Vejo torcedores políticos desdenhando da pré-candidatura do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, à reeleição e não entendo, a não ser pela consideração de que torcedor é assim mesmo. Cada um tem seu time de estimação. O fato de pesquisas mostrarem o prefeito com baixa avaliação não significa que ele está fora do jogo. Esse é o ponto um: não subestimar a máquina pública.
Também dizer que ele não consegue unir nem o secretariado em torno da causa mais importante para os goianienses, que é a gestão da Capital, não fecha o assunto. Isso pode ser resolvido com habilidade e competência. Falta isso? Pode “desfalcar” a qualquer momento, basta querer, mudar de atitude, achar o foco e trabalhar muito na direção certa. Não combina com ele até agora? Detalhe.
As falhas do gestor, até prova em contrário, são passíveis de arrumação de uma hora pra outra. Milagre? Nada. Um pouco de marqueteiragem, uma pitada de sorte, uma pimenta de popularidade, quem sabem? Não julgue para não ser julgado. Noves fora essas derrapagens dos adversários que acham que ganham por antecipação, e a ignorância em relação ao maior dos conhecedores de campanha, o imponderável de almeida, o prefeito tem poder na mão e pode, se quiser. Se souber. Se acertar. Se.
Imagine, porém, o outro lado dessa moeda de arroubo eleitoral. Calcule como estaria a vida do prefeito caso ele não admitisse a reeleição. Caso dissesse desde ontem “tô fora”, “não contem comigo”, “chega de enganar todo mundo porque não sou candidato mesmo”. Com tudo que acontece na prefeitura, o simples fato de Rogério jogar a toalha de vez provocaria o quê? Quem está lá é já toca tudo por interesse próprio e não da cidade, elevaria a aposta no salve-se quem puder ou ficaria, huuummm, mais republicano?
Em torno do prefeito, isso não é segredo para mais ninguém, temos gente que age e ostenta que Rogério já jogou a toalha. Que ele não será candidato porque não tem cabimento. Só esse ponto fora da curva já fragiliza o discurso de reeleição do prefeito, torna-o destoante da realidade. Uma admissão do próprio, então, não deixaria pedra sobre pedra. Imediatamente a gestão deixaria de estar no auge – obras pra todo lado etc – para ser considerada fim de festa.
O impressionante, insisto, é ver Rogério falar sério, percorrer os festejos natalinos dos funcionários reforçando seu propósito de buscar mais um mandato, saber que ele pode, inclusive, acreditar de verdade no que diz, é olhar mais um pouco pra dentro da administração e não ver isso refletido. Seja ilusão de ótica do prefeito, enganação geral e irrestrita do fogo amigo, conspiração notória para segurar as pontas até o ano que vem, salta ainda aos olhos que consta não ser nada disso. Que tudo se resume a outra coisa: caos.
Voltamos ao ponto: de caos em caos se constrói uma derrota, mas, em teoria, a vitória também está lá no meio do rodamoinho. Incrível será ver, quem sabe, algo dar certo sem o menor fundamento em uma estratégia. Dar certo nem por sorte. Mas por azar. E olha que penso nisso como exercício elementar do fazer político. Não existe o impossível na política. Sério. Porém, o faço por razão que custo a admitir: seria muito engraçado Rogério ser reeleito apesar de tudo. O famoso trágico divertido.
Um colega diz que o bom da política é a perversidade. Sei não. Tô mais pra pensar que o bom da política é o picadeiro. E sim, fim de ano fica irresistível viajar na maionese.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).