Não falha. Quando se vê um governante fraco, indeciso, incerto e ressabiado com tudo, pode olhar que tem um ou mais assessores excessivamente diligentes por trás. São aqueles auxiliares que cercam o líder para que ninguém se aproxime. Na versão que sustentam, eles o protegem de todo mal. Na prática, fazem cerca de arame farpado envolta de sua provável percepção do que acontece à sua volta enquanto é bajulado e incensado.
Há um nome hoje para o mundo onde tais líderes passam a viver: bolha. Na bolha das opiniões que só lhe agradam, sua gestão vai bem, sua imagem está impecável e sua reeleição (ou eleição) vai permeada de jardim. Os interesses em jogo são muitos. Os assessores asseguram poder, pela proximidade com a fonte verdadeira, o Executivo. E garantem avenida larga para seus atos republicanos ou não. Os negócios paralelos agradecem.
Governante que evita encarar a realidade fica mais perto da derrota porque deixa correr solto o que macula seu nome, ou o que fragiliza seu trabalho. Vistos a tempo, erros podem ser corrigidos, falta de rumos podem ser ajustados, traições internas acabam sendo avistadas e cortadas pela raiz. Sem o choque dos fatos negativos – as calçadas sujas, os postos de saúde que na prática não funcionam, os programas sociais distorcidos -, como saber que o coro vai pro abismo?
Nenhuma novidade. Este é o mapa recorrente de muitas administrações. E recorrente também é a convicção do gestor de que sabe de tudo isso muito bem, tem ciência do que está acontecendo e é só seguir em frente. O brilho do poder, ainda que fátuo, é comumente maior que o bom senso do discernimento político. Lá na frente, na véspera da eleição, quando a ficha cair, porque ela sempre cai, o desespero baterá na testa. Inevitável. E o custo será duplo, no mínimo.
Custo da decepção com os assessores, embora o correto seja consigo mesmo, por ter escolhido quem escolheu e por ter deixado de ouvir e ver o que estava escancarado. Custo financeiro para a corrida da muitas vezes vã tentativa de recuperação da imagem não construída, elevando o peso dos gastos nas urnas. E vejam só: nessas horas a salvação, só pela comunicação de campanha; mas isso só depois da demonização da comunicação que, na prática, faltou. Faltou por que?
Em reeleição, o governante só perde pra ele mesmo. Amém?!
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).