Temer, por exemplo, não mexeu na agenda de compromissos nos dois primeiros dias de protestos –esteve inclusive em um evento político do MDB para manifestar apoio à pré-candidatura de Henrique Meirelles à Presidência.
Apenas no quarto dia, quinta-feira (24), o governo passou a adotar o discurso da prática de “locaute”, a ação de empresários por trás do movimento.
Na principal reunião sobre o tema, naquele mesmo dia, no Palácio do Planalto, líderes de entidades do setor preveniram o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil): não tinham poder de comando sobre todos os manifestantes.
Padilha respondeu que, mesmo assim, era preciso algum anúncio porque o país, nas palavras do ministro, não poderia parar. Assim foi feito. O acordo não foi cumprido pelos manifestantes.
Padilha entrou na história quando a confusão já estava instalada. Ele foi escalado por Temer na quarta (23) para assumir as negociações depois que o presidente, após um café com bispos evangélicos, recebeu alertas sobre o crescimento dos protestos.
Até então, a preocupação estava circunscrita à escalada dos preços dos combustíveis diante da greve. Esse foi o foco de reunião entre Temer e um grupo de ministros no domingo (20), no Palácio do Jaburu, um dia antes do início das paralisações.
Naquele momento, a área de inteligência, sob o comando do general Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), não previu que a greve poderia paralisar o país, apesar de uma carta da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) endereçada a Temer ter sido protocolada na semana anterior chamar atenção para esse risco.
“Imagine o Brasil ficar sem transporte por uma semana ou mais? Seria terrível para todos, mas parece que só dessa forma vocês vão voltar seus olhares para as nossas necessidades e reivindicações”, diz o documento assinado pelo presidente da entidade, José da Fonseca Lopes.
Em outubro, a mesma associação havia procurado a Casa Civil para discutir os preços dos combustíveis. “Seria uma loucura imaginar que uma greve possa ser prevista com seis meses de antecedência”, disse Padilha à Folha.
Serviços públicos essenciais, como unidades de saúde, resgate em situações de emergência, transporte de passageiros e policiamento de rua, não haviam sido alertados a tempo pelo Planalto sobre o risco real da greve e, assim, não deram início a nenhum plano de emergência antes que as bombas dos postos começassem a secar.
O governo não conseguiu organizar nenhum plano de contingência. Também demorou a reagir no campo político.
Na segunda (21), os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunicio Oliveira (MDB-CE), assumiram a linha de frente da agenda política ao anunciarem uma comissão para discutir o tema dos combustíveis.
No dia seguinte, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, entrou no circuito. Esteve em Brasília com a equipe econômica. Saiu dizendo que não mexeria em hipótese alguma na política de reajuste.
Com o impasse e protestos se agravando pelas estradas, Padilha, então, telefonou para Flávio Benatti, presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), para que ele sensibilizasse as entidades do setor a aceitar um acordo. Marcaram a reunião de quinta com 11 entidades.
O presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, quarto representante a discursar no encontro a portas fechadas, disse que não estava lá para negociar e deixou o Planalto.
Com a saída repentina dele, os demais representantes do movimento se reuniram separadamente por uma hora. Na volta, titubearam sobre o fechamento de um acordo justamente porque temiam não garantir o seu cumprimento.
Nesse momento, Padilha telefonou para Eunicio Oliveira, a pedido dos manifestantes. Eles queriam um compromisso de que o Congresso aprovaria um projeto de lei sobre fretes. Eunicio não quis assinar o acordo e afirmou que não tinha como dar a palavra de que o texto passaria, mas disse que pautaria o tema.
Os líderes das entidades toparam assinar, sob a condição de que levariam o teor para discussão e aprovação nas estradas.
Após o anúncio feito por Padilha, os grupos de Whatsapp dos caminhoneiros paralisados já indicavam que o entendimento não seria cumprido.
As mensagens, relatadas à reportagem, diziam que os representantes reunidos no Planalto não tinham o respaldo das lideranças regionais.
A ausência de uma liderança única é exatamente, na avaliação de assessores de Temer, o que tem dificultado as negociações. O protesto nasceu de pequenas paralisações em cidades no interior da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo e rapidamente se alastrou.
Em São Paulo, começou na cidade de Ourinhos. O diretor do sindicato dos caminhoneiros autônomos do município, Ariovaldo Almeida Junior, conta que a manifestação no interior paulista foi organizada duas semanas antes.
“Procurei outras entidades sindicais autônomas do interior paulista, como de Bauru, Piracicaba e Jaú. Nós elegemos uma liderança para o movimento em cada local”, disse.
Para ganhar adesão fora de São Paulo, dirigiu cerca de 680 km até Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Segundo ele, o movimento surgiu da insatisfação da categoria e não tem vinculação política.
Na sexta-feira, a situação nas estradas não mudou. Uma reunião de emergência foi convocada e o ministro Etchegoyen (GSI) assumiu um protagonismo. No sábado (26), sem sinais de uma remissão, o Planalto passou a declarar haver prática de locaute e anunciou a abertura de 37 inquéritos e pedidos de prisão de empresários do setor. (Com texto de GUSTAVO URIBE, TALITA FERNANDES E DANIEL CARVALHO BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP Folhapress)
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .