27 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 21/03/2020 às 10:18

O ataque do “03” à China e às lições da história sobre a gripe espanhola

Eduardo Bolsonaro e embaixador Yang Wanming. (Foto: Reprodução)
Eduardo Bolsonaro e embaixador Yang Wanming. (Foto: Reprodução)

Se Eduardo Bolsonaro se desse ao trabalho de ler um pouco a história, veria que a pior pandemia de doença respiratória do mundo a chamada “gripe espanhola”, nada teve haver com a Espanha. Ela ocorreu nos Estados Unidos, e o presidente norte-americano a época, Woodrow Wilson, fez de tudo para escondê-la do mundo e dos cidadãos norte-americanos, que morreram aos milhares vítimas da doença.
A Revista Saúde, da Editora Abril, conta como começou a maior pandemia do século XX:

“A chamada gripe espanhola — que nada tem de espanhola — matou de 50 a 100 milhões de pessoas em 1918 e 1919. Esse número representa mais mortes do que o montante provocado pelas duas grandes guerras juntas. Mais do que a aids causou em 40 anos. Foi e ainda é a maior pandemia de que se tem notícia. E o Brasil não passou ileso por ela. Por aqui foram cerca de 35 mil óbitos, entre eles o do presidente da época, Rodrigues Alves (1848-1919).

E de onde veio o “espanhola” se a tal gripe provavelmente se originou em solo americano? A Espanha era um dos poucos países neutros durante a Primeira Guerra — um dos poucos a ter imprensa livre para noticiar a praga. Nos próprios EUA, o então presidente Woodrow Wilson (1856-1924) emitiu ordens para censurar qualquer notícia que pudesse abalar a população e os soldados. A situação foi a mesma em outras nações em guerra. Ocorre que o esforço para manter a epidemia em segredo contribuiu para sua rápida disseminação. Ora, como propagar e tomar medidas preventivas se ninguém sabe o que está acontecendo?

No dia 4 de março de 1918, um soldado da base militar de Fort Riley, nos Estados Unidos, ficou de cama, com sintomas de uma forte gripe. Esse acampamento no Kansas treinava cidadãos americanos para a Primeira Guerra Mundial. Naquela semana de março, mais de 200 soldados adoeceram também. Em apenas 14 dias, mais de mil militares foram parar em hospitais — e o mal se alastrou por outros acampamentos. No pico da epidemia, mais de 1 500 militares reportaram a enfermidade em um único dia. A doença se espalhou rapidamente pelos EUA e pegou carona com os soldados americanos que embarcaram para a Europa. E de lá ganhou o mundo. “

Pedido de desculpas

E. Bolsonaro faria muito bem ao país se trabalhasse para conscientizar o próprio pai, sua Excelência o Presidente, de que é grave sim a pandemia Covid19. Mais: se estivesse atento ao noticiário no Brasil e no mundo, veria que os EUA é o país onde ela se alastra mais rapidamente. Relatos desesperados de norte-americanos na mídia dão conta de que os estadunidenses não tem um serviço de saúde público, os testes para o Covid19 são caríssimos (de 3 mil a 5 mil dólares) e a doença já infectou 11 mil pessoas no país, que pode sofrer mais que qualquer outro no hemisfério Norte.

E. Bolsonaro deve um pedido de desculpas oficiais à China. Além de ser maior parceiro comercial do Brasil, a China tem muito a ensinar no controle do Covid19, afinal o governo chinês efetivamente controlou a doença. A China também dispõe de recursos financeiros e técnicos para ajudar o Brasil, vale ressaltar que os chineses são hoje os maiores fabricantes de equipamentos médicos do mundo e exportaram milhões de máscaras, luvas cirúrgicas, aparelhos de respiração e outros para a Europa e outros países, ajudando no esforço destes de lutar contra a doença e preservar vidas.

Bananinha X soja

A bancada ruralista, que se empenhou como nenhuma outra pela eleição de Bolsonaro (pai), censurou os ataques do 03. O presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS) sabe que a maioria das commodities agrícolas do país (carne e soja, principalmente), tem como destino a China.

“O que ele (E.Bolsonaro) falou e infeliz e infantil”, reagiu. O vice-presidente Hamilton Mourão foi além, afirmando que “se o nome dele fosse Bananinha, e não Bolsonaro, não haveria repercussão”.

Por esta e outras, E. Bolsonaro é alvo de dois pedidos de cassação de mandato. Ambos da bancada do PSOL. O primeiro originou-se pela sua manifestação a favor do AI-5 e do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, e o último, por colocar em risco as relações econômicas, diplomáticas e sociais com a  China.

Ao invés de cobrar transparência da China, o ex-quase-embaixador deveria cobrar dos EUA os números corretos do Covid19. Aliás, 03 deveria pedir para o pai  fechar os aeroportos aos aviões yanques e fazer como Donald Trump, que tornou público o documento oficial sobre o seu exame de coronavírus.