16 de dezembro de 2024
Cidades • atualizado em 20/12/2020 às 08:11

“A paralisação é das empresas. Os motoristas querem trabalhar”, pontua presidente do Sindicoletivo

Passageiros esperam ao lado de fora do Terminal ao notarem que não há ônibus operando. (Foto: Divulgação)
Passageiros esperam ao lado de fora do Terminal ao notarem que não há ônibus operando. (Foto: Divulgação)

O morador de Goiânia e da região metropolitana que precisa utilizar o transporte coletivo amanheceu sem ter como usar o serviço neste sábado (19/12). A promessa das empresas é que o serviço seja interrompido também no domingo (20/12). Com exceção do Eixo Anhanguera, todas as outras concessionárias estão paradas. No entanto, o Sindicoletivo alega que não tem influência nessa paralisação e que as empresas estão tentando atribuir à categoria a responsabilidade pela interrupção no serviço. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo da Região Metropolitana de Goiânia (SET) negou qualquer interferência junto aos motoristas.

“Os motoristas estão parados porque as empresas não deixaram eles [motoristas] trabalhar. Não tem nada a ver com o trabalhador, não. Pegaram meia dúzia de testas de ferro só para falar que representavam os motoristas, mas é uma paralisação das empresas, não tem nada a ver com o Sindicoletivo. O Sindicoletivo é contra essa paralisação porque já temos um acordo na Justiça, queira sim ou queira não eles vão ter que cumprir isso”, explica em entrevista ao Diário de Goiás, o presidente do Sindicoletivo, Sérgio Reis.

Sérgio se refere ao acordo coletivo que foi decidido no começo de novembro e que suplantou qualquer possibilidade greve no transporte. Na época, as empresas concordaram em conceder um reajuste salarial a partir de 2021 no percentual de 3,75% e concessão de reposição de 5% no valor do ticket alimentação.

Reis pontua que os motoristas chegaram as empresas e as chaves já não estavam nos veículos. “A paralisação não tem nada a ver com os trabalhadores. São alguns trabalhadores bajuladores dos patrões, alguns mesmo, que não deixaram os outros sair. É uma greve forçada por parte das empresas, uma paralisação, no caso.”

“Estão forçando a ajuda do governo”

O socorro bilionário proposto pelo governo Jair Bolsonaro e vetado pelo próprio presidente, foi um duro golpe para as empresas que já contavam com o auxílio para manuntenção da operação. Com o veto, as empresas em Goiânia passaram a forçar a Prefeitura de Goiânia e Aparecida a aderirem ao Plano Emergencial proposto pelo Governo do Estado, algo que até agora não ocorreu.

Reis pondera que a paralisação é uma forma que as empresas encontraram de protestar contra o veto do presidente em não conceder socorro financeiro às empresas. “Essa questão do subsídio [financeiro do governo], eles têm que trabalhar em cima disso. O trabalhador tem que estar pronto ao seu trabalho. As empresas estão forçando uma ajuda do governo.” 

Ele reitera que uma nota de repúdio será emitida ainda neste sábado (19/12) e reforça que a paralisação não tem nada a ver com o trabalhador. Sobre os atrasos salariais e o descumprimento do pagamento do décimo terceiro, Reis reitera que há uma insatisfação por parte dos motoristas, mas esse não é o motivo da paralisação deste final de semana. “As empresas querem simplesmente colocar a culpa em cima dos trabalhadores, para que não haja uma comoção pública por parte dos usuários do transporte. Se fosse da nossa parte, teriamos avisado com 72 horas de antecedência.”

O que as empresas dizem?

Em entrevista ao Diário de Goiás, o presidente do SET, Adriano Oliveira, no entanto, destacou que não há qualquer interferência por parte do SET na paralisação e atacou contundentemente o Sindicoletivo. Oliveira explicou que os motoristas decidiram parar por conta própria. “Isso é uma inverdade, infelizmente, o Sindicoletivo tem exatamente essa prática. A única ação do sindicato é no sentido de tentar demonstrar a categoria que tem um posicionamento firme de contestação às empresas e ao sistema de uma maneira geral, sempre com mentiras, coisas que não condizem com a realidade.”

O presidente do SET explica que a paralisação se deu a partir dos motoristas e que todos os trabalhadores estão bastante ansiosos com o cenário futuro em meio a tantas crises. “Agora, estão dizendo que essa greve é nossa e não é. Esse é um sentimento da categoria, dos motoristas, dos funcionários das empresas que estão muito preocupados, e estão acompanhando desde o início da pandemia todas as nossas tratativas, a busca por uma solução para o transporte.”

Apesar da entidade se posicionar contrária à paralisação, Adriano explica que não houve formas de impedi-la, dada a gravidade da crise e da falta de pagamento das empresas com relação aos funcionários. Há empresas que sequer conseguiram fechar a folha de novembro e a maioria, não conseguiram quitar as parcelas referentes ao décimo terceiro. 

“Nós somos contra a paralisação. Neste momento, somos contra a paralisação deles, que é pacífica e ordeira. Nós, hoje, estamos sem qualquer tipo de moral para cobrar deles qualquer posicionamento diferente. Porquê? Porque já vimos e estamos vivendo há algum tempo descumprindo prazos de pagamento, parcelando salários, com uma série de dificuldades. Diante disso, não tivemos como impedir essa paralisação”, explicou.

O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo da Região Metropolitana de Goiânia (SET) já havia alertado que a situação estava caótica e beirava o colapso. Eles haviam comunicado à gravidade tanto a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e a Prefeitura de Goiânia para vislumbrar uma solução.

Em entrevista ao Diário de Goiás no sábado passado (12/12) o presidente do SET, Adriano de Oliveira, fez um resumo do cenário catastrófico que as empresas viam adiante. “As empresas ao longo desses nove meses mantendo um serviço que não parou nenhum um dia, mas nós temos sim, uma preocupação com tudo neste momento. Uma coisa era quando esse prejuízo operacional era de 20, 30 milhões e a gente buscava recursos no sistema financeiro para continuar operando. Hoje, esse valor já vai superar 70 milhões e o próprio crédito das empresas está ameaçado”, explicou Oliveira. Algumas empresas sequer conseguiram fechar a folha salarial de novembro e o décimo terceiro dos funcionários está comprometido.

Solução

As concessionárias estão trabalhando para que o serviço retome sua normalidade até segunda-feira. E afirma continuar na busca por uma solução para a crise instalada que, neste momento, a saída vislumbrada poderia ser o cumprimento, pelos municípios, do Plano Emergencial formulado pelo Estado de Goiás, que, inclusive, foi homologado parcialmente no processo judicial promovido pelo Ministério Público visando assegurar a manutenção da prestação do serviço de transporte público.

Adriano entende que se em especial as Prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia, entre as demais da Região Metropolitana aderissem ao Plano Emergencial proposto por uma Ação Cívil Pública do Ministério Público, possibilitaria um respiro temporário para a operação de transporte público. 

Adriano lembra que o serviço de transporte é público e o poder público deve dar a devida atenção. “Do mesmo jeito que estamos alertando estamos apontando a solução. Ao fazer o alerta, também não adianta apontar uma solução e a solução que a gente entende é que as prefeituras especialmente em Goiânia e Aparecida possam fazer adesão ao plano emergencial lembrando que esse plano emergencial foi proposto pelo Ministério Público por meio de uma Ação Cívil Pública do MP. O estado compareceu assumindo sua responsabilidade como um dos entes que compõem a região metropolitana de Goiânia e apresentou um plano e nesse plano a proposta do Estado é que haja uma recomposição do prejuízo operacional”, explicou.


Leia mais sobre: / / Cidades / Goiânia