Texto originalmente publicado no blog do jornalista Luiz Carlos Azenha. Para ter acesso à íntegra, clique aqui.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, é um “ditador”, um “monarca”, que tenta calar a oposição e os críticos com ações na Justiça para reduzir o desgaste político causado pela associação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, na tentativa de se reeleger em 2014. É o que diz o deputado estadual Mauro Rubem, do Partido dos Trabalhadores, que avalia: apesar do desmantelamento da quadrilha de Cachoeira, condenado a 40 anos de prisão, pouco mudou na política de Goiás.
A ação do tucano contra Rubem se deu por conta de comentário feito no twitter. Ao sugerir a seus seguidores a leitura da reportagem A central de grampos de Marconi Perillo, da CartaCapital, Rubem comentou: “Com a central de grampos montada pelo governador, o ciclo da quadrilha de Marconi e Cachoeira se fecha”. O governador Perillo pede indenização de 100 mil reais. Liminarmente, obteve na Justiça decisão que obrigou o deputado estadual petista a remover o comentário e a evitar novas acusações contra Marconi nas redes sociais.
“O objetivo é calar aqui a oposição, calar os críticos e às vezes pessoas que nem são políticas, pessoas do povo, estudantes, que nem tem atividade político-partidiária… São cinquenta pessoas ou mais que são processadas diretamentre, mas as ameaças são muito fortes aos veículos de comunicação”, diz Rubem. Segundo ele, o governador usa notificações extrajudiciais para evitar que jornais e emissoras de rádio abram espaço para críticos dele. O petista estranha que muitos casos tenham sido decididos pelo mesmo juiz e que ele, Rubem, nem teve direito de defesa, como denunciou em entrevista a Leandro Fortes, de CartaCapital.
Dei uma de advogado do diabo e perguntei a Mauro Rubem se ele estava seguro da relação entre Perillo e Carlinhos Cachoeira: “Ela é totalmente provada. Ela tem diversos elementos, inclusive as gravações que foram colocadas no ar, tudo isso é real e verdadeiro. Quando nós temos um grupo, uma quadrilha instalada, efetivamente é um grupo de pessoas que estavam bem articuladas — e ainda estão, aqui no estado de Goiás — defendendo os interesses deste grupo, que foi o que financiou a campanha do próprio governador e tem relações bem diretas”.
O deputado diz que depoimentos dados à CPI que investiga a quadrilha na Assembleia Legislativa de Goiás apontam na mesma direção: o ex-senador Demóstenes Torres, por exemplo, entrou no governo Perillo como secretário de Segurança Pública já articulado com o grupo. Cachoeira, condenado a 40 anos de prisão, recorre em liberdade. “Esse grupo continua agindo com muita liberdade”, afirma Rubem.
Numa recente pesquisa CNI/Ibope, Marconi Perillo só ficou adiante de Sergio Cabral (PMDB-RJ). Só 29% dos goianos confiam no tucano, abaixo da média nacional de 38%.
“Ele não consegue andar nas ruas se não for com 50, 60 seguranças. E tem uma ação truculenta com qualquer pessoa que faz cobrança”, diz o deputado petista.
Prossegue o deputado petista: “Ano passado ele gastou mais dinheiro em publicidade, R$ 211 milhões, do que com a Universidade Estadual de Goiás, que tem quase 60 unidades espalhadas pelo estado, que é uma universidade importante para nós e não recebeu R$ 180 milhões”.
“Ele faz uma tentativa de recuperar a sua imagem fazendo obras de forma acelerada, preços altíssimos e qualidade duvidosa, tentando resgatar a imagem e se preparando para o ano que vem”, afirma Rubem.
“A gente está vendo aqui a refundação da monarquia dos Goyazes tendo como imperador o senhor Marconi Perillo”, acusa o parlamentar processado por Perillo.
Vai além: “Todo ditador tem de ter uma ação solta de repressões”.
Rubem se refere ao fato de que Goiás só recentemente, no início de 2013, ganhou uma delegacia de combate ao crime organizado, um estado que tem uma extensa lista de violações dos direitos humanos. De 1999 — quando o grupo político do governador assumiu o poder — até hoje foram 43 desaparecidos após abordagem policial em Goiás, além de 33 moradores em situação de rua executados.
Para o petista, este quadro não aconteceu por acaso: a impunidade seria essencial para o pleno funcionamento da quadrilha de Carlinhos Cachoeira.
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