Dá no mesmo. Quem manda na Câmara é o Palácio do Planalto.
Seja quem for o eleito hoje, em Brasília, para o terceiro cargo mais importante do Brasil na hierarquia do Poder – atrás da presidente Dilma e do vice Michel Temer – vai degustar das benesses servidas pela Presidência da República, quem realmente controla o cardápio há décadas, e não será diferente desta vez.
Só há promessas de independência. E nada mais que isso. E desde que mundo é mundo, promessa não passa de promessa – em especial se tratando de política e políticos.
Os deputados Eduardo Cunha (PMDB) ou Arlindo Chinaglia (PT) vão fazer o jogo do Palácio. Há uma disfarçável independência da Casa Legislativa nos discursos de ambos (escancarada, na voz do peemedebista, e discreta, na do petista).
Mas quem comanda o jogo ali é a horda que grita veladamente ou não por cargos, emendas parlamentares e verbas extras vias ministérios para as obras em suas bases eleitorais – e tudo isso não virá da caneta de Chinaglia ou Cunha, mas de Dilma Rousseff. E ponto.
O que está em jogo até este domingo, antes da eleição, na maratona de reuniões, almoços, jantares e promessas de Cunha e Chinaglia são as vantagens no varejo: o controle de uma comissão aqui, dez cargos comissionados num ministério ali, etc. Vazam para a imprensa o que querem, e isso tornou-se tão natural do jogo do Poder que nem causa mais espanto.
Os candidatos à Presidência da Câmara sabem que com essa turma se negocia no atacado – e quem manda nesse estoque é o depósito central, do outro lado da Praça dos Três Poderes. A dita independência do Legislativo Brasileiro é discurso repetido para a sociedade aplaudir. E nada mais.
O País assistirá a partir de hoje à derrocada desse discurso, gradativamente, no momento em que o petista ou o peemedebista subirem ao trono e começarem a visitar o Palácio. E o brasileiro cairá na real de que nada mudou, por ora, quando o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) for reeleito para o comando do Senado Federal. Um detalhe, o PMDB pode repetir nas duas Casas a supremacia do controle dos dois últimos anos, e escantear o PT que já não é tão unido mais.
O jogo só mudará sob pressão popular. O ‘gigante’ acordou em Junho de 2013, bateu forte à porta do Congresso Nacional, assustou os inquilinos, mas.. voltou para casa e dormiu. Mas há outro ‘gigante’ prestes a acordar. Ele está sendo despertado de seu sono profundo, pela operação Lava Jato, e deve bater às portas de gabinetes de parlamentares eleitos e não-eleitos em breve. Atende pelo nome de Justiça.
O verdadeiro ex-Eike
Muito, mas muito discreto e nada farrista como Eike Batista, o banqueiro André Esteves, controlador do BTG Pactual, tornou-se quase tudo o que Eike propalou que seria: um homem bilionário e de sucesso nos negócios.
Poucos ouvem falar de Esteves. Jovem de menos de 40 anos, tem uma carreira meteórica e brilhante à frente de uma das maiores carteiras de investimentos do Brasil – e soube fazer dela sua mina interminável de ouro.
Esteves não é dado a política. Carioca da Tijuca, cresceu no BTG como técnico, sem se associar a mandatários ou deles depender. Hoje, tem bilhões de reais de patrimônio, voa num jato particular de US$ 50 milhões, é chamado para jantares empresariais em toda parte do planeta e só fez um amigo político – Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, basta.
Ao contrário de Eike, que faliu centenas de acionistas grandes e pequenos, Esteves distribui riquezas em dividendos há anos. Um breve panorama de pagamentos a sócios e funcionários nos últimos três anos mostram o tamanho do império: foram R$ 1,2 bilhão distribuídos em 2014, apenas 10% a menos que em 2013, diante da economia em recessão. Em 2012 foram pagos R$ 1,16 bilhão a 2.195 colaboradores – ou R$ 532 mil em média para cada um, desde acionistas a funcionários.
Marqueteiro, vendendo vento durante anos, Eike acaba de deixar o conselho da OGX, a maior de suas marcas, do setor de petróleo, por pressão dos acionistas. Esteves nada de braçadas em extensos poços de petróleo comprados da Petrobras pelo BTG a preços de banana em países da África.
Entrou na mira dos políticos bajuladores. Por ora, só dos políticos.