissionário da NFIA (sigla em inglês para Agência Holandesa de Investimentos Estrangeiros).
A Holanda mantém fortes relações comerciais com países como a Irlanda e tem sido politicamente uma aliada do Reino Unido nas votação da União Europeia. Essas perdas, diz ele, não serão compensadas pela possível migração de negócios ao país.
*A repórter Taís Hirata viajou a convite da NFIA (Netherlands Foreign Investment Agency)
(Folhapress)
Leia mais sobre: Brexit / Europa / Exportação / Reino Unido / União Europeia / Mundo