23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 25/04/2019 às 20:23

Apertem os cintos, o emprego sumiu

Carteira de Trabalho. (Foto: Thaís Dutra)
Carteira de Trabalho. (Foto: Thaís Dutra)

O Brasil é um avião sem piloto. E a má notícia é que a areonave também está sem piloto automático. O país que é governado (?) pela família Bolsonaro está em queda livre. O PIB (Produto interno Bruto) projetado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para este ano é de míseros 0,4% de crescimento. O impacto disso já se vê nos números divulgados pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados): saldo negativo no mês de março, que registrou mais demissões do que contratações.

Segundo o Caged (órgão do extinto Ministério do Trabalho),  em março, houveram mais demissões (43.196) do que admissões, na comparação entre  1.304.373 desligamentos e  1.261.177 contratações.

O emprego foi positivo em apenas oito, dos 27  estados: Minas Gerais (5.163 postos); Goiás (2.712); Bahia (2.569); Rio Grande do Sul (2.439); Mato Grosso do Sul (526); Amazonas (157); Roraima (76) e Amapá (48).  Detalhe: as admissões em Goiás se referem às contratações relativas ao período da colheita da safra, ou seja, são empregos temporários. 

O saldo positivo de Goiás deveu-se à agropecuária com saldo 2.530 dos 2.712. 

Os Estados com maior perda de postos de trabalho foram Alagoas (-9.636 postos); São Paulo (-8.007), Rio de Janeiro (-6.986); Pernambuco (-6.286) e Ceará (-4.638).

O acumulado do ano, 2019 registra a criação de mais de 179 mil postos de trabalho com carteira assinada, isto porque os meses de janeiro e fevereiro refletiram as contratações temporárias realizadas na passagem do ano, relativas ao comércio natalino e a mão de obra para o setor agropecuário.

A tendência do mercado de trabalho, no entanto, não é de alta, e sim de baixa.

Há 1.400 obras paralisadas no Brasil, a maioria delas fruto da ação dos promotores de Curitiba-PR que comandam a Operação Lava Jato. Soma-se a isto, a PEC da Morte,  como são chamadas medidas tomadas pelo governo do ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) que congelaram por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e praticamente decretou o fim do programa Minha Casa Minha Vida, um dos campeões de contratação de posto de trabalho na construção civil.

A indústria reduziu investimentos, pela falta de crédito, desde que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) passou a ser demonizado, e suas linhas de financiamento foram reduzidas.

O único setor dinâmico da economia, o agronegócio, corre risco de ir para o vinagre. Ontem, quarta-feira (24), a BRF anunciou a paralisação do abate de aves na sua planta em Carambeí (PR), cidade de 22 mil habitantes que fica próxima à Ponta Grossa, no mesmo Estado. Motivo: cancelamento de pedidos de importação de frangos pela Arábia Saudita. 

Nada menos do que 90% do abate de aves na região é destinado ao mercado árabe, que parou de comprar frangos, desde que o Brasil trocou a política de neutralidade em relação aos conflitos no Oriente Médio, pelo alinhamento automático aos Estados Unidos e Israel.

Em Goiás a cadeia do frango emprega cerca de 40 mil trabalhadores direta ou indiretamente. A unidade da Sadia (BRF) de Buriti Alegre é a única do Estado autorizada a fazer o abate Halal, que obedece os princípios sanitários e religiosos dos países muçulmanos.

As quedas no PIB e no nível de emprego refletem as estripulias da família Bolsonaro. O Carluxo, o filho número 2 do presidente  passa os dias nas redes sociais desestabilizando a base do governo com críticas cada vez mais ácidas ao vice-presidente General Hamilton Mourão (PSL). O ofilho número 1, Flávio  brinca de chanceler e faz declarações de  guerra à Venezuela e o filho número 3, Eduardo,  escreve no twitter que quer que os árabes se explodam. 

O Brasil elegeu Jair Messias Bolsonaro presidente da República com a expectativa de seu discurso de combate à corrupção e de uma “nova política” que livraria o Brasil dos governos “ideológicos” do PT.

Na presidência sua Excelência está fazendo o contrário. Transformou o Palácio do Planalto em creche onde os filhos fazem o que querem.  Atira contra os principais parceiros comerciais do país (China e países árabes), terceirizando a política externa brasileira aos filhos e a um tresloucado astrólogo que mora nos Estados Unidos e atende pelo nome de Olavo de Carvalho. 

A chamada nova política bolsonarista foi anunciada esta semana pelo ministro Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzzoni: liberação de R$ 40 milhões em emendas  para cada deputado e senador que votar a Reforma da Previdência. Como são necessários 318 votos  de deputados e outros 62 de senadores,  o “bolsolão” deve custar a bagatela de R$ 15,2 bilhões ao país nos próximos quatro anos. 

É inacreditável que em pleno século XXI o Brasil assista impávido as trapalhadas de Bolsonaro e de seus filhos.

Num país onde as empresas estão quebrando, o desemprego caminha para atingir 14% da população, há algo muito errado quando os bancos apresentam lucro dos bancos chega a R$ 98,5 bilhões. Relatório feito pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) informa que o pagamento de juros da dívida pública deve consumir 80% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2020. Mais de 60% das famílias estão endividadas, conforme levantamento feito no mês de fevereiro pela  levanatamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

O governo não pode brigar com os fatos. O problema do Brasil não são os comunistas imaginários de Olavo de Carvalho ou a suposta conspiração militar do General Mourão, na qual acredita Carluxo. O problema do Brasil é reaquecer a economia, gerar empregos e com eles, mais consumo, mais renda e mais impostos entrando nos cofres da União, Estados e municípios.

O saudoso vice-presidente José Alencar dizia que o problema do Brasil são os juros. Empresário que se fez sozinho e criou o Coteminas, o maior grupo brasileiro de tecidos, ele bateu nesta tecla todos os dias, até que na transição do governo do presidente Lula para a presidenta Dilma, os juros eram os mais baixos desde o Plano Real, e o desemprego chegou à casa dos 4%.

José Alencar faz falta. Um corretivo nos “meninos” do presidente também.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .