O governador Ronaldo Caiado (DEM) está em queda de braço com o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha(MDB). O Entorno de Brasília é o motivo da disputa. No apagar das luzes do governo do presidente Michel Temer(MDB-SP), Ibaneis emplacou medida provisória criando a Região Metropolitana de Brasília, que se for consolidada, acaba com a RIDE((Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno).
Ibaneis vem articulando conversas políticas com prefeitos da região, em parceria com o ex-governador Marconi Perillo(PSDB), de olho na sucessão municipal de 2020.
No ultimo sábado, Caiado deu o contra-golpe: reuniu-se com 17 prefeitos em Águas Lindas, captaneados pelo prefeito Hildo do Candango (PTB) e pelo ex-presidente da RIDE, Marcelo Mello (MDB). No encontro, Caiado garantiu audiência com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzzoni, marcada para terça-feira(23), às 14h30.
Durante entrevista coletiva, Ronaldo Caiado gravou mensagem ao ministro, onde afirma que “Esta mensagem é para o ministro da Casa Civil da Presidência da República, Onyx Lorenzzoni (DEM-PR)”. “Onyz, você sabe o clamor de todos os prefeitos de Goiás e de Minas Gerais que já tem uma lei sancionada (pelo senado), que é a Ride, mas que infelizmente o Governo Federal tem se omitido, principalmente no período do PT, que não atendeu às reivindicações dos prefeitos.
As obras de infra-estrutura, as obras de mobilidade urbana, as obras de educação, saúde e de segurança pública o governo federal tem que assumir conforme a lei determina e vocês terão apoio dos governadores, dos prefeitos e prefeitas que comandam estes municípios carentes do nosso Estado de Goiás e de Minas Gerais. Por isto nós aguardamos rapidamente a sua convocação para uma audiência aí na Casa Civil da Presidência da Republica”, enfatiza.
RIDE e SUDECO
Criada em 1998, pela Lei Complementar 94/1998, a Ride foi inicialmente composta pelo próprio Distrito Federal, por 19 municípios goianos e dos de Minas Gerais, sendo eles Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso e Vila Boa, além dos municípios mineiros de Unaí e Buritis.
Uma iniciativa do Senado Federal, através do PLC 102/2015, instituiu a Lei Complementar Nº 163, de 14 junho de 2018 incluiu outros 12 municípios: Alto Paraíso, Alvorada do Norte, Barro Alto, Cavalcante, Flores de Goiás, Goianésia, Niquelândia, São João d’Aliança, Simolândia e Vila Propício, de Goiás, além das cidades mineiras de Arinos e Cabeceira Grande. Assim agora a nova Ride conta com 31 municípios e o Distrito Federal.
Ao tempo de aprovação desta ampliação da Ride, Ronaldo Caiado ainda cumpria o seu mandato no Senado. E é com base neste entendimento dos senadores que o governador fez encontro com prefeitos e lideranças regionais e garantiu upedido de audiência com Lorenzzoni.
Além da Ride, outro instrumento em mãos do governo federal para o desenvolvimento do chamado Entorno de Brasília é a Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), que foi criada durante a ditadura militar, em 1967, substituindo a antiga Fundação Brasil Central (criada no governo de Getúlio Vargas).
A Sudeco segue o espírito desenvolvimentista da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), idealizada pelo ex-ministro da Economia do governo de João Goulart (PTB-RS), Celso Furtado.
Desenvolvimentismo x Guedes
Tanto a Ride, quanto a Sudeco esbarram num problema. Foram criadas por governos que apostavam na intervenção do Estado na economia como indutor do desenvolvimento e combate às desigualdades regionais. A orientação do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) tem sido outra.
Sob a batuta do ministro da Economia, Paulo Guedes, a fixação do governo é por cortes, privatizações e redução do papel do Estado na indução do desenvolvimento.
Caiado acerta em cobrar do governo federal a aplicação da lei, tanto em relação à Ride, quanto sobre a Sudeco, mas terá que fazer mais.
O seu partido, o DEM, é um dos maiores fiadores do governo Bolsonaro. A condução politica da gestão Bolsonaro passa pelo ministro Onyz Lorenzzoni (DEM-PR), e pelos presidentes do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP) e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Dos três, Maia tem uma visão mais pró-mercado, enquanto os demais demonstram que estão mais próximos da visão de Caiado.
Fantasma
Apostar num governo tão dividido na política e na economia pode ser temerário. Mas talvez a pressão exercida por Caiado possa vir a contribuir com mudanças neste padrão. Mas se Caiado não cutucar a equipe econômica corre o risco de ser atropelafo pela dupla Ibaneis-Marconi e perder toda e qualquer no Entorno.
No poder Marconi fez parcerias com os governadores Joaquim Roriz(MDB), Jose Arruda (PSDB) em dobradinhas nas suas respectivas eleições, de prefeitos e de deputados distritais, estaduais e federais aliados a este consórcio. De novo o tucsno repete a formula, que pode ressuscita-lo em Goiás ou na politica de Brasilia. O tempo dirá.
Se ficar o bicho pega
Está cada vez mais claro que o presidente Bolsonaro terá que negociar com os governadores para conseguir aprovar as reformas que almeja como a da Previdência.
Caiado sabe que é preciso bater na porta para que ela se abra. Mas, no caso do governo Bolsonaro bater é pouco, será preciso talvez atropelar a porta e entrar por ela com todos os prefeitos para sensibilizar a equipe econômica e ressuscitar a Ride e a Sudeco.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .