07 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 25/04/2023 às 10:25

2024: eleição em Goiânia dá o que pensar

Até as convenções todas possibilidades continuam abertas. Foto - Montagem
Até as convenções todas possibilidades continuam abertas. Foto - Montagem

Pensando aqui, o Brasil continua polarizado, dividido, partido em dois. Não é em três ou quatro. Em dois. Um lado representado por Lula e o outro por Bolsonaro. Ou: dividido entre Lula e o bolsonarismo.

Digo isso porque Lula sempre foi maior que o lulismo, um conceito tão elástico como a disposição do próprio para juntar aliados de qualquer natureza ou espectro ideológico, e centrado na sua figura: sem ele, sobra o PT, ainda que o maior partido do País.

O bolsonarismo, ao contrário, é maior que Bolsonaro porque consegue sobreviver a ele. Falamos bolsonarismo mas estamos, na verdade, identificando um tipo de eleitor específico, que o elegeu presidente mas pode eleger com a mesma gana um Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, para a presidência.

A disputa em Goiânia pode muito bem reproduzir essa polarização. Neste caso, quem junta o bolsonarismo? O hoje prefeito da Capital, Rogério Cruz, pelo Republicanos? Gustavo Gayer, pelo PL, partido de Bolsonaro? Vanderlan Cardoso, pelo PSD? A ver: os bolsonaristas andam bronqueados com Vanderlan.

Do lado de Lula, um nome desponta: o da deputada federal Adriana Accorsi. Mas ela não quer, tenho ouvido de petistas, que apresentam outro nome, o do ex-reitor da UFG Edward Madureira. Será?

Se lembrarmos que uma eleição majoritária é construída de alianças, e que elas tem peso maior em um possível segundo turno, a questão passa a ser: qual desses nomes consegue puxar mais nomes e partidos para apoiá-lo?

Detalhe: Gustavo Gayer, caso seja o candidato do bolsonarismo, pode apostar exatamente na não-aliança, no contato direto com o eleitor. E isso não pode ser subestimado. O bolsonarismo já se mostrou eficiente na construção de narrativas e no plantio delas na mente das pessoas. Pode funcionar em 2024, como funcionou em 2018 e 2022. Lembremos que Bolsonaro perdeu por pouco. Ah, claro, se o bolsonarismo raiz não tiver racha. Major Vitor Hugo que o diga. Vanderlan? A questão permanece: onde enquadrá-lo?

E que força teria nesse cenário o governador Ronaldo Caiado? Ele representa o bolsonarismo? Está posto que não. E muito menos o lulismo ou o Lula. Um candidato seu tem mais chance de vitória por conta de sua boa avaliação? Pesquisas indicam que sim. Mas na prática isso pode acontecer?

Tem uma outra variável aí. O candidato pode ser um nome que, como Lula, puxe votos do extremo ao centro. E nesse caso, creio que um candidato alinhado com o presidente tenha mais chance do que um alinhado com o bolsonarismo. Mas isso em tese, porque na prática o bolsonarismo não é racional. Em Goiânia o empresariado está mais para Bolsonaro do que para Lula, por exemplo.

A pré-campanha em Goiânia terá papel decisivo nesse processo. Não para fazer disparar agora um nome ou outro. Mas para posicionar quem de fato sonha com a prefeitura. Até as convenções, todas essas possibilidades continuarão abertas, visto que essa será a hora de escolher lados.

Enquanto isso, o espaço aberto da pré-candidatura tem outro sentido: garantir um lugar ao sol, quer dizer, conseguir ser um nome consolidado e forte o suficiente para assegurar a sua candidatura.

E aqui há uma oportunidade, talvez, para o prefeito Rogério Cruz, com todos os holofotes voltados pra ele dia após dia. Claro, depende dele o que o holofote vai mostrar. Em todo caso, Rogério Cruz depende de Rogério Cruz para ser candidato. De todos, é o único nessa condição hoje.

Não é à toa que ele propôs a vice à filha de Caiado, Ana Vitória, que parece mais entusiasmado com outra Ana: Ana Paula Rezende, a filha de Iris. Um detalhe: Ana Paula, no MDB, que já lulou, e com apoio de Caiado, tem mais possibilidade que Gayer ou Rogério? Isso, naturalmente, se Rogério não atrair a outra Ana, o que básica tiraria a Rezende da disputa, ela que adia a decisão e, portanto, não faz pré-campanha (bom ou ruim?).

Há muito mais a ser considerado. Assunto que não acaba. Pensem, pensem.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).