A imagem da obra “Utopia Original” (2021), do artista goiano Hal Wildson, será usada na Emissão Postal Comemorativa: Bicentenário da Independência – Movimentos populares, que os Correios irão lançar no próximo dia 21 de junho. A obra, que é inédita, fará parte da exposição “Hal Wildson – Re-Utopya”, exposta na Galeria Movimento, na Gávea, Rio de Janeiro, a partir do dia 9 de junho e é o maior trabalho já feito pelo artista, atualmente morando em São Paulo, mas que é do Vale do Araguaia.
“Utopia Original”, de acordo com Hal Wildson, é totalmente feita com datilografia à máquina de escrever sobre fotocópias do livro “O povo Brasileiro” (Companhia das Letras, 1995), de Darcy Ribeiro (1922-1997). A obra mostra uma multidão em uma manifestação acenando bandeiras, imagem criada de várias fotografias de manifestações no Brasil. O artista destaca que está presente nesta obra o “pensamento da identidade e da ninguentude”, termo que criou em derivação ao “ninguendade”, cunhado por Darcy no livro.
“Através do conceito de Utopia e a ideia de um país em construção eu me apropriei de diversas imagens históricas de manifestações populares no Brasil, e criei, a partir daí, uma nova imagem, uma Utopia Reinventada a partir de lutas sociais e manifestações populares. Utilizando a palavra como objeto simbólico criei, ainda, uma imagem composta por milhares de letras, frases e palavras que propõem a reinvenção da utopia Brasileira através do poder da memória, como um lugar de luta e disputa por narrativas sociais”, explicou Hal Wildson.
Para o goiano, “o poder de contar e escrever a própria história” é também a possibilidades de construir um futuro mais justo para o Brasil, um projeto de futuro que possa valorizar narrativas de igualdade e de justiça social.
Ainda sobre o trabalho atual, o artista conta que o processo de construção das obras dessa série, iniciada em 2019, tem sua “inteligência técnica” vinda do bordado ponto cruz, que o artista aprendeu a fazer com sua avó. “Quadradinhos que você vai juntando e criando imagens, quase que pixels”.
“Para criar as obras com a máquina de escrever eu faço isso ao extremo. Primeiro faço um tipo de molde, com a marcação das áreas de cor. Tudo letras”, disse. Ele repete o processo em várias camadas, e “uma vai apagando a outra, que é uma metáfora do fato histórico, que um vai se sobrepondo a outro, vai criando uma nova realidade. Você apaga uma coisa e cria uma memória em cima do apagamento, do esquecimento, que tem muito a ver com essa linguagem poética do meu trabalho”.
Hal Wildson vai criar também dois múltiplos a partir de “Utopia Original”, um postal-arte com duas imagens extraídas do trabalho, com 30 exemplares cada. Acompanhará o múltiplo o selo oficial a ser lançado pelos Correios e intervenções poéticas do artista.
A exposição “Re-Utopya”, de Hal Wildson e com texto crítico do artista e curador Divino Sobral, apresentada a partir de 9 de junho de 2022, vai até dia 30 de julho e estará aberta das 18h às 21h na Galeria Movimento, na Gávea, Rio de Janeiro. Embora seja a primeira individual do goiano fora de Goiás, seu trabalho já pode, de alguma forma, soar familiar para o grande público.
Sua obra “República da Desigualdade – Meritocracia seja Louvada” (2018-2020) foi vista em rede nacional na abertura do documentário especial “Mães do Brasil”, produzido pela Favela Filmes e KondZilla Filmes, com direção de Kelly Castilho e John Oliveira, exibida pela Globo em dezembro. Naquele trabalho, imagens de arquivos nacionais de trabalhadores brasileiros, fotografia autoral e registros da infância do artista são plasmadas em notas de “zero real”.
E um vídeo poético seu, feito durante o processo de criação da obra “Singularidades” (2020/2022), viralizou, e alcançou a marca de mais de cinco milhões de visualizações no Instagram, sendo compartilhado também por artistas, como Vik Muniz. O vídeo postado em sua página era acompanhado de um pequeno texto: “Existe em nós um Brasil que vale a pena acreditar! Somos um povo que nasce e se encontra no desencontro das suas multiplicidades, que ultrapassa o tempo em processo de construir e fazer a si mesmo. Existe em nós muitos de nós, Brasis em construção e reconstrução, e é por acreditar que faço da minha arte uma semente de esperança, um martelo que quebra, um tijolo que constrói. Singularidade, Brasil, identidade”.
“Foi surpreendente”, comenta Hal Wildson, “porque pessoas de vários países se conectavam com a poesia do trabalho. Cada um em seu lugar, mas todo mundo sente alguma coisa. Estou falando de ser humano, de nossa origem”.
A obra “Singularidades” estará na exposição. É composta por 441 digitais do artista em tamanho real, coletadas no ateliê, nas marcas deixadas durante a produção do trabalho. E cada digital se mistura a um registro histórico do povo brasileiro – mestiços, como o próprio artista, indígenas, negros – de arquivos nacionais, coletados na internet.
“São retratos de identidade do Brasil que nos ajudam a olhar nossa história”, diz. “Este trabalho surge desta vontade, deste desejo de entender para onde vai o povo brasileiro. Em momento de crise – crise na saúde, crise na democracia, crise institucional, crise dos símbolos – como reconstruir o Brasil se o próprio povo não se reconhece mais? Se o próprio povo não sabe que existe possibilidade de um futuro?”, indaga.