23 de dezembro de 2024
Passagem Noroeste • atualizado em 11/03/2022 às 19:01

Velejador vai do Alasca à Groenlândia para filmar os efeitos do aquecimento global

O navegador fará a Passagem Noroeste, entre o Norte do Canadá e o Alasca. (Foto: Arquivo Pessoal)
O navegador fará a Passagem Noroeste, entre o Norte do Canadá e o Alasca. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi no último dia 9, em uma manhã de sol forte, que Beto Pandiani, 64 anos, colocou seu barco a vela para singrar as águas não tão claras do Rio Pinheiros. A cena inusitada era parte da divulgação de uma aventura muito maior: uma expedição entre o Alasca e a Groenlândia, uma jornada de 3 mil milhas margeando a Calota Polar.

A previsão é que a viagem comece no final de maio e dure 100 dias. O roteiro prevê que a partida aconteça em Nome, no Estreito de Bering, no Alasca. No barco, um catamarã de 24 pés, estarão apenas Pandiani e o velejador francês Igor Bely. O diferencial deste veleiro é a presença de um assento com pedal – que permite o descolamento mesmo sem condições adequadas de vento.

“Fazer uma expedição destas é como tirar férias do mundo. É um tempo pra mim. Você não atende telefone, não responde WhatsApp. Você tem uma visão mais clara e isenta do que está acontecendo no mundo”, comentou Pandiani.

Alerta Ambiental

Além do caráter pessoal, a viagem tem um propósito de conscientização ambiental. A rota, que é conhecida por Passagem Noroeste, só pode ser feita por consequência da retração (degelo) da Calota Polar. As mudanças climáticas criaram uma passagem que, há séculos, estava bloqueada.

Em condições normais, o gelo impediria que embarcações cruzassem do Atlântico Norte para o Pacífico Norte. Inevitavelmente, a abertura deste pequeno corredor durante o verão trás consequências ambientais, geopolíticas, econômicas e culturais. Um filme, um livro e materiais pedagógicos serão produzidos a partir desta experiência. O orçamento, que tem patrocínio de cinco empresas, é de cerca de R$ 5 milhões.

De acordo com Pandiani, mesmo com todos os cuidados o imponderável sempre estará presente em uma expedição como esta. “A própria possibilidade de avançar com a embarcação é uma questão. Tudo vai depender das condições do gelo”, contou. “Além disso tem a questão da segurança, a região tem ursos polares.”

Outro importante aspecto desta viagem é a necessidade de eliminar os excessos. E um dos elementos que costuma fazer mais “peso” em uma embarcação como a que será usada por Pandiani é a “água”. “Para resolver essa questão, nós temos um equipamento que permite a dessalinização da água do mar. É um processo gota a gota, mas que nos permite viajar muito mais leves.”

Essa será a oitava expedição de Pandiani. Sua primeira experiência foi em 1994. Batizada de “Entre Trópicos”, a viagem foi de Miami para Ilha Bela – e durou 298 dias. Depois, na chamada “Rota Astral”, ele cruzou toda a costa sul do continente sul-americano. Outra expedição marcante foi a “Travessia do Drake” – que partiu de Ushuaia (Argentina) e cruzou a passagem entre a América do Sul e a Antártica.

Ex-empresário da noite

Antes de se tornar um velejador reconhecido e embarcar em uma série de aventuras náuticas, Pandiani foi empresário da noite. Não qualquer empresário. Ele foi um dos sócios do lendário AeroAnta, casa que tornou-se referência em meados dos anos 80 até 1996.

O AeroAnta era uma mistura de balada, bar e, principalmente, casa de shows (localizada onde hoje é o Largo da Batata, na zona oeste). Muita coisa importante aconteceu por lá. Nomes enormes da música brasileira e internacional se apresentaram na casa. Entre os mais conhecidos, estão Caetano Veloso, Cazuza, Tim Maia e Marisa Monte. A turma do rock também brilhou por lá, com shows de Raimundos, Skank e outros.

Atrações internacionais como Nick Cave e Joe Satriani também deram o ar da graça. “Muita gente me pergunta se não era o caso de reabrir o AeroAnta. O que as pessoas não entendem é que não dá para repetir essa experiência. O AeroAnta não era uma porta. Era um portal.”

Mas a história de Pandiani na noite começou em 1982, quando foi bartender do Ritz. Mesmo sem beber, foi responsável por alguns martinis e tônicas que saíram do mítico balcão: “Naquele período eu já tinha interesse por velejar. Já estava começando a aprender.”


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