23 de novembro de 2024
Política

Vilmar Rocha: “Vou até o fim, seja quem for o adversário”

 

Em entrevista a equipe de Jornal Tribuna do Planalto, Vilmar Rocha diz que não desistirá do Senado. Nem mesmo se o adversário for Iris

 

O deputado federal Vilmar Rocha (PSD) se desincompatibilizou no fim do ano passado da secretaria da Casa Civil para um novo projeto em sua carreira política. Após sete mandatos de deputado estadual e federal, Vilmar tenta se viabilizar para disputar a vaga goiana ao Senado. O projeto, aliás, já foi anunciado há muito tempo. Se não conseguir, o deputado não deverá ser candidato a nada, pois já passou as suas bases políticas a outros candidatos à Câmara Federal. Ele, porém, está muito confiante em conseguir ser candidato. Na entrevista a seguir, concedida na sede da Tribuna, na segunda, 27, Vilmar diz que não teme nenhum candidato, nem mesmo o ex-governador Iris Rezende (PMDB), caso seja candidato – algo difícil, mas que há quem acredite. Em relação à corrida para o Palácio das Esmeraldas, Vilmar acredita que o “povo ainda não cansou” do grupo que está no poder e acredita que o novo mote para a base aliada deve vir das vozes que ecoaram nas ruas, em junho de 2013.

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Tribuna do Planalto – Qual o balanço que o senhor faz da passagem pela secretaria da Casa Civil?
Vilmar Rocha – Pessoalmente e politicamente, foi muito gratificante para mim. Foi muito positivo e pude, ali, realizar um trabalho ajudando o governador Marconi Perillo. Aquela é uma secretaria estratégica, de muita confiança do governador; todos os assuntos passam por lá. Conseguimos agilizar, facilitar o pleito das outras secretarias, no encaminhamento do assunto dos seus interesses específicos. Do ponto de vista jurídico, legislativo ou administrativo. Além do mais, fiz, para o governador, na Casa Civil, uma coordenação administrativa de acompanhar os assuntos das demais secretarias e o ajudei a fazer uma gestão política do governo. E destaco aqui que não pode haver um bom governo sem uma gestão política, que é articular forças políticas, sociais e econômicas, forças da sociedade, a favor de um projeto de governo. Nós fechamos o ano de 2013 com muito otimismo. Achamos que o resultado do governo foi muito positivo, tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista administrativo. E a prova disso, que todas as pesquisas nos revelam, é a recuperação do prestígio do governo, como também do governador, que está recuperando sua imagem, atingida naquela crise política de 2012.

Fazer essa gestão política foi complicado em se tratando de uma base que tem interesses de 14 partidos?
É difícil, por isso é que gostaria de destacar a habilidade do governador Marconi Perillo, e do governo como um todo, para depois de três anos chegar com uma base absolutamente coesa em torno de um projeto. A maioria dos deputados estaduais e federais está de acordo com a continuidade desse projeto. Temos chapas articuladas muito fortes. E, chegamos à nossa chapa majoritária bem encaminhada, também. É difícil, mas esse trabalho, pelas razões que dei aqui, obteve sucesso.

A recuperação do governador pode ser plena, já que ele já tem 16 anos no poder? Ou também há o desgaste natural?
Todos nós sabemos que há um desgaste natural de todo grupo que fica muito tempo no poder. Mas tenho visto que nosso projeto, e tenho confirmado isso com a sociedade, não está esgotado. É um projeto em andamento e desenvolvimento. Já disse várias vezes que, quando um projeto está esgotado, deve ser mudado. Só que, na nossa avaliação, nosso projeto tem energia e força para continuar. O desempenho do governo é visível: obras, serviços, ações e projetos que estão em andamento. Ainda temos fôlego para tocar esse projeto. Estamos procurando nos reciclar, apresentar um projeto novo.

Qual seria o mote dessa vez?
Acho que o mote do futuro, não só nosso, mas da política brasileira, é sintonizar a pauta da política com a pauta das ruas. Hoje, muitas vezes há uma distância entre os dois. Um exemplo palpável disso: por que a população está reagindo em relação à Copa aqui no Brasil? Não é contra a Copa, é contra os gastos exagerados com a Copa. A população pensa assim: por que não pegar esses gastos e aplicar, por exemplo, na mobilidade urbana? Já imaginaram um trabalhador, no Brasil, levar duas horas para ir e voltar do seu trabalho todos os dias? Essa questão deve ser vista com absoluta prioridade, pois é a pauta das ruas. Temos que priorizar isso. Claro que sabemos que esse é um problema estrutural. Estava vendo, em 1970, há 43 anos, havia aquela música “90 milhões em ação, pra frente, Brasil. Salve a seleção”. Tínhamos 90 milhões de habitantes e sua maioria morava na zona rural. Hoje temos mais de o dobro de habitantes e grande parte mora nas cidades. Observo muito que, nas cidades médias de Goiás, há muito problema de congestionamento.

É possível trazer metrô para Goiânia?
É mais complicado, mas a questão do VLT está avançando. A ideia é colocá-lo no lugar do Eixo Anhanguera e depois estendê-lo a Senador Canedo e Trindade. Há um projeto da prefeitura do BRT, na Avenida Goiás, também. São medidas que podem melhorar essa questão. Mas, além disso, há algo que não está resolvido: a questão da relação do poder público com as empresas de transporte público em Goiânia. E deve-se encontrar uma solução para esse problema. Essa é a pauta da sociedade.

Qual seria outro exemplo de pauta da sociedade?
A questão da saúde. Há pessoas que vão a um posto de saúde, mas não tem médico. E outras vão a hospitais, mas não tem leitos. A segurança também, que nem preciso exemplificar. Os políticos precisam apresentar projetos e soluções para aquilo que as pessoas querem.

Esses, então, serão bons motes para 2014?
Sim, são realistas. Não adianta ficar bolando planos mirabolantes se você não resolve questões básicas para o cidadão comum. Em duas ou três décadas, por exemplo, o problema da educação girava em torno de vagas, que não tinham. Hoje esse problema está resolvido até no Ensino Superior. O problema agora é a qualidade, que é uma pauta para o futuro do Brasil. Não teremos segurança, saúde e transporte sem uma boa educação. Em pesquisas, perguntamos quais as prioridades do povo e eles respondem segurança ou saúde. Mas eu acredito que devemos investir mais em educação, porque a população vê seu problema mais imediato, mas, atrás disso, há a questão da educação. São nesses eixos principais que temos que pensar nossas pautas do futuro.

O sr. colocou seu nome como pré-candidato ao Senado. Por que o sr. gostaria de ser senador?
Antecipei minha candidatura e, nesse sentido, fugi do figurino clássico de que os candidatos negam a candidatura e adiam para os últimos momentos. Não eu. Eu me considero preparado para o Senado e trabalhei ao longo dos anos para isso. Tenho uma vasta experiência parlamentar, com sete mandatos; tenho uma base de cultura política e jurídica, que acho que importante para o cargo; e hoje tenho uma visão da política, e isso os anos que vão nos dando. Minha visão hoje é muito mais de Estado do que de governo. Temos que visar o médio e o longo prazo, medidas mais estruturais. E esse é o papel do senador.

Alguns aliados dizem que sua indicação ao cargo é mais por amizade com o governador. Por que o sr. acha que existe essa resistência?
Isso é natural. Toda unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. Mas estou seguro de que a maioria expressiva da base me vê como um nome qualificado para o cargo, até mesmo pela minha participação histórica na base. Se nós ganhamos essas últimas quatro eleições foi com meu apoio e trabalho. Então, majoritariamente, acredito que meu nome é bem visto para o cargo de senador.

O sr. poderia abrir mão desse projeto para o governador agregar mais aliados ao projeto?
Não vejo necessidade de eu abrir mão. Claro, todos os pré-candidatos sabem que a política é muito dinâmica e que até as convenções de junho pode haver alguma alteração. Mas não trabalho com essa possibilidade, e sim com a concretização da minha candidatura.

Tem alguns aliados que veem os nomes de Vanderlan Cardoso e Ronaldo Caiado, que já foram da base aliada e não têm ainda um projeto sólido, como alternativas que podem agregar à chapa. Como o sr. analisa?
Eles podem agregar e queremos agregar o máximo possível. Esse foi nosso trabalho por todos esses anos. Eles podem agregar ou sendo candidatos a outros cargos, ou não sendo candidatos e nos ajudando.

O sr. acha que Marconi é o nome certo dentro da chapa?
Sim. É o único nome que efetivamente une a base para 2014.

Apesar dos desgastes, ele consegue unir a base toda?
A base já está unida, agora vamos para a disputa eleitoral. No evento que fizemos no final do ano aqui em Goiânia, viu-se uma coesão imensa da base, em prol da candidatura de Marconi. E ele é o único que mantém a base unida e não trabalhamos com outra hipótese, senão sua reeleição.

É estratégico ele dizer que não é candidato?
É. Assim ele passa o recado de que agora está focado na sua gestão. E, se ele fizer uma boa gestão, terá repercussão político-eleitoral. Terminamos o ano muito bem, com muitas obras em todos os setores. As obras de infraestrutura terão uma pausa agora, devido ao período chuvoso, mas depois retornarão com todo o vigor. Na área da segurança, por exemplo, já agregamos quase mil pessoas na Polícia Civil e, nesses três anos, mais de três mil novas pessoas no Corpo de Bombeiros e na Polícia Militar. E agora está em andamento um projeto novo no Brasil, o Simve (Serviço Militar Voluntário), que já agregou 1.300 homens e, em 2014, deve agregar mais 1.300. Além disso, no ano de 2013, desenvolvemos um projeto na educação muito vitorioso. Temos hoje mais de mil escolas. E fizemos um projeto de reforma das escolas, sendo que passaríamos o dinheiro direto para a escola e o conselho escolar decidiria o melhor destino para a quantia. Foi um sucesso. E também, na área do crack e drogas, que é um problema nacional, foi criado um grupo executivo que fez um convênio e está repassando o dinheiro para dezenas de entidades que cuidam de drogados, e estão sendo construídos seis Credeqs em Goiás. E, ainda na área da saúde, tomamos duas medidas no último ano que foram essenciais para tirá-la das páginas dos jornais: o fundo estadual de saúde e a terceirização da gestão dos hospitais públicos para as OSs.

Em relação à segurança, a folha de pagamento do Estado já é muito carregada. Há condições de aumentar o número de funcionários efetivos?
Na política você lida com o mundo real, com a vida, botar a mão na massa, nas carências e nas disfunções. No mundo acadêmico e intelectual, você lida com as ideias certas, com os conceitos, com os princípios. Dito isso, vivemos numa situação, aqui no Brasil, em que vários jovens deixam o serviço militar obrigatório e ficam sem emprego, ou são cotados para o mundo do crime. Isso é mundo real. Do lado, temos a necessidade de gente, se possível, com o custo menor. Então foi formulado o Simve, em que o custo para o Estado é menor. Essa é a vida, são as circunstâncias. Talvez não seja o ideal, mas a vida não é uma linha reta. E o político tem que ter a sensibilidade de lidar com isso e meter a mão na massa para fazer as coisas acontecerem. Se erra, corrige, mas deve fazer alguma coisa. Não se pode ficar de braços cruzados ou querer fazer tudo milimetricamente correto.

Em relação ao PSD, seu partido, o que o sr. espera nas eleições?
O partido vai fazer, em setembro, três anos. E temos tido um enorme sucesso, porque, em um ano, construímos uma estrutura que chegou ao posto de terceiro maior partido do Estado. O primeiro é o PMDB, o segundo é o PSDB e o terceiro é o PSD, em número de deputados estaduais e federais, prefeitos e vereadores. Tivemos um enorme sucesso. O partido está unido e coeso, e esperamos para a eleição eleger de três a quatro deputados federais, de cinco a seis deputados estaduais e um senador, que a modéstia me impede de dizer. (risos)

O sr. como pré-candidato ao senado, pode ter como concorrente o ex-governador Iris Rezende (PMDB). Como avalia essa possibilidade?
É um nome forte. Iris tem uma história em Goiás e é um político importante. Mas, para fazer uma brincadeira, que venha o Iris. Isso significa que não vou mudar nada do meu projeto nem por ele, nem por qualquer candidato. Quem conhece minha história sabe que sou uma pessoa determinada. Por exemplo, em 2006, todos vieram a mim e me pediram para não ser candidato, pois sabiam que, à época, o partido só elegeria um deputado federal, porque não coligou com ninguém. E eu não seria eleito. Mas disse que iria até o fim, porque era o fundador do partido e que tinha muitos companheiros que dependiam da minha candidatura. Tive 74 mil votos e fiquei sem mandato, mas nunca me arrependi, pois foi uma decisão coerente. A mesma coisa agora. Vou até o fim, seja quem for o adversário.

E o deputado Ronaldo Caiado, que também tem entre seus projetos o Senado? Vocês já foram do mesmo partido e tiveram um embate. Como seria?
Nem sei se ele será candidato. Sobre as decisões dele, pergunte a ele. (risos)

Por que essa pergunta sempre irrita o sr.? Só se vê o sr. sair do sério quando fala-se em Caiado.
Não irrita. Não se trata disso. Não cabe a mim, que sou político e candidato, ficar falando de outros políticos e candidatos.

Mas o sr. falou do Iris.
Falei do Iris, mas não sei se ele será candidato.

E se o Marconi for candidato ao Senado?
Isso é muito pouco provável. Ele é candidato ao governo. Caso isso não aconteça, acho que ele não é candidato a nada.

Em relação ao José Eliton, é o melhor nome para vice?
Ele está se firmando como um nome para a base. Pode haver mudança, mas estamos falando do momento atual. Acho que qualquer candidato deve trabalhar para viabilizar seu nome até as convenções.

Vocês trabalham juntos para viabilizar essa chapa que já está praticamente montada?
Claro. Na chapa majoritária, os três candidatos devem convergir e trabalhar juntos.

Como o sr. viu a saída do deputado Armando Vergílio do PSD?
Usei uma expressão e repetirei: ele não estava feliz no PSD. Incentivei-o a buscar suas oportunidades. Sempre é ruim perder aliados, mas é a vida. Em contrapartida, trouxemos para o PSD o José Mário Schreiner, que é um líder do agronegócio moderno, presidente da Faeg, e é um dos nossos nomes mais fortes à Câmara.

Em relação à aliança, ainda há espaço para a base trazer mais partidos?
Já estamos com 14 partidos. É muito expressivo. E, se formos somar o tempo de televisão deles, dá mais de 10 minutos, ou seja, 50% do tempo. Mas, se for possível agregar, quanto mais melhor.

O sr. é a favor de buscar o DEM e o PSB?
Sim. Não só esses dois, mas também outras forças políticas, partidárias e sociais. Quem quiser vir, estamos de braços abertos. O que se questiona, é se essas forças virão para ocupar determinados espaços. Isso não é provável, até porque esses espaços já estão ocupados legitimamente, por pessoas que já estão na base.

Seria difícil desatar alguns nós com lideranças do DEM e do PSB?
Não. Em política isso é possível, essas coisas acontecem, avançam e evoluem. Eu vejo possibilidades. Uma coisa é ser possível, outra coisa é ser provável. Eu acho possível, mas pouco provável.

Seria traição ao sr. e ao José Eliton se uma pessoa chegasse de última hora à base e ocupasse um espaço na chapa majoritária?
Não, porque isso não vai acontecer. Até porque não é interessante para a vitória da chapa excluir forças tão expressivas que nós representamos.

Há espaço ainda para o mote da ‘panelinha’?
Não. Aquilo representou um determinado momento político. Temos que pensar em novas coisas de agora pra frente.

E há espaço para a oposição vir com o mote da ‘panelinha’?
Há espaço, só que não vai colar.

A música de 98 fala que “o povo dá o poder quando quer, mas também tira quando cansa”. O povo não cansou?
Acho que não. Na Europa, o regime é parlamentarista, mas há uma eleição entre os parlamentares. Margareth Tacher ficou muito tempo no poder, Angela Merkel está a muitos anos no poder e há outros exemplos. Só acho que deve haver alternância quando cansa, e não acho que o povo está cansado.

A popularidade baixa não é um sinal?
Mas ela está sendo recuperada. Enfrentamos uma grande crise em 2012 e a superamos. Você vê que há uma recuperação crescente do governo e da imagem do governador. E digo mais, essa recuperação é surpreendente. Já está em 36% a 38%, e acreditamos que em abril ou maio estará acima dos 40%.

Desde que Marconi se elegeu governador pela primeira vez, o sr. acredita que esta será a eleição mais difícil?
Não. Toda eleição é difícil e quem já disputou sabe disso. Tudo depende do momento ou da circunstância.

O sr. espera uma oposição unida ou desunida para concorrer ao governo?
Uma coisa é esperar, outra é desejar. Eu desejo que ela venha desunida, é claro (risos). Mas acho, e não quero entrar em juízo de valor sobre a oposição, mas, olhando de longe, ela está em movimento, mas ainda não está definida.

Essa desunião favorece o atual quadro da base aliada?
Essa desunião e briga interna do atual quadro nos favorece. Mas acho que as definições pra valer serão tomadas em março ou abril, que é quando acredito que o quadro se tornará mais nítido.

Iris, Friboi ou Gomide: quem é mais temido?
Isso depende das circunstâncias. Cada um tem sua característica e perfil próprio. Não temos essa avaliação. Por enquanto, fazemos uma avaliação na nossa base, que vai muito bem, obrigado. Que eles lá se organizem e se apresentem.

O sr. acredita que pode enfrentar Friboi e Gomide em chapas separadas?
Acho que se o Friboi for o candidato do PMDB, o Gomide será candidato, na minha avaliação. Pelo que vejo, o PT não apoia Júnior do Friboi. Se for o Iris, aí o PT não deve lançar candidato.

 


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