O advogado e sócio de Maurício Sampaio, Neilton Cruvinel Filho, contestou vários pontos do inquérito que investiga o assassinato do radialista Valério Luiz e que culminou com a prisão preventiva de Maurício Sampaio e outros 3 suspeitos.
“Os advogados de Maurício, com convicção e veemência, garantem que ele é inocente”, declarou o advogado.
Além disso, Cruvinel suspeita que o executor confesso do assassinato, Marcos Vinícius, “é apenas a confissão de uma pessoa que parece plantada na investigação”.
A versão do advogado foi publicada no Portal 730.
VEJA A ÍNTEGRA:
Advogado aponta “inconsistências” em inquérito
Os advogados de Maurício Sampaio receberam uma cópia do inquérito fornecida pela delegada Adriana Ribeiro, responsável pela apuração do assassinato do radialista Valério Luiz de Oliveira. O documento aponta que a Polícia Civil seguiu uma única tese desde o início, a apontada por familiares de Valério. Segundo um dos defensores de Sampaio, Neilton Cruvinel Filho, “Maurício é absolutamente inocente e, por isso, não tem como existir prova contra ele”. Para o advogado o inquérito apresentado confirma esta conclusão.
Teria lhe causado surpresa que as dezenas de pessoas entrevistadas pelos policiais só foram perguntadas sob aspectos do envolvimento de Sampaio, “sempre nesta única linha de tentar provar sua participação”. Segundo Cruvinel Filho, seria impossível descobrir algo sobre seu cliente: “Nada foi apurado porque não há como se apurar algo que não ocorreu. De repente, do nada, aparece uma denúncia anônima dando o nome de um pretenso executor, disposto a confessar tudo”. O personagem mencionado é o açougueiro Marcus Vinícius Pereira, o Marquinhos, preso na sexta-feira. Segundo o inquérito, Marquinhos confessou o assassinato de Valério: “A polícia não investigou e descobriu Marquinhos. Ele caiu de paraquedas na investigação, a partir de uma denúncia anônima, pronto para confessar”.
Em sua análise, o depoimento de Marquinhos é “sem qualquer sentido”. Aponta contradições: “Primeiro ele diz que recebeu 10 mil reais, mas, minutos depois, já afirma que eram 9 mil”. Para o defensor de Sampaio, a confissão atende ao clamor social, “não ao conjunto probatório, que é muito frágil, mesmo depois de seis meses de investigação de quase uma centena de policiais”. A Polícia Civil admite que quatro delegados e 20 agentes investigaram o caso, mas fala-se em até 60 policiais usados no inquérito, incluindo diversos de outros Estados.
Ainda sobre Marquinhos, Neilton encontrou outros supostos equívocos: “Num só depoimento ele diz que pegou dois caminhos distintos para chegar ao local do crime”. A opinião da defesa é a de que, “aparentemente, alguém instruiu Marquinhos, fornecendo-lhe informações básicas para que ele desse um depoimento minimamente coerente, mas, como toda testemunha instruída, Marquinhos se contradiz sempre que lhe é perguntado algo minimamente fora do básico”. Cruvinel Filho identifica uma das falhas: “Por exemplo, no laudo pericial consta que foram seis tiros, disparados a dois metros de distância, por uma arma calibre 357. E Marquinhos afirma exatamente isso, que atirou seis vezes, a dois metros, com uma arma 357. Mas, perguntado sobre a marca do revólver, sua memória imediatamente piora. Ele diz não saber qual o fabricante da arma, pois não está com o revólver e que queimou a camisa usada no crime”. No inquérito, testemunhas se lembram de ter visto uma blusa vermelha, listrada. Alguns veículos da imprensa afirmam que o assassino estava de roupa preta.
Como já foi divulgado, Marquinhos garantiu à polícia que se comunicou com os agenciadores do crime por dois telefones comprados especificamente para isso, mas não sabe o número dos celulares. O advogado diz estranhar que, para um profissional do crime, o pistoleiro matou no meio da rua, durante o dia, uma pessoa pública que tinha a rotina divulgada em seu trabalho nos meios de comunicação. O açougueiro diz ter motocicleta, mas no assassinato teria usado a moto do pai, apresentada ontem pelos delegados. “Aquele que a polícia apresenta como exímio homicida nem se preocupou em usar um meio de locomoção sem relação com ele”.
Outro detalhe do inquérito ressaltado por Cruvinel Filho é quanto ao “roteiro cinematográfico” descrito por Marquinhos em seu depoimento: “Ele diz que ficou esperando no seu açougue, a vários quilômetros e muitos minutos de distância do local do crime e que, só após Valério sair da rádio, deslocou-se para lá, e já chegou atirando”. Cruvinel Filho, que atuou em outros casos e se considera pesquisador do tema, afirma que “o lógico de um pistoleiro seria ficar minimamente próximo ao que seria a cena do evento, esperando para abordar a vítima, e não de tocaia bem longe do local do crime”.
Cruvinel Filho cita outro trecho do depoimento no qual Marquinhos declara ter encontrado o sargento Djalma Gomes da Silva às 4 horas do dia do crime, 5 de julho de 2013. O advogado menciona que, “na mesma hora e dia”, Da Silva estava em outra cidade, numa diligência policial, em operação policial de combate a assalto nas estradas: “O Da Silva estava com outros militares apreendendo uma carga de cigarros roubados, o que certamente está amplamente documentado pela polícia. Ele só voltou a Goiânia durante a noite”. Da Silva integra a Polícia Militar e está preso desde sexta-feira acusado pela Delegacia de Homicídios de envolvimento na tragédia.
Segundo reportagens deste fim de semana, Marquinhos é um informante da Polícia Civil que há anos se envolve em crimes e faz acordo com quem o prende em troca de informações sobre outros autores de delitos. Policiais teriam dito aos defensores de Sampaio que Marquinhos é “o informante típico”, gosta de falar muito e “sempre tem alguma informação sobre tudo”. Não foi revelada pela polícia, que por diversas vezes contou com a colaboração do pistoleiro, nenhuma delação premiada de Marquinhos em que os envolvidos cumpriram pena. “O informante acaba virando um escravo do policial que o protege e decreta seu fim quando deixa de continuar prestando o serviço de entregar comparsas, inimigos ou quem seu credor mandar”.
A polícia escreveu no inquérito que Marquinhos contou ter sido contratado pelo motorista Urbano Carvalho, outro preso na sexta-feira. Para um advogado, Carvalho negou que conheça Marquinhos. Segundo o texto da delegada Adriana Ribeiro, Marquinhos coloca em seu depoimento que Carvalho e Da Silva se revezaram nos contatos para agenciar a morte do radialista. Um teria pago pelo crime, outro forneceu o revólver e os celulares e depois os recolheu. O advogado Cruvinel Filho diz que “é mais uma debilidade do depoimento e, portanto, do inquérito”: “Quem já atuou em desvendar crimes de pistolagem entende que não é usual neste tipo de situação duas pessoas atuarem para uma terceira executar”.
Cruvinel Filho lista diversas outras contradições no depoimento de Marquinhos e as qualifica de “enormes”: “Como o depoimento de Marquinhos é a única prova nos autos do inquérito entregue à defesa, teria de ser firme, mas está claro que não é, é apenas a confissão de uma pessoa que parece plantada na investigação”. Segundo Cruvinel Filho, “os advogados de Maurício, com convicção e veemência, garantem que ele é inocente”: “Por causa da pressão da imprensa, pegou-se um depoimento para condenar, antecipadamente e sem prova nenhuma, uma pessoa inocente, um homem honrado e respeitado, religioso, caridoso, humanista, enfim, um homem bom, que nada fez de errado e não tem relação nenhuma com a morte de Valério Luiz”. Segundo o advogado, a defesa lamenta “esta prática da polícia de prender sem provas para ver o que descobre, destruindo reputações, famílias, gente inocente”. Cruvinel Filho diz que está à disposição “de toda a imprensa para discutir o caso”.
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