19 de novembro de 2024
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Centrão derruba presidente do Banco do Nordeste

A demissão foi uma cobrança do Centrão, a um ano das eleições de 2022.. (Foto: Divulgação)
A demissão foi uma cobrança do Centrão, a um ano das eleições de 2022.. (Foto: Divulgação)

Por ordem do Palácio do Planalto, o Conselho de Administração do Banco do Nordeste (BNB) exonerou nesta quinta-feira, 30, o servidor Romildo Carneiro Rolim da presidência da instituição. A demissão foi uma cobrança do Centrão, a um ano das eleições de 2022. A saída se dá em meio à disputa pelo controle do programa de microcrédito, uma referência dessa modalidade de financiamento em todo o País.

Os empréstimos de pequena monta – em torno de R$ 2 mil a R$ 5 mil, em média – têm potencial eleitoral no Nordeste, região onde o presidente Jair Bolsonaro precisa melhorar seu desempenho. São 3,5 milhões de clientes ativos e R$ 15 bilhões aplicados ao todo, espalhados em mais de 2 mil municípios.

Essa carteira bilionária é cobiçada não apenas por políticos, mas por lobistas do mercado financeiro, que há anos tentam convencer parlamentares cearenses a pressionarem politicamente pela venda da operação mais lucrativa do BNB à iniciativa privada. O Banco do Nordeste é sediado em Fortaleza e costuma abrigar apadrinhados de políticos do Ceará.

O Conselho de Administração foi convocado a pedido do Planalto para fazer a mudança. A Casa Civil, chefiada pelo ministro Ciro Nogueira, negou a recondução do mandato de Rolim. Na véspera, Rolim havia feito um aceno público a Bolsonaro. Afirmou em uma transmissão ao vivo na internet que o BNB era “um braço de governo” e que recebia todo o apoio dele para ampliar a liderança no mercado nacional com seus programas de microcrédito

Ciro Nogueira, também presidente do Progressistas, maior partido do Centrão, mantém boas relações com o novo presidente interino e diretor de negócios do BNB, o advogado Anderson da Cunha Possa, também avalizado pelo PL. O partido, no entanto, fez chegar ao Palácio do Planalto que seu novo indicado para presidir o banco é Ricardo Pinto Pinheiro, consultor do setor regulatório de energia e saneamento.

A troca no comando do Banco do Nordeste, entregue por Bolsonaro ao PL, ocorreu três dias depois de o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, cobrar em público a substituição de toda a diretoria. Em vídeo, ele afirmou que Bolsonaro o questionou sobre o contrato de R$ 583 milhões, justamente no setor de atendimento ao microcrédito, com o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), cuja parceria com o BNB foi firmada em 2003, no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para apoiadores do atual governo, isso empodera politicamente os adversários de Bolsonaro.

Condenado e preso no escândalo do mensalão em 2012, Costa Neto falou em tom de moralização e levantou suspeitas sobre o contrato vigente há 18 anos, sem indícios anteriores de irregularidades. “Não podemos ter uma ONG contratada num banco da importância do Banco do Nordeste”, disse ele, que aos poucos abandona a discrição e começa a reaparecer em público ao lado de Bolsonaro. O ex-deputado nunca deixou de comandar o partido de fato e sempre seguiu articulando as principais decisões nos bastidores. O Inec afirmou que os recursos da parceria com o BNB são aplicados na operacionalização dos programas e que não recebe remuneração.

Recursos

Como revelou o Estadão, a disputa política pelo controle do BNB oculta um interesse pela carteira de microcrédito avaliada internamente em cerca de R$ 30 bilhões. O agora ex-presidente se opunha à venda da operação de microfinanças. Rolim é servidor de carreira do BNB e havia chegado à presidência no governo Michel Temer, mas se amparou em diferentes apoios políticos para permanecer na direção. Fontes do governo informaram que a equipe de Guedes não se opõe à venda da carteira de microcrédito.

Parlamentares precificaram o suposto elo com o PT como o “bode na sala” para convencer Bolsonaro a promover a troca da diretoria. Isso abriria espaço para uma diretoria politicamente favorável e promover a cisão das operações de fomento do desenvolvimento regional. Primeiro, a nova diretoria promoveria uma licitação do microcrédito, que tem potencial eleitoral, e depois permitiria a venda para um banco privado.

Por meio da operação, o BNB atende micro e pequenos empresários sem acesso a créditos em quantias baixas em outras instituições financeiras. Políticos da bancada cearense afirmam que o programa “Crediamigo”, para áreas urbanas, é o mais lucrativo e que alcança vendedores ambulantes, tapioqueiros e bordadeiras. O valor médio dos empréstimos é de R$ 2,7 mil. No programa “Agroamigo”, que tem como público-alvo o segmento rural, focado em agricultores familiares, o valor médio dos financiamentos fica em R$ 5 mil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Adriana Fernandes e Felipe Frazão – Estadão Conteúdo

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