Alguém sugeriu outro dia em uma conversa que, para o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) sair vencedor na eleição para prefeito de Goiânia era só apoiar o deputado federal Gustavo Gayer (PL). Caiado realizaria um feito histórico – Marconi Perillo (PSDB), quatro vezes governador, não elegeu nenhum – e ainda faria média com o bolsonarismo para seu projeto de candidatura à Presidência da República.
E como seria Gayer prefeito?, perguntei na roda. Cada um tem uma teoria, nenhuma positiva para a cidade e para Gayer. Vejo um outro ponto fora da curva na questão: ganhando a Capital, em 2026 o bolsonarismo ia querer mais, o Estado. O candidato a candidato hoje do bolsonarismo ao governo é o senador Wilder Morais (PL). Seria ele, então, o candidato do prefeito Gayer e, quem sabe, do já provavelmente na época ex-governador Caiado, que já avisou que sai, em abril de 2026, para o seu vice, Daniel Vilela (MDB), assumir.
Presidente do MDB, portanto, ver Caiado apoiar Gayer seria o pior dos mundos. Ou ele teria que resignar-se e confiar no seu taco com uma possível reeleição ao governo sem apoio direto de Caiado, ou lançaria um nome do MDB logo em 2024. Ou poderia fechar questão com Bruno Peixoto, que já foi do MDB e hoje está estrategicamente no UB do governador. E na presidência da Assembleia. Pensar Daniel e Caiado em palanques diferentes é dar corda a uma onda teorias da conspiração. Ruim para os dois. Logo, Caiado e Daniel perdem e Gayer e Wilder ganha nessa patranha.
Mas política é a arte do impossível, dizem por aí. Fico pensando nos partidos menores, os que costumam negociar espaços desde já para que engajem em uma campanha. Sentam com Gayer? Se sentarem, apanham. O discurso de Gayer é anti tal sistema. Sentam com Caiado. O governador faria a costura para Gayer? A melhor resposta a esta questão é outra pergunta: Gayer aceitaria ele costurar pra fora e Caiado costurar pra dentro?
Quero ver o senador Wilder Morais nessa história. Talvez não seja Caiado o costureiro da ocasião, e sim ele. A pergunta, de todo modo, vale pra ele também. Gayer topa? Agora tiremos Caiado da equação e deixemos Wilder e Gayer. Como um vai ser candidato a prefeito e o outro, a governador, com todas as limitações de aliança que o bolsonarismo implica? Para o bolsonarismo, diga-se, é exatamente esse o ideal: o purismo ‘ideológico’ que representa contra a velha política. Certo. Mas, na prática, isso é positivo?
Tem uma tese aí também. Sempre tem. O bolsonarismo, sozinho, dificilmente ganha, mas dividindo a esquerda e a centro-direita, passa a ter voto suficiente para ir para o segundo turno. E aí é avalanche. Sabemos que de comunicação eles entendem mais do que os adversários, são craques. Quer dizer, têm um diferencial de chegada que precisa ser respeitado. Quer dizer que as chances de vitória de Gayer são reais, e que as de Wilder não são menores no longo prazo. Caiado surfa ou não surfa na onda? Não tenho resposta. Você tem?
Tudo fica melhor se, do outro lado, estiver Adriana Accorsi candidata pelo PT. Com apoio de Vanderlan, então, melhor ainda. Polarização boa para um e para outro, e para Caiado, naturalmente, velho inimigo dos petistas. São conjecturas. Projeções de impossíveis jogadas de xadrez eleitoral. Impossíveis, mas, em política, como já vimos, tudo é possível.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).