O senador Vanderlan Cardoso disse claramente que é pré-candidato a prefeito de Goiânia em outubro. Era o que se cobrava dele: uma definição que colocasse fim ao impasse que nem era impasse, a não ser pela expectativa de um acordo entre ele e o PT, com sua desistência da candidatura em favor de Adriana Accorsi, a pré-candidata petista. Mas não adianta. Agora o que se diz é outra coisa: Vanderlan só está valorizando o passe pra negociar mais caro – um bom ministério no governo Lula – seu apoio a Adriana lá na frente.
Bem provável que essas especulações permaneçam vivas por mais algum tempo. Principalmente pela incredulidade na anunciada decisão de Vanderlan em levar ao mesmo tempo sua candidatura e a de sua esposa, Izaura Cardoso, em Senador Canedo. O natural, calcula-se, é assegurar a eleição da esposa e garantir um lugar de honra no ministério lulista até 2026, quando poderá ser candidato a governador com apoio do presidente.
Quem cria as teorias em época de campanha? Se quando se trata de futebol, todos se tornam técnicos, isso também vale para quem vive ou respira política, todos somos marqueteiros, analistas políticos e articuladores da melhor qualidade. E quem cria, alimenta a cria. As teorias muitas vezes até viram verdade, por uma razão simples: ou são baseadas em meia-verdades ou encontram eco nos próprios personagens que se aproveitam delas para jogar seu jogo. A conveniência é o motor das teses e verdades incontestáveis – e inacreditáveis – se movem o mundo da fofoca e da perversidade política, como sempre repete com graça um amigo.
Nas teorias de fatos nem tão fatos assim, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) vai apoiar o pré-candidato do PL à Prefeitura, Gustavo Gayer, e não Jânio Darrot (MDB). Tem mais. Muito mais. Chamemos de teoria estratégica a fofoca direcionada a levantar dúvidas e a abrir cenários possíveis e impossíveis de alianças e desavenças, e também a fofoca própria da desinformação nessas horas. Anteporia estratégica, seja ela de que time for, cria uma confusão danada ao se misturar com o que é real no processo.
Como separar a verdade da convicção da verdade e da mentira direcionada? Tudo vira fato, notícia e acaba por emitir laudo de veracidade nos acontecimentos. Porque sabemos que ninguém planeja tudo, e mesmo o pouco que se planeja pode cair por terra por coisa inesperada, como a morte de um dos protagonistas, a informação revelada que gera outro fato impensado, mas que parece calculado desde sempre, e até mesmo a intervenção inapropriada de uma denúncia devastadora que chega de repente e não tem contestação.
Essas considerações surgiram de um bate-papo entre amigos em hora tranquila no café de sempre. Casa de café rima, inclusive, com fofoca. Como se as pessoas só fizessem fofoca em cafés, e nunca no trabalho, em corredores de repartições, em almoços combinados, nas ruas. Acaba que fofoca é também informação de campanha. É termômetro de candidatura. Fofoca e teoria da conspiração, farinha do mesmo saco, têm poder. Têm poder de alimentar exposição de nomes, queimação de pretensos nomes, elevação de nomes desde o inferno até o céu, e o contrário, na mesma velocidade.
Lá na frente…
… vai que Vanderlan de fato desiste e apoia Adriana, indo para um ministério de Lula;
… vai que Caiado compõe com Bolsonaro pro Gayer ser prefeito, o senador Wilder Morais ser governador – com seu apoio à sua calculada revelia – e ele próprio ser candidato a presidente;
… vai que Darrot nem seja candidato;
… vai que Caiado lance outro nome, Vanderlan mantenha firme sua candidatura, Adriana arrume outra aliança e….
Ufa! São tantas emoções…
Em campanha nada fica de graça. Mesmo o que não tinha nada a ver, de repente vira o tudo a ver, não falei? Já me acostumei a ouvir que eu estava certo sem estar, e que estava errado sendo que deu-se tudo como eu previra e escrevi, ou seja, tenho provas irrefutáveis. Não se convence ninguém que não queira enxergar a verdade; a mentira é sempre mais gostosa. Porque a mentira – fofoca, teoria da conspiração, o que for – é a verdade de cada um que queira que assim seja. Mais do que atraente, é hipnótica. A mentira e suas particularidades seduzem e matam de prazer, inclusive. Matam candidaturas, matam reputações. Matam de raiva quando viram verdade, por exemplo. Ou de rir, quando o cadáver não é o seu.
Mas não sejamos tão duros assim. Chamar de mentira, com tanta ênfase, fatos que surgem como distração, fogo-amigo, bala perdida, tiro ao alvo, fogo no parquinho etc., não é justo com os fatos. Afinal, que campanha é feita apenas de verdades? Pode até não ser bom ouvir isso, mas fatos são fatos. Melhor dar a César o que é de César: não há nem verdade, nem mentira em uma campanha – pré-campanha também. O que há é tão somente campanha, lugar para políticos e eleitores acostumados com a realidade, sem mistificações. Se campanha fosse igreja, não teríamos disputa, mas missa ou culto. Em nome de Jesus.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).