O planejamento de elevar a aprovação do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) a 50% de aprovação até junho do ano que vem, estabelecido pelo empresário e marqueteiro Jorcelino Braga (Patriota), está ‘corretíssimo’. Essa é a avaliação traçada por Luiz Felipe Gabriel, presidente do Instituto Verus, especializado em estudos de mercado e opinião pública. Em entrevista exclusiva ao editor do jornal Diário de Goiás, Altair Tavares, ele afirma que atingir o percentual é um desafio mas que, com 40%, o atual chefe do Executivo municipal já estará no páreo para disputar a reeleição.
“A avaliação que o Jorcelino Braga fez em relação ao Rogério Cruz é perfeita. A meta não pode ser outra que não seja buscar esses 50% para o ano que vem, porque o Braga, hoje o mais proeminente marqueteiro de Goiás, com grande experiência, sabe muito bem que uma aprovação alta vai tornar a reeleição possível. Agora, o grande desafio é como chegar a esses 50%. Mas eu acredito que se ele conseguir levar para 40% ele põe o Rogério Cruz no páreo. Ele está corretíssimo na avaliação dele”, destaca.
Questionado se 40% seriam suficientes para credenciar Rogério Cruz para a disputa, Gabriel argumenta que um prefeito com 50% de aprovação sai como favorito. Mas, com 40%, já entra de forma competitiva para movimentar e aquecer a campanha.
Para o presidente do Instituto Verus, um percentual de desaprovação não é o mesmo de aprovação. Ele pontua que eleitores que tem uma avaliação regular podem optar pela continuidade, ou seja, pela reeleição do prefeito.
Se você tem 40% de aprovação, provavelmente você não tem os mesmos 40% de desaprovação. Você tem ali um contingente grande de pessoas que avaliam de forma regular e podem muito bem fazer uma opção pela continuidade. É bem plausível isso.
Luiz Felipe Gabriel, presidente do Instituto Verus
Na visão do especialista em pesquisas, a aprovação da gestão e do gestor são indicadores para um político pensar em reeleição de forma segura.
“É o principal indicador do desempenho de uma gestão. É a tal coisa, prefeito é igual casamento. É uma relação muito próxima, é muito íntima na cidade e você só troca de marido ou de mulher quando não está bom. Então, se para metade das pessoas estiver bom, a tendência é não arriscar uma troca. Em time que está ganhando, não se mexe. E a população já teve muita experiência de gestões ruins, já teve muita frustração, ao longo do tempo, em todas as instâncias. A tendência é muito forte de que um gestor que esteja com uma aprovação boa se reeleja. A não ser que tenha algum outro candidato muito atrativo, que ofereça uma perspectiva fantástica e isso é muito raro de acontecer. Via de regra um prefeito com uma boa aprovação tende fortemente a ser reeleito”, ressalta.
De acordo com Luiz Felipe Gabriel, o percentual que identifica uma boa administração é 50% mais um. Dessa forma, se metade das pessoas da cidade mais uma estiverem com uma visão positiva, há uma maioria absoluta de cidadãos aprovando a gestão.
“Nos outros 49%, digamos assim, você tem as pessoas que não sabem avaliar, você tem as pessoas que estão avaliando como regular, que geralmente é um volume grande, mais ruim e mais péssimo. Esses 49% restantes é uma situação diluída e você pode até brigar pelo voto do regular. Obviamente, em eleições polarizadas, você tem menos regular e mais ruim e péssimo. Então, a rejeição muito grande pode atrapalhar. Mas se o gestor tiver com uma aprovação acima de 50%, não é suficiente para impedir a reeleição dele. Agora veja bem, com menos de 50% vai bem também, entre 40 e 50% é um número razoável para se tentar a reeleição”, declara.
Índice de 50% de aprovação é cada vez mais raro, aponta Luiz Felipe Gabriel
Luiz Felipe aponta que, em cidades maiores, acima de 200 mil eleitores, a única possibilidade de um candidato ser eleito é tendo maioria absoluta, pelo menos 50% mais um de votos válidos.
Por outro lado, ele reforça que alcançar esses 50% de aprovação tem se tornado cada vez mais raro no Brasil.
O cidadão ele está mais exigente, mais cético, mais crítico, está polarizado, observando cada gesto e cada palavra dos dos candidatos e dos gestores. Então, você conseguir esses 50% é realmente um grande feito, não é para qualquer um. Agora, 40% é um número razoável.
Na visão de Luiz Felipe, a diferença entre avaliação da gestão e avaliação do gestor é irrelevante.
“Mesma coisa. A diferença é mínima e tende a ser irrelevante. O que eu penso do prefeito é o que eu sinto da prefeitura, o que vai me levar a votar ou não é uma avaliação conjunta. Se mistura a pessoa do prefeito com a gestão, se torna uma coisa única à medida que vai avançando a situação do pleito da eleição. Isso vai se fundindo, vai diminuindo essa diferença, a pessoa achar que a prefeitura está bem e não gostar do prefeito, por exemplo. São diferenças muito pequenas, as pessoas são mais complacentes geralmente quando vão avaliar a pessoa. ‘Não é má pessoa. Não é um bom prefeito, mas não é má pessoa’. Mas daí, ter uma aprovação é muito difícil, fica ali no regular. E realmente pode ser considerado como uma coisa só. O desempenho do prefeito fulano de tal, como está? Porque ele pode ser lindo, maravilhoso, ser uma pessoa muito agradável, mas se ele faz uma péssima gestão, a tendência é não gostar dele”, salienta.
Aprovação favorece, mas não garante vitória em caso de sucessão
Um dos pontos importantes levantado pelo especialista em pesquisas é que, caso haja a indicação de um sucessor que dispute a eleição com um candidato considerado forte, o índice de aprovação pode favorecer mas não garante vitória no pleito, apesar de ser muito importante.
“Eu tenho como transferir essa aprovação? Então, sou um prefeito com 50% de aprovação, final de segundo mandato eu tenho como transferir isso para o meu pupilo? É a pergunta que fica no ar. Essa é a pergunta que todo mundo quer saber. É a pergunta de ‘um milhão de dólares das eleições’, onde o prefeito já está reeleito. E não é fácil! Por melhor que esteja o prefeito, o cidadão que ele ungir, que ele botar a mão na cabeça, se tiver um adversário forte, ele não transfere. Eu voto na pessoa. Eu gosto do prefeito, eu quero votar nele. É óbvio que favorece muito fortemente um candidato indicado, que indica continuidade. Mas o índice de casos de fracasso dessa estratégia que a gente vê no Brasil afora é muito grande. Não tem nada garantido. É diferente ele ser candidato e ele indicar alguém, ungindo alguém. É um grande trabalho”, pondera.
Luiz Felipe Gabriel cita como exemplo o ex-prefeito de Goiânia, Darcy Accorsi (1945–2014), que tinha um alto grau de aprovação, teve diferenças com o PT, escolheu Valdi Camarcio, que era secretário de governo como seu candidato, mas uma boa parte do partido queria Pedro Wilson (PT), que venceu a eleição posterior em 2000. Também exemplifica com um caso ocorrido em Gurupi, no Estado do Tocantins.
“Você tinha o prefeito mais bem avaliado do Tocantins, ele estava batendo em 85% de ótimo e bom, o Laurez Moreira, que era o presidente do PSB nacional. Ficou proeminente, um potencial candidato a governador muito forte. Ele não conseguiu fazer o sucessor dele”, frisou.
Gabriel lista os motivos que causaram tal situação. “O outro lado ficou mais atraente, o outro lado tinha Josi Nunes (União Brasil), que era uma pessoa muito querida, de uma família tradicional. Então ela tinha mais proximidade com eleitor do que o que ele escolheu. Ele escolheu lá um dos secretários técnicos que não era tão político, não tinha uma carreira política anterior e não teve negócio, não ganhou. Ficou desesperado, xingando no final. E quanto mais ele xingava a candidata, mais ele perdia. Na realidade, ele gastou o crédito dele construindo uma imagem negativa que ele não tinha nem vestígio. Então isso é muito comum. Uma coisa é eu indicar o meu sucessor, um político conhecido, uma pessoa que tem um lastro próprio, tem uma adesão própria, não depende 100% de mim. Aí a chance já é maior”, sublinha.
O presidente do Instituto Verus recorda que prestígio favorece, mas não define os números de uma eleição. “A não ser que seja um deserto de candidatos, aí tudo bem, só tem candidatos desconhecidos, candidatos fracos, aí sim pode ter sucesso. Mas esse prestígio não se transfere facilmente não. Favorece, mas não define”, conclui.
Leia mais sobre: Campanha / Entrevista / Jorcelino Braga / reeleição / Rogerio Cruz / Política