11 de agosto de 2024
Brasil

Zika e crise derrubam nascimentos no país

O número de nascidos no Brasil em 2016 caiu 5,1% em relação ao ano anterior, interrompendo tendência de crescimento que vinha desde 2010. O fenômeno aconteceu em todas as regiões do país. O número de casamentos também sofreu queda -tanto para gays quanto para heterossexuais- e o de divórcios, por sua vez, aumentou.

É o que mostra a pesquisa anual Estatísticas de Registro Civil, divulgada nesta terça-feira (14) pelo IBGE.

Já era esperado que o número de nascimentos caísse em algum momento devido ao envelhecimento da população e da queda da taxa de fecundidade, mas a proporção do recuo surpreendeu os pesquisadores.

Houve 2,79 milhões registros de nascimentos, 151 mil a menos do que em 2015. Para se ter uma ideia, 96,5% dos municípios do Brasil têm menos de 150 mil habitantes.

Entre 2003 e 2010, o número de nascimentos oscilou sutilmente. A partir de 2010, a tendência foi de alta, até 2016. A queda neste ano foi a mais acentuada desde 2006.

Uma das hipóteses levantadas por pesquisadores do IBGE para explicar essa queda é o surto de zika, que inibiu mulheres de engravidarem. Reforça essa hipótese o fato de Pernambuco, que teve muitos casos da doença, ter tido a maior queda de nascimentos ocorridos e registrados em 2016 entre todas as unidades da federação.

O plano do motorista Taciano Torre, 31, e da mulher dele, a manicure Marina Gabriela dos Santos, 28, era aumentar a família entre 2015 e 2016. O sonho do segundo filho do casal recifense, porém, foi suspenso, pois no mesmo período Pernambuco era o epicentro da epidemia de microcefalia causada pelo vírus da zika -foram 2.353 notificações e 417 casos confirmados.

Na época, o casal chegou a contrair o vírus da dengue. “As notícias dos nascimentos dessas crianças nos deixaram com muito medo, aí tivemos que adiar a gestação”, diz Marina, hoje grávida de cinco meses de Maria Laura e mãe de Tácio Gabriel, de 9 anos.

Também é possível que a crise econômica por que passa o país tenha desincentivado casais. “Pesquisas do IBGE mostram que há relação entre crise, desemprego e nascimentos. As pessoas acabam adiando a decisão de ter filhos”, diz Barbara Cobo, coordenadora de população e indicadores sociais do IBGE.

PAPEL PASSADO

As pessoas também se casaram menos em 2016, tanto gays quanto heterossexuais. Houve redução de 3,7% no total de casamentos em relação a 2015 -41.813 a menos. A estatística só leva em conta casamentos de papel passado, excluindo outros acordos, como uniões estáveis.

“Isso também pode ser atribuído à crise econômica. As pessoas podem ter postergado a decisão de casar para não gastar com festas, por exemplo”, diz Cobo.

Isso aconteceu em todas as regiões para casais de sexos diferentes. Já para cônjuges do mesmo sexo, as exceções foram as regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde houve aumento nessas uniões de 1,6% e 7,7%, respectivamente.

Casamentos entre pessoas de sexos diferentes vinham aumentando desde 2003 de forma quase ininterrupta –a exceção foi 2009, quando houve uma pequena oscilação.

O mesmo vinha acontecendo com casamentos gays desde 2013 –aliás, de forma mais acelerada do que os heterossexuais. Naquele ano, o Conselho Nacional de Justiça aprovou resolução que determina que todos os cartórios estão habilitados a celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo no país.

Para Cobo, havia uma demanda reprimida pelo casamento gay, que passou por “boom” entre 2013 e 2015. A tendência, diz ela, é que a taxa estabilize a longo prazo.

Divórcios, por outro lado, aumentaram, mantendo tendência de anos anteriores. Os dados se referem a casamentos heterossexuais, não há dados sobre divórcios de casais do mesmo sexo. Em 2015, a taxa geral de divórcios havia decrescido de 2,41 divórcios a cada mil pessoas de 20 anos ou mais em 2014 para 2,33. Em 2016, o índice foi de 2,38.

Nos últimos dez anos, o volume de óbitos registrados teve aumento de 25%. A pesquisa compara o número de mortes por década, e não por ano. Isso decorre da redução das mortes de crianças pequenas, que fez com que um número maior de pessoas chegasse à velhice, gerando um envelhecimento geral da população.

Em 1976, menores de um ano e menores de cinco anos compunham 27,8% e 34,7% do total de mortos, respectivamente. Em 2016, esses percentuais passaram a 2,4% e 2,9%.

A sobremortalidade masculina aumentou nas últimas décadas. Em 2016, um homem de 20 anos tinha 11,1 vezes mais chance de não completar os 25 anos do que se fosse do sexo feminino. Em 1976, o valor era de 4,6 vezes.

(FOLHA PRESS)


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