Publicidade
Saúde
| Em 8 meses atrás

Após 20 anos, Brasil retoma nesta sexta produção de insulina capaz de suprir demanda nacional

Compartilhar

Um dos países com maior incidência de diabetes no mundo, com 15,7 milhões de pacientes adultos, o Brasil retomou, nesta sexta-feira (26), a produção de insulina que estava parada havia 20 anos. A insulina é um hormônio que ajuda nos tratamentos da doença. Foi inaugurada nesta sexta, a fábrica da empresa Biomm, em Nova Lima, Minas Gerais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da inauguração da nova unidade. A estimativa do Ministério da Saúde é que a empresa terá capacidade de suprir a demanda nacional de insulina e assim não precise mais importar.

Publicidade

O investimento da biofarmacêutica Biomm na construção da nova estrutura foi de R$ 800 milhões. A fábrica terá capacidade para 20 milhões de unidades de refis de insulina glargina (de ação prolongada) por ano – e, na sequência, de canetas de insulina. Além disso, poderá fabricar 20 milhões de frascos de outros biomedicamentos. Entre eles a insulina humana recombinante. Conforme divulgou a Agência Brasil, a estimativa é de que a unidade gere 300 empregos diretos e 1,2 mil indiretos.

Publicidade

Ex-ministro Walfrido

Lula destacou a importância da fábrica para o acesso da população ao insumo e homenageou o trabalho do ex-ministro Walfrido dos Mares Gui. O ex-ministro é um dos sócios-fundadores e membro do conselho de administração da Biomm. Além disso, Walfrido é amigo de Lula e foi ministro durante os dois primeiros mandatos do presidente, entre 2003 e 2007.

Publicidade

Emocionado, o presidente contou a experiência de sua bisneta Analua, de 7 anos. Ela tem diabetes mellitus tipo 1. “Ela vive com aparelho no ombro, [conectado] com celular, cada coisa que ela come, ela tem que controlar. E o que é fantástico é que ela pede para mãe e para o pai aplicar a insulina nela, ela já não tem mais medo, já faz parte da vida dela. […]. Então, eu quero que a minha bisneta Analua saiba que esta figura simpática aqui [Walfrido] vai te dar tranquilidade para você viver mais do que eu e mais do ele está vivendo, porque a vida precisa que os bons vivam muito e que os maus descansem logo”, disse.

A doença

O diabetes é uma doença causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina. Insulina é o hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo. Ela tem a função de quebrar as moléculas de glicose (açúcar) transformando-a em energia para manutenção das células do organismo.

Publicidade

A doença pode causar o aumento da glicemia e as altas taxas podem levar a complicações no coração, nas artérias, nos olhos, nos rins e nos nervos. Em casos mais graves, o diabetes pode levar à morte.

Nísia aponta política industrial

De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, há mais de 20 anos o Brasil não tinha produção nacional de insulina e dependia apenas de produtos importados. “Para ter uma política de ciência e tecnologia em saúde que leve os produtos à população, temos que ter política industrial”, disse.

Dados do Atlas da Federação Internacional de Diabetes, divulgados pelo governo, alertam que o Brasil é um dos países com maior incidência no mundo, com 15,7 milhões de pacientes diabéticos adultos. “O que se faz aqui é garantia de vida para uma doença que nós temos que trabalhar com prevenção. Mas sabemos que, em muitos casos, não fugiremos da medicação, da insulina e de outros medicamentos que o SUS já fornece na assistência farmacêutica e Farmácia Popular”, disse a ministra Nísia Trindade.

A insulina glargina é indicada para o tratamento de diabetes mellitus tipos 1 e 2. No ano passado, em meio a risco de desabastecimento, o Ministério da Saúde fez uma compra emergencial de 1,3 milhão de unidades de insulina asparte (de ação rápida) indicada para casos de mellitus tipo 1. Esses casos concentram de 5% a 10% das pessoas diagnosticadas com a doença. Na ocasião, a pasta informou que as demais insulinas regulares mais consumidas estavam com estoque adequado para atender a rede do SUS.

Parceria

A Biomm é considerada uma pioneira no setor de biomedicamentos no Brasil. Ela está inserida na Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), lançada pelo governo em setembro de 2023. Até 2026, a previsão é de R$ 42 bilhões em investimentos públicos e privados neste setor industrial. A meta é reduzir a dependência do Brasil de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos de saúde estrangeiros.

No contexto da estratégia, a empresa participa do Programa de Parceria para o Desenvolvimento Produtivo do Ministério da Saúde. O programa envolve a articulação do governo com o setor privado. Fundada em 2001, a Biomm é uma empresa brasileira e atua na oferta de fármacos acessíveis para o tratamento de doenças crônicas no país.

Apoio do governo federal

Para implantar a nova unidade industrial em Nova Lima, a Biomm obteve R$ 203 milhões de crédito. O recurso partiu da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Também do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Outros R$ 133 milhões foram aportados via equity (participação acionária) pelo BNDES e BDMG.

Ainda durante o evento, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Biomm assinaram um protocolo de intenções sobre plataformas de produção de medicamentos para o tratamento de doenças metabólicas. O pano de fundo é o fortalecimento do Complexo Econômico  e Industrial da Saúde (CEIS) e a maior autonomia do Brasil na produção de medicamentos para o SUS.

Publicidade
Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.