14 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 05/04/2021 às 08:15

Rompimento do MDB com Rogério Cruz acontece três meses após prefeito garantir que não faria grandes mudanças

O "casamento" entre o MDB de Daniel Vilela e o Republicanos de Rogério Cruz não durou mais que três meses
O "casamento" entre o MDB de Daniel Vilela e o Republicanos de Rogério Cruz não durou mais que três meses

Desde que assumiu definitivamente o cargo no dia 15 de janeiro, o então vice-prefeito Rogério Cruz (Republicanos) prometeu seguir o plano de governo que deu a vitória ao prefeito Maguito Vilela, acometido pela Covid-19. Muito emocionado, o republicano foi as lágrimas dizer que queria respeitar a história do ex-governador. “Quero fazer por Goiânia tudo aquilo que Maguito sonhou e projetou. E desta forma, honrar sua memória e legado, além da confiança que depositou em mim ao me escolher como seu vice”, disse ao introduzir as palavras além de reforçar que não fará mudanças no secretariado ao longo de sua gestão. 

A promessa emocionada durou menos de dois meses até que no último dia 16 de março, Rogério Cruz bateu assinou a exoneração do secretário de Governo, Andrey Azeredo, um dos principais nomes atuantes da campanha de Maguito Vilela. O republicano foi à Brasília buscar Arthur Bernardes para o lugar do ex-vereador. Com a mudança, vieram mais especulações. O prefeito negou todas alegando que eram “fogo-amigo”. Disse que estava focado na gestão da crise promovida pela pandemia.

Mesmo assim, novas trocas vieram na Comunicação, Administração, Educação, Comurg e também na Agência Municipal de Meio Ambiente. Titular da AMMA, Zilma Percussor chegou a alinhar com o prefeito Rogério Cruz sua mudança para a Superintendência da Casa Civil e Articulação Política mas foi exonerada da agência antes de comunicar os servidores de sua saída. Pegou mal a falta de comunicação.

Na Seinfra, o ex-deputado Luiz Bittencourt ficou sabendo apenas após publicação de decreto que os contratos de sua pasta haviam sido suspensos. A falta de comunicação, proposital ou não, acabou produzindo desconfiança. O agora ex-titular pediu exoneração.

Reunião selou desembarque

Reunidos na noite de domingo, (04/04), os secretários e dirigentes indicados pelo MDB, com o presidente regional Daniel Vilela, decidiram entregar os cargos e desembarcar da administração do prefeito Rogério Cruz (REPUBLICANOS). A saída será consolidada com a apresentação de uma dura carta na manhã desta segunda, 5, no Hotel Alphapark, local de vários eventos da campanha de Maguito Vilela para prefeito de Goiânia.

O documento será assinado pelos 16 indicados e só persiste a dúvida se o secretario da saúde, Durval Peixoto, integrará o grupo que entrega os cargos. O conteúdo da carta apresentará a história da campanha e dos primeiros meses da gestão e enfatizará a “deslealdade” e a “traição” à qual o MDB está submetido pela gestão do atual prefeito.

A nomeação de um supersecretário e a transferência da responsabilidade da gestão para integrantes do Republicanos que não participaram da campanha eleitoral e que desconhecem a cidade terá um capítulo especial.

De acordo com o jornalista Altair Tavares e editor do Diário de Goiás, a história que o MDB vai contar é de rompimento total da confiança e da lealdade à campanha eleitoral de Maguito Vilela. Outros titulares e nomes ligados ao ex-prefeito Maguito Vilela, mas sem ligação com o MDB, devem seguir o mesmo caminho. A justificativa é que não adianta continuar num governo que irá mudar todo o seu direcionamento.

Prefeito mira 2022

Analistas políticos avaliam que o prefeito irá abandonar gradativamente o plano de governo de Maguito Vilela para fortalecer a base do Republicanos para as eleições 2022. “O prefeito agora mira e faz mudanças para consolidar as eleições do ano que vem. Estamos em abril, isso significa que nós temos um ano para a conclusão da janela partidária. As negociações já começam a ser feitas agora. Algumas coisas, como candidatos a deputados federal, estadual e senadores já estão sendo pensados”, ponderou o professor em Ciências Políticas, Guilherme Carvalho.

Neste sentido, os emedebistas acabam sendo uma “pedra no sapato” nos planos do PRP para 2022. “O MDB acaba sendo uma pedra no caminho para consolidação de um projeto do Republicanos. A gente sabe que o cenário goiano tá sendo totalmente refeito neste momento. Tivemos o PSDB governando o Estado por quase 20 anos. Tivemos o MDB e aliados governando o município a bem mais tempo, mas com a relativa mudança de ares, Marconi dá uma saída. PSDB perde muita substância no estado e no município. O governador Caiado se projeta como um grande player construindo bases muito interessantes no interior”

“A gente tem que lembrar que o prefeito segue o projeto da Igreja Universal e do Republicanos. Ele nem seria candidato a vereador mas por uma articulação ele acaba na condição de vice-prefeito. Quando ele chega à prefeitura em razão de todas as situações que ocorreram com Maguito, ele enxerga o seguinte: o MDB não é mais um ópice ao Republicanos e eu tenho de pagar minha dívida com o Republicanos. Há uma pressão do Republicanos em lembrá-lo disso. Política não tem a ver com coração, sentimento e gratidão ao Maguito, mas tem a ver com busca do poder e ocupar espaços para ter mais acesso ao poder”, destaca Carvalho.

Na carta que será divulgada, um cenário como este deve ser pintado. Claro, Cruz tem sua autonomia em definir o futuro do seu secretariado. Seu CPF é que será cobrado, mas planos universais pintam o fundo de todo esse contexto. E o futuro em Goiânia será desenhado a partir disto.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.