07 de agosto de 2024
Negociação conflituosa • atualizado em 16/09/2022 às 11:53

Venda da Enel vira polêmica entre candidatos ao Governo de Goiás

Candidatos apresentam divergência de opinião e disparam ataques sobre negociação envolvendo companhia italiana
Fachada da Enel Goiás; negociação da empresa é alvo de conflito entre candidatos ao Palácio das Esmeraldas (Foto: Divulgação/Enel)
Fachada da Enel Goiás; negociação da empresa é alvo de conflito entre candidatos ao Palácio das Esmeraldas (Foto: Divulgação/Enel)

O futuro da Enel e as negociações que podem consumar na venda para outra empresa tem sido alvo de polêmica e divergência de opiniões entre os candidatos ao Governo de Goiás. O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) tem sido um crítico ferrenho da companhia italiana e mesmo antes das eleições, já dizia que queria o grupo fora do estado. Já o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (Patriota) busca sair em defesa de uma alternativa e até já culpabilizou o governador pela crise.

O assunto foi o tema central entre os candidatos ao longo dessa semana que trocaram farpas por meio de sabatinas e entrevistas realizadas por veículos de comunicação. Ao passo que o governador Ronaldo Caiado acentua as críticas à companhia, prometendo que até o fim do ano a italiana já não estará mais em Goiás, Gustavo Mendanha defende situações paliativas. Outros candidatos como o empresário Edigar Diniz do Novo, endossa o coro para que outra empresa assuma a concessão da companhia. 

Pela esquerda, o professor Wolmir Amado (PT), a socióloga Cintia Dias (PSOL), o professor Pantaleão (UP) e Professora Helga (PCB) também defendem que a Enel vá para longe de Goiás, mas também querem que os serviços de fornecimento de energia sejam assumidos pelo Estado com sua reestatização. Já o bolsonarista Vitor Hugo (PL) também criticou o modelo de concessão firmado entre Governo de Goiás e companhia, mas ainda não ficou claro se defende a continuidade da Enel ou outra alternativa com ela também fora do estado.

Caiado quer Enel distante de Goiás e Mendanha o acusa de “mentira eleitoreira”

Em sabatina concedida a TV Anhanguera, Caiado disse que o processo de caducidade da companhia estava em andamento. “Ainda quando estava no Senado, nos meus maiores embates, eu já mostrava no que isso daria. A venda da Celg levou aos cofres de Goiás mais de R$ 12 bilhões em dívidas, valor que o cidadão paga”, destacou o governador.

O democrata ainda cravou que não há reversão para continuidade da companhia italiana em solo goiano. “A caducidade do contrato com a Enel vem em função do não cumprimento daquilo que está nele. Se a Enel não cumpriu, isso provoca a caducidade. Posso assegurar o que estou dizendo, pois falei com o ministro de Minas e Energia. A Enel não tem como mais recuperar a média sobre quedas e horas sem energia elétrica”, completou, ressaltando que a quantia exigida para a continuidade do contrato era de aproximadamente 12 horas de média sem o fornecimento. Em cinco anos de execução de serviços, a empresa soma, em média, 18 horas sem o serviço.

Por meio de nota, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que monitora o cumprimento das condições contratuais das distribuidoras, no entanto, diz que no caso específico da Enel GO, “não há na Agência processo instaurado para troca de controle societário”.

Enquanto Mendanha defende soluções alternativas à crise de energia, Caiado quer a Enel fora de Goiás (Foto: Montagem DG com fotos de assessorias)

Mendanha logo reagiu às falas de Caiado e tornou a entrar no assunto novamente em sabatina realizada nesta sexta-feira (16) à Rádio Bandeirantes Goiânia, promovida em conjunto com o Diário de Goiás. “O governador teve quatro anos para resolver o problema da energia em Goiás e nada fez e agora diz que a concessionária, que realiza um péssimo serviço perderá o contrato por caducidade até o fim do ano. Ao contrário do governador que comete uma mentira eleitoreira, eu apresento uma solução factível e que já foi aplicada antes”, argumentou Mendanha.

Gustavo defende que o Governo de Goiás precisa agir para resolver o problema de energia que afeta todas as regiões do Estado, independente de qual seja a concessionária.  De acordo com o ex-prefeito de Aparecida, é necessário a implantação de 800 quilômetros de linha de extensão, aquisição de 20 subestações e reforma de outras 12 para melhorar a distribuição energética por meio de fomento ao setor produtivo de Goiás.

Vitor Hugo: aproximação com Bolsonaro para resolver

Um dia antes de Caiado marcar presença na sabatina da TV Anhanguera, o deputado federal Major Vitor Hugo (PL) foi o entrevistado. Na Organização Jaime Câmara, o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Goiás foi questionado sobre o assunto. Com tom reprovatório, condenou o modelo de concessão realizado em Goiás. 

 “O modelo de concessão  realizado em Goiás foi muito ruim, e a fiscalização também. O governo de Goiás tem sido leniente com a Enel, e os nossos produtores rurais e empresários têm sido submetidos a enormes e frequentes períodos de falta de energia, com perdas grandes para o consumidor final e para as indústrias”, salientou.

Para ele, a relação próxima que tem com o presidente da República, irá ajudar a resolver os problemas com relação a geração de energia. Com nossa proximidade com o presidente Bolsonaro, vamos conseguir os recursos necessários para investimentos em saneamento e tratamento de esgoto, o que significa saúde. Também vamos desenvolver editais para a construção de novas PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), pois Goiás é um dos estados com maior potencial hidroelétrico do País”, assegurou o candidato.

Vitor Hugo aposta em relação com Bolsonaro para resolver problemas de geração de energia em Goiás (Foto: Reprodução/Youtube)

Edigar Diniz defende contrato que assegure punições; Esquerda busca reestatização

Candidato do Novo ao Governo de Goiás, Diniz defende que a troca da empresa seja efetivada mas também deseja ver um contrato robusto que proteja o Estado em caso de falta de cumprimento de serviços por parte da nova empresa. Ao Diário de Goiás, ele destacou que o Estado não pode ficar refém de uma empresa que não cumpre com os compromissos.

“Existe um investimento alto que precisa ser feito para poder atualizar a parte de transmissão e de subestação aqui em Goiás. Precisamos garantir que essa [nova] empresa faça os investimentos. Temos de fazer um contrato que dê proteção ao Estado. Um contrato que permita que ela seja punida caso ela não atenda o que é necessário. Não podemos passar mais anos sendo vítima de uma empresa que não consegue aquilo que o estado precisa e sem investimentos”, salientou ressaltando que é necessário transparência aliada aos investimentos.

Edigar Diniz, do Novo, quer um contrato seguro com próxima empresa para garantir ‘segurança e transparência’ (Foto: Divulgação)

Candidatos posicionados à esquerda do espectro ideológico são unânimes ao defender a reestatização da empresa. Ao Diário de Goiás, Wolmir Amado, do PT também foi duro nas críticas e prometeu rever automaticamente o contrato com a companhia italiana.

“Eu vou rever o contrato com a ENEL de imediato. Não dá para continuar com a prestação de serviço precária e cara da forma que está. O atual governo fechou os olhos pra isso. Mais do que isso: nós vivemos em um dos estados com a maior luminosidade e incidência do sol e não temos nenhuma iniciativa do governo, nenhuma, em prol da energia solar”, salientou.

Wolmir também disse que pretende criar linhas de crédito para ajudar famílias a financiarem energia solar em suas residências. “ Isso vai gerar economia no bolso, vai movimentar o mercado, e ainda tem a contrapartida ambiental, por estarmos usando uma fonte de energia que causa zero dano ao Cerrado, ao meio ambiente. Falta modernidade, falta atualização”, pontuou.

Cintia Dias defende reestatização da Enel em Goiás passando por consulta à população

A socióloga Cintia Dias defende a reestatização mas com consulta a população, por meio de referendo. “Privatizou, encareceu e escureceu. Por esse motivo nós pretendemos trazer a população para esse debate sobre a reestatização da Celg Distribuição.”, pontua ao Diário de Goiás. Ela cita exemplos de países europeus que tomaram o mesmo rumo.

“São os 7 milhões de goianos que vão decidir se a privatização da empresa deve ser revista, como já aconteceu em Hamburgo, na Alemanha, que reestatizou a transmissão do serviço de energia após fazer um referendo que foi aprovado pela população.”, salientou.

Por fim, tornou a dizer que quem definirá sobre os rumos da companhia italiana será a população goiana. “O povo é quem manda. Só vemos reclamação desde 2017, quando a Enel assumiu a Celg Distribuição no Estado, mantendo e agravando os problemas que tínhamos anteriormente, com um aumento na conta de luz e sucessão de quedas de energia que prejudica o trabalhador, que perde a carne na geladeira, e também o agricultor e o pequeno agricultor que vê o seu leite apodrecer por falta de condições de armazenamento”, destacou.

Professor Pantaleão também defende uma ideia parecida com o debate passando pela população e em torno de critérios técnicos. Em sabatina ao Jornal O Popular, ele mencionou sobre o que pensa para o futuro da companhia italiana. “O que a Enel está trazendo a não ser uma constante denúncia de falta de boa prestação de serviço? Então, essa reestatização estabelece uma política clara de que o Estado tem que ter o seu papel na saúde, na educação, na segurança. E essa reestatização passa, inclusive, por um debate técnico, um debate com a população para mostrar onde é que esse dinheiro está sendo utilizado. Essa discussão tem que ser feita”, ponderou.

No mesmo caminho de Cintia Dias, Pantaleão trás exemplos de países liberais que estão seguindo o rumo da reestatização. “A Inglaterra, por exemplo, está reestatizando a questão da água, porque viu que a empresa que tomou conta não levou a nada”, pontuou.

Wolmir Amado defende revisão ‘imediata’ do contrato com Enel; Professora Helga quer taxação de ‘grandes consumidores’; Cíntia Dias deseja ouvir a população mas defende reestatização assim como Professor Pantaleão

Grandes consumidores devem ser taxados, avalia candidata do PCB

Professora Helga Martins, do PCB, destaca que a reestatização da Enel se faz “urgente” para a “resolução do problema da energia elétrica em nosso estado”. “Com a reestatização, conseguiremos reorientar o parque elétrico do estado de forma a distribuir a eletricidade de forma não apenas a atender as necessidades de cada região, mas sobretudo proporcionando maior capacidade de utilização de energia em regiões importantes, que tem seu desenvolvimento econômico e social atravancado pela falta constante de eletricidade, como por exemplo para pequenos produtores rurais, que constantemente tem sua produção totalmente perdida dada a incapacidade da ENEL em fazer a eletricidade chegar”, declarou ao Diário de Goiás.

Ela é contrária inclusive, à terceirização de serviços. “Também deve ser suspenso qualquer contrato de terceirização da manutenção da rede elétrica, pois tal processo diminui muito a qualidade do serviço prestado. Ao contrário, propomos o reforço do serviço de manutenção, com a melhoria das condições de trabalho e segurança para todos e todas trabalhadoras da CELG reestatizada”, salientou.

Para além disso, Helga defende a tarifação de grandes consumidores que recebem diversos subsídios. “Por outro lado, é necessário tarifar os grandes consumidores, que hoje recebem diversos subsídios, e subsidiar a eletricidade de desempregados e desalentados, já que a falta de energia diminui enormemente a qualidade de vida e as condições de trabalho, estudo e moradia das camadas mais desalentadas”, concluí.


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