Não é só o embate entre o governador de São Paulo, João Doria, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, que chama a atenção sobre o uso da pandemia para garantir o poder nacional.
No chamado chão de fábrica, ou seja, em cada município brasileiro, há uma disputa em curso. Uma disputa com muito de caos e pouco de espírito público.
Prefeitos pouco sabem o que estão fazendo, e isso quando estão fazendo algo de fato em favor de sua população. Na maior parte das vezes, prevalece o espírito de torcida somado a um precário atendimento em postos de saúde ou hospitais desaparelhados.
A torcida é saber quem é Bolsonaro e quem não é. Quem defende isolamento, estímulo ao uso de máscaras, vacinação, e quem despreza ou desmerece tudo isso.
Nesse aspecto, prefeitos até seguem o seu público, também dividido e também numa barulhenta torcida. Mas definitivamente não atendem a qualquer senão de responsabilidade ou de cuidado cívico. Não querem é estar do lado da torcida menor.
Tomar decisões desagradáveis ao gosto público, que apesar disso privilegiam a vida em vez do risco de morte, não faz um político popular. É o caso do limite de horário de fechamento das empresas e suspensão de ponto facultativo.
Neste momento, em Goiás, o governador Ronaldo Caiado toma decisões que provocam reações apaixonadas de lado a lado. Quem concorda, aplaude. Quem não concorda, xinga. A pesquisa Fortiori avaliou que a medida tem apoio de 73%.
Como isso vai se refletir na eleição do ano que vem? Caiado deve tentar a reeleição porque é candidato natural. E aí, vai ser bom ou ruim o que ele tem feito?
O espírito público impõe que esse tipo de questão não importa. Um político que realmente se importa com a população, no caso os eleitores, tem que ser maior que as disputas eventuais. Ter alma de estadista, pode-se dizer.
Mas é fato que todas as ações de um governante têm consequências eleitorais. Em outra ponta, o que faz a oposição? A oposição não faz nada porque neste momento nem oposição Goiás tem.
Vivemos o caos político no Estado. Sem Iris Rezende e sem Marconi Perillo, que lideraram as forças que se enfrentaram nos últimos anos, a situação é de desagrupamento total das forças menores.
A rearrumação de forças está em andamento. Talvez isso explique a falta de oposição, com consequente fortalecimento de Caiado como perspectiva de continuidade de poder. Enfim.
Nesse ambiente, temos não só um governador que toma decisões necessárias. E, age por vezes em conjunto com potenciais adversários. Os potenciais, neste caso, como Gustavo Mendanha (prefeito de Aparecida se Goiânia) e Rogério Cruz (prefeito Republicano de Goiânia, eleito via MDB), vira e mexe estão lado a lado de Caiado.
Na defesa do interesse público, não cabem inimizades ou disputas eleitorais. Correto. Ocorre que isso acaba também por confundir as coisas quando o olhar é 2022, por exemplo.
Se Gustavo e Rogério representam a possível ascensão da candidatura de Daniel Vilela, presidente estadual do MDB, por outro suas constantes ações afinadas com o Estado acabam igualmente estimulando especulações a respeito de suas reais posições lá na frente.
Tudo somado, temos em Goiás a reorganização das trincheiras políticas e temos a incerteza maior sobre os resultados da pandemia. O que esperar daí? Mais caos?
Na prática, ninguém está sabendo exatamente o que faz. Há muito de responsabilidade pública, e há muito também, ou mais, de intuição pragmática.
Políticos não sabem como agir na pandemia e sabem menos ainda o que fazer de seu futuro político. Andam na corda bamba. Pisam na ponta dos pés.
O ambiente social em Goiás e no Brasil é de convulsão, e o político, de total confusão.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).