13 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:30

Um final de semana de confusão econômica total

Ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Agência Brasil)
Ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Agência Brasil)

Os acontecimentos do final de semana, com o pedido de demissão dos principais membros da equipe econômica de Guedes no início da noite de sexta-feira (23/10), agitaram um pouco as análises, movimentando e pautando a mídia e os veículos de comunicação. 

Esta demissão em massa, em específico, se coloca como algo muito sério. Pode ser lembrada, em breve, como o começo de um caos econômico total. É um background que aproxima o Brasil de países que viveram crises econômicas recentes sem precedentes, como a Argentina de Macri, ou mesmo a Venezuela, colocada pelo bolsonarismo como antítese, como exemplo máximo do que não podemos ser ou nos tornar. 

O mercado, representado aqui pelos bancos e corretoras, responsáveis por comprar e vender os ativos, ações que fazem parte do IBOVESPA, os contratos futuros de juros, ou mesmo o dólar, é aquele que acaba vendendo a história de que sem um superávit primário o país não tem como crescer. Que sem uma austeridade fiscal rígida, não há possibilidades de desenvolvimento. 

O que aconteceu nos últimos dias, entretanto, demonstra uma perda de controle de Guedes em relação à economia do país. E não é por simples coincidência – acho este um argumento muito ingênuo – que isto acontece agora, nas semanas que imediatamente prosseguem o escândalo do Pandora Papers. Este, um escândalo que dissipa qualquer força que o senhor Ministro ainda poderia ter, tendo em vista que vem se enfraquecendo e se desgastando desde o primeiro dia de serviço com um neoliberalismo desastroso, que fez o país cair 30% em dólares no ano passado. 

Cristian de Paula Sales Moreira Junior é professor de História e mestre em História Política pela UFG.

Nenhum outro país teve uma queda tão grande, e o real foi a moeda que mais se desvalorizou, segundo dados do FMI. Tirando a Turquia, Venezuela e Argentina, somos o país que tem a maior inflação, dentro das grandes economias.

Vimos, então, o desmoronamento da imagem, construída em campanha, de Guedes como o cavaleiro da austeridade fiscal e do teto de gastos. Ele se vê, no momento, completamente chantageado: ainda mais agora, em que o parlamento tem o conhecimento de que nosso Ministro tem milhões em paraíso fiscal, e se encontra lucrando com o caos. Se tornou uma marionete. 

É um descontrole total: o auxílio emergencial se torna auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família, com um valor que fura o teto de gastos, mas é temporário, então se baseia em uma interpretação da lei que abre precedentes… ufa, acabou o fôlego. O mais intrigante é que duraria apenas um ano, ou seja, o ano de campanha eleitoral. Há também o anúncio de um auxílio, que não foi combinado com ninguém, nem com nenhum ministério, para os caminhoneiros. Não se sabe nem qual é o valor, e imediatamente os caminhoneiros pedem truco, se posicionando em não aceitar. 

Nas análises também surgiram aqueles que preveem a queda do ministro da Economia. Eu, em termos práticos, não vejo que faria nenhuma diferença. E mais: se houvesse a possibilidade de um novo Ministério da Economia, quem em sã consciência aceitaria em meio a este caos? 

O tamanho deste caos vai depender de qual vai ser o esforço conjunto do governo para resgatar credibilidade, embora seja difícil mesmo que ela seja resgatada. Isto porque o mercado  chegou em um ponto de inflexão em que fica melhor apostar na piora, não mais na melhora. Vendo a situação de desespero, cada um tenta tirar sua parte.

Cristian de Paula Sales Moreira Junior é professor de História e mestre em História Política pela UFG.)