05 de dezembro de 2025
DOSES MEDICINAIS • atualizado em 12/10/2025 às 18:04

Vodka russa injetada em sonda por médicos salva comerciante intoxicado por metanol

Sem antídoto disponível, equipe médica utilizou vodca com 40% de álcool para tratar comerciante intoxicado por bebida adulterada
Comerciante Cláudio Crespi ainda não está enxergando direito, mas deve ter alta neste domingo - Foto: reprodução Uol
Comerciante Cláudio Crespi ainda não está enxergando direito, mas deve ter alta neste domingo - Foto: reprodução Uol

Doses de uma vodca russa com alta concentração alcoólica foram ministradas via sonda por médicos, o que ajudou a salvar um comerciante de 55 anos intoxicado por metanol. O homem consumiu uma bebida adulterada em Guarulhos, na Grande São Paulo.

Internado há 15 dias, a expectativa de que o paciente tivesse alta neste domingo (12) se confirmou. Ele teve melhora sensível após receber as doses da bebida em quantidades medicinais, por sonda nasogástrica, durante quatro dias.

Conforme divulgou o portal Uol, a vodca foi levada durante uma madrugada por Camila Crespi, advogada, sobrinha do comerciante Cláudio Crespi, até o hospital em que ele estava internado, e onde chegou em estado muito grave. A bebida levada às pressas pela sobrinha tinha sido presente de uma amiga de Camila há cerca de cinco meses e era praticamente uma peça decorativa, já que o casal não bebe.

A contaminação

O comerciante tinha ingerido uma dose de vodca em um bar em Guarulhos e, no dia seguinte, em 27 de setembro, foi socorrido por um amigo que o levou para o hospital. “Ele já estava com bastante dor abdominal, confusão mental, não lembra como foi parar na UPA”, conta a sobrinha.

Os médicos precisaram entubar o comerciante assim que ele deu entrada em uma UPA porque ele tinha dificuldades para respirar. Segundo Camila, desde o início, os profissionais “perceberam a gravidade do caso”. Na sequência, ele foi transferido para o Hospital Municipal José Storopolli.

Já na entrada, médicos na emergência falaram do antídoto, mas o produto estava em falta no hospital. “Viram que não tinha o fomepizol nem o etanol farmacêutico, que é o que eles utilizam”, relembrou a advogada ao portal. Nesse ponto, um primo médico que também acompanhava a situação do tio, pediu para que a família fosse atrás de um destilado que tivesse mais de 30% de álcool na ausência do antídoto.

“Saímos de madrugada atrás do destilado e não tinha nada aberto. Meu marido lembrou da vodca russa que tínhamos ganhado de uma amiga de viagem. Fui para casa pegar a garrafa e voltei para o hospital. Entreguei a bebida nas mãos do meu primo médico, que viu que era 40% de álcool [precisava ser no mínimo 30%], e ele levou para a emergência junto com os outros médicos para administrar na sonda”, relatou Camila ao Uol.

Vodka com alto teor foi usada no tratamento Foto reprodução Uol
Vodka com alto teor alcoólico foi ministrada por médicos – Foto: reprodução Uol

De acordo com a sobrinha, o comerciante tomou a solução com a vodca russa por quatro dias. O período foi o mesmo em que ele ficou em coma para reduzir, assim, o índice de metanol no corpo. Além da bebida, ele fez hemodiálise e tomou uma solução com bicarbonato para “combater a acidez no sangue”. Para Camila, “o que limpou mesmo foi a hemodiálise”.

Visão ainda não voltou

Segundo o portal, o comerciante já fala e anda normalmente, mas a visão ainda não voltou totalmente. “Ele não perdeu a visão, está com baixa visão e não consegue ver as cores ou luminosidade. Está fazendo o tratamento com os oftalmologistas da equipe do doutor Fábio Ejzenbaum da Santa Casa”, explica a advogada. O procedimento também inclui o uso de corticoide para “desinflamar o nervo óptico”, relatou ainda.

A família ainda não pensou sobre abrir um boletim de ocorrência contra o bar. “Estamos preocupados com o bem-estar dele no momento”, afirma.

Etanol contra metanol

O uso de etanol deve ser feito por sonda, em ambiente hospitalar e sob supervisão de uma equipe de saúde. O produto é uma alternativa na ausência de medicamentos como o fomepizol com a intenção de desviar o funcionamento do fígado e assim reduzir a metabolização do metanol.

Atualmente, são 29 pessoas intoxicadas por ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas por metanol no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde, de sexta-feira (10). Goiás tem dois casos suspeitos. 


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