22 de dezembro de 2024
Esportes • atualizado em 13/02/2020 às 09:31

Brasileirão derruba tese de que é preciso dominar posse de bola para vencer

Atlético-GO teve 46% de bola quando ganhou as partidas (Foto: Twitter CBF)
Atlético-GO teve 46% de bola quando ganhou as partidas (Foto: Twitter CBF)

O Campeonato Brasileiro de 2017 está derrubando uma tese que virou moda desde o sucesso do Barcelona de Pep Guardiola, hoje no metódico futebol inglês, de que no futebol vence quem tem por mais tempo a bola nos pés.

Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostra que nas 20 primeiras rodadas do Nacional, um time teve mais a bola nas vitórias do que nas derrotas.

Detalhe. Foi o Atlético-GO, ameaçado de jogar a Série B em 2018. Os dados mostram índices quase idênticos: 45% de posse de bola nos reveses e 46% nas conquistas.

Líder disparado do torneio, o Corinthians, que não perdeu nenhum jogo, tem uma média de 49% de posse de bola nos 14 jogos que ganhou, contra 60% nas cinco vezes que terminou empatando.

“A posse de bola é importante. Mas não adianta você ter a posse de bola e não saber o que fazer com ela. Muito se fala do Barcelona do Guardiola, mas olha quanto tempo aquele time ficou junto. Além, é claro, da qualidade”, disse Fábio Carille, treinador do Corinthians.

A maioria dos times se alinha ao comportamento do líder, exceção de Grêmio e Bahia. Eles têm a mesma taxa de posse de bola nos resultados bons e ruins.

Existem equipes, como o São Paulo, onde a posse de bola nas derrotas (59%) é bem maior do que nas vitórias (49%). O técnico Dorival Júnior sabe da ineficiência. Desde a derrota contra o Bahia, fora de casa, por 2 a 1, em 6 de agosto, ele bate na tecla.

“Temos que aproveitar a posse estabelecida em praticamente todos os jogos desde que chegamos”, disse o treinador, que é abertamente defensor de ter o controle do jogo, como tentou aplicar nos times que treinou. “A eficiência é importante”, diz.

Também na briga contra o rebaixamento, o Avaí é o time que menos ficou com a bola quando venceu os seus jogos. Foram cinco vitórias.

Em duas delas, fora de casa, por 2 a 0, contra Botafogo e Grêmio, a equipe de Santa Catarina teve 27% de posse.

“Meu time não é de muita posse. É um time bem vertical, que rouba a bola e procura atacar. Seria legal falar que marcaria sob pressão, que não daria chutão, só que sem o resultado não adianta nada. Se você quiser jogar de igual para igual, a tendência é você perder a maioria dos jogos”, afirma Claudinei Oliveira, técnico do Avaí.

CATENACCIO INGLÊS

Na Europa, a posse de bola continua em alta na Espanha e Alemanha, onde, por sinal, Guardiola trabalhou.

Os dois últimos campeões espanhóis sempre tiveram a bola nos pés. O Real Madrid ganhou em 2016/17, com 58% de posse de bola em média. Um ano antes, o Barcelona havia terminado na frente com 70% de média de posse.

O Bayern, nas duas últimas temporadas, registrou 72% e 70% de médias nas vitórias. O time alemão, na única derrota que sofreu na temporada 2015/16, ficou 78% do tempo com o controle do jogo.

Se na Espanha a ideia de ter a bola está arraigada, na França, o PSG, em 2015/16, apesar dos índices altos de controle do jogo, teve mais bola nas derrotas (70%) do que nas vitórias (66%).

Diferente da Europa continental, mas igual ao Brasil, na Inglaterra a posse de bola não está tão em alta assim.

O Chelsea de 2016/2017 esteve mais com a bola nos reveses (57%) do que em vitórias (54%). O time dirigido pelo italiano Antônio Conte – a Itália mostrou para o mundo o seu catenaccio, formação defensiva e pragmática– teve 30 vitórias e 5 derrotas.

Na temporada retrasada, o surpreendente Leicester ganhou o troféu também dominando pouco as partidas.

Apesar de a média ter sido maior nas derrotas (43%) do que nas vitórias (46%), o time dirigido por outro italiano, Claudio Ranieri, teve mais a bola do que o adversário em 3 das 23 vezes que ganhou.

Na primeira temporada na Inglaterra, no Manchester City, Guardiola não conseguiu implantar seu estilo preferido. Mas anunciou que seguirá perseguindo o sonho de “ter 100% da posse de bola”.

Como analisou Tostão em seu livro “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos”, o revolucionário mas não perfeito treinador espanhol não gosta que associam o termo tiki-taka com um jogo de passes sem objetividade. Só ter a bola, para os dois, não adianta.

(FOLHA PRESS)

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