O articulador que negociou a visita do candidato à presidência da república, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao Complexo do Alemão em outubro, afirma que vai processar o presidente Jair Bolsonaro (PL) por comentário que associa a comunidade ao narcotráfico. A declaração de Bolsonaro foi feita na sexta-feira (28), durante o último debate presidencial do segundo turno, na Globo.
No debate, Bolsonaro mencionou a visita de Lula ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, como um evento para se “encontrar com chefes do narcotráfico”, associando a comunidade da favela com bandidos. O jornalista, comunicador e articulador da visita de Lula, Rene Silva, declarou ao UOL que vai processar o presidente. Nas redes sociais, Rene se manifestou afirmando no tweet, em letras garrafais, que “FAVELADO NÃO É BANDIDO!”.
A visita de Lula à favela no Rio de Janeiro foi organizada por líderes comunitários, entre eles Rene, para que o candidato fizesse campanha, no dia 12 de outubro. Em entrevista ao UOL, o responsável por lideranças comunitárias para jovens, como o Voz nas Comunidades, relatou que entrada de Lula no Alemão foi feita na avenida principal, com participação de toda a comunidade.
“Passamos pela avenida principal, que é a Estrada do Itararé. Aqui, mesmo com a presença do poder paralelo, existe um programa da UPP desde a invasão da polícia, em 2010, há 12 anos. Não há possibilidade de a visita do Lula acontecer sem a presença e participação das autoridades policiais”.
LEIA TAMBÉM: Ato falho? Bolsonaro pede a Deus novo mandato de deputado federal
A postura de Bolsonaro foi criticada por internautas e pela imprensa. Muitos saíram em defesa de Rene, que trabalha nas comunidades do Rio auxiliando jovens a terem melhores condições de vida. Uma das que se pronunciaram foi a jornalista da TV Cultura, Vera Magalhães. “O Rene é um jovem líder comunitário brilhante, admirável na forma como atua, mostrando a favela como potência para além da violência. Não é admissível querer associá-lo ao crime”, afirmou.
Após o debate, durante coletiva de imprensa, ao ser questionado pelo repórter Ítalo Nogueira, da Folha de S.Paulo, sobre as mentiras que associavam a ida de Lula ao Alemão com um encontro com chefes do tráfico, Bolsonaro se irritou.
“Eu queria saber porque o senhor tem insistido nessa informação, enfim, nessa mentira, de que ele organizou”, questionou o réporter da Folha, após o presidente reafirmar a relação de Lula com os traficantes. “Você tem moral para me chamar de mentiroso?”, respondeu Bolsonaro.
O presidente então foi aconselhado por sua assessoria, entre eles o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, a abandonar a coletiva. O posto foi assumido por Moro, que tentou argumentar com o jornalista, respondendo que “Na verdade, essas questões são relacionadas ao apontamento de que existe uma política de insegurança pública nos governos do PT”, fugindo do assunto levantado pelo repórter.