28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 22/04/2017 às 22:28

Caiado como aliado ou inimigo de PT e PMDB na luta armada pelas eleições gerais

Eleições gerais, e já, é o que defende o senador Ronaldo Caiado (DEM) neste sábado em artigo na Folha de S. Paulo.

Eis uma pauta nacional, de quem quer ser candidato a presidente da Republica.

Caiado não nega que sonha com isso. Sonha também em ser governador de Goiás.

Lá na frente ele define, por certo. Até lá, jogo aberto em todas as direções.

Uma coisa que tem chamado a atenção e confundido adversários e aliados é o domicílio eleitoral dele nos últimos anos.

O do seu título de eleitor é Goiás. Mas o de suas manifestações nas ruas é São Paulo.

E tem Brasília, no meio do caminho, palco de todas as emoções da Lava Jato e cia., e de suas posições contundentes.

Dá pra entender a estratégia do senador pela lógica também eleitoral.

Embora os eleitores que lhe confiaram o mandato estejam em seu Estado, é em solo paulista que fica o palanque da mídia nacional.

Lá e cá, e no DF, Caiado vai levando a vida.

No peito e na raça das ações de grande visibilidade e discursos afiados que acerta nos microfones, ele toca duas campanhas em uma.

Com a defesa das diretas, ele dá um salto no cavalo arreado. Mais um.

Dias atrás, na reunião com Daniel Vilela, Maguito Vilela, Iris Rezende e José Nelto, no rastro da investida dos governistas na conquista do prefeito Gustavo Mendanha (Aparecida), ele deu outro, segundo um interlocutor.

Admitiu, com reservas, até o PT no bolo partidário de uma possível aliança oposicionista para enfrentar o candidato do governador tucano Marconi Perillo, o vice José Eliton (PSDB).

Porque o PMDB vai longe na conversa com o PT goiano (António Gomide como ponte) e não quer recuar.

Para levar um, Caiado terá de aceitar os dois. Se conseguir convencer ambos a apoiá-lo, tem isso.

A atitude tem fim específico, dá pra entender. Difícil será explicar os meios.

Caiado e PT, é público e notório, sempre foram inimigos de fé e ideologia.

Imaginá-los juntos numa mesma chapa ou frente – seja no Estado, seja no País – é raro exercício de pragmatismo eleitoral.

Mais fácil pensar que vale o prescrito nos fatos: Caiado sonha ser a antítese de Lula porque pensa diferente e/ou porque vê aí uma oportunidade.

(A mesma que inclusive viu o governador Marconi Perillo ao declarar um dia que sonha enfrentar justamente Lula nas urnas.)

Até aqui, o que temos… ou teremos… ou teríamos, sei lá:

Caiado candidato a governador – com PT e PMDB, mas contra seu discurso;Caiado candidato a presidente – contra PT e PMDB, mas com discurso;Caiado candidato a governador: contra PSDB; candidato a presidente: com PSDB?

Avançando.

Como o projeto de Caiado em Goiás passa pelo PMDB, a nova pauta nacional das diretas já resultam em um seco nó cego: o PMDB de Daniel Vilela é o mesmo PMDB de Michel Temer.

O que temos… ou teremos… ou teríamos:

Caiado é oposição ou situação em Goiás e no País?;sendo oposição, como ter apoio (pra governador ou presidente) de partidos da situação?;se é da situação, como manter o discurso de oposição?

Caiado candidato levanta poeira. Peão de rodeio também levanta. Na arena (sem trocadilho).

Para encerrar… primeiramente: diretas já!

***

Segue o artigo do senador Ronaldo Caiado na Folha:

Só o batismo das urnas propiciará solução pacífica e civilizatória

Por Ronaldo Caiado (DEM-GO)

O Reino Unido acaba de dar exemplo de como (e por que) funcionam as verdadeiras democracias. Diante de um quadro de impasse político, decorrente da saída da UE —o “brexit—, seu Parlamento, por iniciativa da premiê Theresa May, antecipou as eleições para 8 de junho.

Foi uma decisão esmagadora: 522 a 13. Parlamento e primeira-ministra teriam mandato até 2020, mas entenderam que, com o “brexit”, estabeleceu-se uma ruptura da agenda política sob a qual se elegeram. Nessas circunstâncias, não há soluções de gabinete. Só o povo tem os meios de zerar o jogo e reiniciá-lo.

O Parlamento poderia ter feito vista grossa, em defesa de interesses pessoais e partidários, conservando os mandatos por mais três anos. Mas, em nome de algo bem maior —a governabilidade e o interesse público—, abriu mão de privilégios.

Cabe aí uma analogia com o quadro brasileiro, bem mais grave, dadas as suas circunstâncias econômicas, morais e sociais. O impeachment da presidente Dilma Rousseff estabeleceu também uma ruptura com a agenda político-econômica sob a qual havia sido eleita —ela e sua base política, da qual faziam parte o seu vice, Michel Temer, o PT, o PMDB e outros partidos.

Essa agenda, como se sabe, foi rejeitada nas ruas, em megamanifestações, por uma conjunção de fatores: rombo orçamentário de R$ 200 bilhões e 14 milhões de desempregados, além do strip-tease moral exposto pela Lava Jato.

O Congresso, pressionado pela indignação popular, entendeu que bastava afastar a presidente, adaptar-se ao novo governo e estabelecer um realinhamento partidário. Solução artificial, de gabinete, que a sociedade rejeita. O novo governo não é novo; é subproduto do que foi derrubado nas ruas.

A sequência das investigações da Lava Jato mostra também o comprometimento de parcela expressiva dos partidos que estão no governo e que estiveram alinhados com o PT, que comandou o maior saque aos cofres públicos de que se tem notícia.

A crise brasileira, nesses termos, mostrou-se, mais que econômica, mais que política, institucional. Os três Poderes padecem de profunda falta de credibilidade para solucionar a crise; a sociedade não se sente representada por eles -e não confia nem chancela as propostas que lá tramitam, em busca de soluções.

A saída — e venho sustentando isso desde os tempos em que ainda se discutia o impeachment — é zerar o jogo, com novas eleições gerais, que restabeleçam a sintonia entre o povo e as instituições.

O exemplo britânico aí está. É preciso grandeza cívica para abdicar do conforto de mandatos e posições de influência. Disponho-me pessoalmente a fazê-lo, mesmo tendo sido eleito para um mandato de senador, de oito anos, que nem sequer chegou à sua metade.

O desconforto maior, no entanto, é integrar uma instituição cujo descrédito cresce a cada dia e já não tem meios de cumprir suas mais elementares tarefas.

Este Congresso ou não terá meios de fazê-las ou, se as fizer, as verá rejeitadas pela sociedade, aprofundando a crise. Só o batismo purificador das urnas —aqui como no Reino Unido ou em qualquer democracia— propiciará solução pacífica e civilizatória.

Os que se apegam a formalismos alegam que a periodicidade das eleições é intocável.

Ora, intocável é o interesse público, afrontado por uma conjuntura em que as instituições já não o representam. Se todo o poder deve emanar do povo (parágrafo único, do artigo 1º da Constituição) e não está emanando, então é o próprio país oficial que incorre em inconstitucionalidade. Às urnas!

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).