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Após demissão de professor, docentes relatam obstáculos no ensino

A demissão do professor de sociologia Osvaldo Machado pelo Colégio Visão nesta quarta-feira (29/06), gerou manifestações de alunos e também de outros professores. Osvaldo foi demitido após ter uma questão usada por ele em uma lista de atividades divulgada e criticada em redes sociais pelo blogueiro Gustavo Gayer. Para docentes que também atuam lecionando Filosofia e Sociologia, situação expõe desafios das Ciências Humanas em Goiânia. 

Railton Nascimento de Souza, professor de Filosofia, lembra que esse espaço para a Filosofia e Sociologia na escola, no Brasil, sempre foi um espaço instável. “É importante considerar que os professores destas áreas sempre passam por questionamento dos conteúdos que ensinam, mesmo seguindo o currículo aprovados pelas universidades ou instituído nas próprias escolas”, afirma.

Souza ressalta que, mesmo seguindo o material didático da escola, haverá o questionamento, uma vez que é da natureza de áreas como Filosofia e Sociologia, promover a consciência crítica, analisar o comportamento social e criticar o senso comum. “É necessário que a sociedade compreenda que a nossa legislação é clara, e que deve se respeitar a liberdade de ensinar e de aprender, pelo pluralismo de ideias e de concepções”, destaca. 

Para o Professor Dumas, filósofo e sociólogo, um dos principais desafios, neste sentido, diz respeito à relação da educação com donos de escolas e também com pais de alunos. “Eles querem dizer o que deve ser ensinado em sala de aula, e não aquilo que é pedagógico para a formação do estudante”, aponta. 

Dumas destaca que também são desafios atuais o convencimento da escola, e de pais e mães de que as Ciências Humanas não são um perigo para a sociedade, a exemplo do que vem sendo colocado. “A escola tem fundamento e um papel social. Em nenhum momento professor, professora ou quem quer que seja pode transformá-la em um instrumento de doutrinação, sendo que é o docente que está apto a não fazer exatamente isso”, pontua. 

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O professor destaca, ainda, que a interferência no trabalho dos professores está muito latente na concepção da Brasilidade, e começou com a ideia de “Escola sem partido”, a partir da qual algumas pessoas têm centrado seus esforços condenar a atividade laboral dos professores.

“Em Goiânia, essa questão é ainda mais evidente. Aqui, sinto que isso está mais acentuado porque a educação goianiense, ela tem, de certo modo, como destaque, o Ensino Médio, “exportando” muitos vestibulandos. Além disso, isso se explica pela Capital ter se tornado uma cidade em que a escola privada, com respeito a algumas exceções, virou um comércio, então o capitalismo, assegurar o capital, parece estar sendo mais importante do que a formação humanística do estudante”, detalha.

Sindicato

Em nota, o Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (SINPRO – GOIÁS) repudiou os fatos e manifestou preocupação diante do ocorrido. Confira um trecho do posicionamento:

“Após a divulgação do vídeo, com evidente distorção da finalidade da questão cobrada na prova de sociologia, o professor foi demitido pelo Colégio e ofendido nas redes sociais do youtuber, o que causa preocupação e repulsa em toda a categoria dos professores, já que a liberdade de ensinar, de aprender e do pluralismo de ideias, princípios constitucionais estabelecidos nos artigos 205, 206 e 214 da CF/88, podem ser tolhidos em clara condição de perseguição política e social, o que afronta a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 5537, publicada em 17/09/2020.

É inaceitável qualquer interferência no conteúdo ministrado em sala de aula com a finalidade de ceifar o direito de propagação do conhecimento e do livre pensamento e, mais ainda, é intolerável a exposição indevida do professor, pois a sua imagem, honra, liberdade de expressão e de ensinar são direitos humanos fundamentais e irrenunciáveis”, diz o comunicado.

Manifestação

Diante da demissão, alunos do professor cobraram posicionamento do Colégio Visão. Um deles, declarou ao Diário de Goiás que os estudantes do Colégio não receberam nenhum posicionamento oficial da escola sobre o desligamento do professor. “Tudo começou por meio de boatos que surgiram entre os próprios alunos e que foram confirmados por alguns professores, amigos mais próximos dele”, disse um aluno ao Diário de Goiás.

“As aulas do professor Osvaldo eram ótimas. Todo mundo adorava a maneira como ele explicava e dava exemplos da sociedade, como ele buscava solucionar problemas da sociedade, como racismo e homofobia, ensinando a gente a combatê-los. Ele sempre manteve uma posição neutra e nunca expôs a opinião, e sim os métodos sociológicos”, complementou.

Maiara Dal Bosco

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