05 de dezembro de 2025
Investigação • atualizado em 19/10/2025 às 22:21

UOL divulga investigação sobre uso de verbas do Jockey Club envolvendo empresas goianas

Construtora de Goiás e produtora criada no governo Perillo aparecem em investigação sobre uso de incentivos do Jockey Club de SP
O Jockey Club recebeu, entre 2018 e 2025, R$ 22,4 milhões do governo federal por meio da Rouanet e outros R$ 61,2 milhões da Prefeitura de São Paulo. (Foto: Elysium Sociedade Cultural).
O Jockey Club recebeu, entre 2018 e 2025, R$ 22,4 milhões do governo federal por meio da Rouanet e outros R$ 61,2 milhões da Prefeitura de São Paulo. (Foto: Elysium Sociedade Cultural).

Empresas e nomes ligados a Goiás aparecem no centro da investigação sobre o uso de R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais concedidos ao Jockey Club de São Paulo. Segundo reportagem publicada pelo UOL neste domingo (19), parte dos recursos obtidos via Lei Rouanet e por programas municipais de preservação do patrimônio paulista teria sido destinada a empresas goianas e a pessoas com vínculos familiares ou políticos com o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), que nega envolvimento.

O Jockey Club recebeu, entre 2018 e 2025, R$ 22,4 milhões do governo federal por meio da Rouanet e outros R$ 61,2 milhões da Prefeitura de São Paulo, voltados à restauração da sede de 150 anos, às margens do rio Pinheiros. A administração municipal, porém, rejeitou as contas e determinou uma auditoria, apontando possíveis inconsistências na comprovação dos gastos.

Entre as notas fiscais apresentadas pelo clube, o UOL identificou pagamentos a uma construtora registrada em Goiânia, despesas pessoais em restaurantes e farmácias e até contas de condomínio em endereços sem vínculo com o projeto de restauro. A reportagem cita, entre as empresas contratadas, a produtora cultural goiana Elysium, responsável pela coordenação das obras e contratação de fornecedores.

Segundo a reportagem, Marconi disse se tratar de uma “coincidência” derivada do fato de que tanto ele como Elysium são de Goiás. “Não participei de nenhuma escolha e não sou responsável por acompanhar esse trabalho. Qualquer ligação com meu nome é uma leviandade absurda”, afirmou.

Empresas investigadas

A Elysium se tornou uma Organização Social de Cultura (OSC) em 2014, por decreto assinado por Perillo, então governador de Goiás. Desde então, multiplicou seus projetos e, em 2020, passou a representar o Jockey Club como procuradora. Em 2025, a produtora obteve quatro aprovações simultâneas pela Lei Rouanet, todas relacionadas ao clube paulista.

Outra empresa citada é a Biapó Construtora, de Goiás, que confirma ter prestado serviços, mas não informou o valor cobrado. O fundador da Biapó é sócio dos donos da Elysium na empresa Biapó Urbanismo. Também aparece nos documentos a Construtora Vidal, que teria emitido notas fiscais somando R$ 11,2 milhões, mas não possui sede nem atividades verificadas nos endereços informados em São Paulo e Goiânia.

Além disso, uma empresa de aluguel de equipamentos, a Sapé, que administra imóveis na capital goiana e tem entre os sócios uma prima de Marconi Perillo, recebeu R$ 2,3 mil por um gerador que teria sido enviado para Santo Antônio de Goiás, cidade sem relação com o Jockey.

Perillo é conselheiro do Jockey desde 2022 e, segundo o UOL, teria indicado a produtora Elysium para coordenar o restauro. O ex-governador, contudo, nega qualquer envolvimento e diz que a associação de seu nome ao caso é “uma leviandade absurda”. Ele afirma conhecer Débora Perillo, uma das sócias da produtora, apenas “de vista” e a classifica como “prima de terceiro grau”.

A Prefeitura de São Paulo e o Ministério da Cultura (MinC) investigam o caso. O MinC informou que, até o momento, não foram identificadas inconsistências financeiras graves nos projetos concluídos, mas que apura em conjunto com o município eventuais irregularidades.

Gastos

O Jockey Club de São Paulo declarou que os processos de prestação de contas estão regulares e criticou o que chama de “interesses nada republicanos”, afirmando que há tentativa de desvalorizar o imóvel para justificar uma possível desapropriação.

Nos documentos analisados, o UOL identificou ainda notas de gastos administrativos e pessoais, como refeições em restaurantes, compras em farmácias e hospedagens. A Elysium justificou as despesas com base na Lei Rouanet, que permite gastos administrativos limitados a 15% do total do projeto.

Apesar dos investimentos informados, a reportagem relata que parte das áreas do clube continua em situação precária, com estruturas danificadas e obras inacabadas. A auditoria determinada pela prefeitura e a apuração do Ministério da Cultura seguem em andamento. Até a conclusão dos processos, não há decisão sobre a devolução de recursos nem responsabilização de envolvidos.

Confira nota do Jockey em resposta ao UOL:

“O Jockey Club de São Paulo é uma instituição privada, centenária, que presta e sempre
prestou relevantes serviços à sociedade paulistana e brasileira. Devido ao seu caráter
privado, quem o Jockey contrata diz respeito apenas a ele. Quando se trata de recursos
oriundos de benefícios fiscais referentes ao restauro do patrimônio histórico tombado da
instituição, todas as prestações de contas devem ser feitas de acordo com as regras
legais e cabe ao poder público fiscalizar. Seria prevaricação não analisar devidamente as
prestações de contas. Quando há erros, divergências ou fatos a esclarecer, cabe ao poder
público solicitar correções e esclarecimentos seguindo os trâmites normais dos
processos administrativos.
Ocorre que há uma insana tentativa de manipulação da opinião pública. Dívidas que
sabem não existir nos valores divulgados. Tentativas de proibir a histórica prática do turfe
sob argumentos tão frágeis que rapidamente foram derrubados pela Justiça. Pretensão de
diminuir em 90% o valor real do imóvel do hipódromo para justificar uma injusta e ilegal
desapropriação. Agora uma acusação vazia de irregularidades para tentar transformar em
escândalo processos de prestações de contas que mal se iniciaram e que estão
ocorrendo dentro da mais absoluta normalidade.
O Jockey, se e quando for notificado pela Prefeitura de São Paulo, irá esclarecer, com o
mesmo rigor técnico e jurídico que pauta a história da entidade, todos os aspectos
relacionados às prestações de contas da enorme, complexa e simbólica obra de restauro
do maior complexo art déco do mundo e do maior edifício art déco da América Latina.
Enquanto isso, continuaremos a denunciar os interesses nada republicanos que rondam
denúncias vazias que buscam incessantemente pautar a imprensa séria, profissional e
comprometida com o rigor das notícias.”
Marcelo Motta, presidente do conselho de administração do Jockey Club de São Paulo

Confira nota a seguir da Elysium Sociedade Cultura:

“A Elysium Sociedade Cultura esclarece que, desde o início de sua atuação no Jockey Club
de São Paulo, em 2018, tem conduzido todos os projetos de restauro em estrita
conformidade com as normas da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), com
aprovação prévia e acompanhamento técnico do Ministério da Cultura e do Iphan. Todas
as etapas de execução e prestação de contas encontram-se disponíveis no Sistema de
Acompanhamento da Lei de Incentivo à Cultura (Salic), garantindo total rastreabilidade e
fiscalização dos recursos empregados.
É importante ressaltar que há já várias ações desenvolvidas no Jockey com prestação de
contas aprovadas pelo MinC, o que evidencia não haver qualquer irregularidade nas
contratações realizadas pela Elysium. As empresas prestadoras de serviço foram
selecionadas com base em critérios técnicos e de especialização comprovada em obras
de restauro do patrimônio histórico e cultural, seguindo os mesmos padrões de atuação
adotados em projetos executados em todo o país.
É inverídica qualquer vinculação da Elysium a eventuais indicações políticas. A instituição
é reconhecida nacionalmente por sua trajetória de mais de três décadas dedicadas à
preservação e valorização do patrimônio cultural brasileiro, mantendo atuação
independente e pautada por princípios de ética, transparência e rigor técnico.”
Elysium Sociedade Cultural


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