29 de dezembro de 2024
Esportes

Um ano após o tetra, Özil exalta geração: ‘Tínhamos 3 bons jogadores por posição’

São Paulo – Se no Brasil faltam jogadores de qualidade para dividirem com Neymar a responsabilidade de conduzir a seleção, a Alemanha conta com uma das melhores gerações da sua história. Para Mesut Özil, a seleção alemã foi tetracampeã mundial há exatamente um ano por contar com três bons jogadores em cada posição. “Li muitas vezes na imprensa que o conjunto era a principal estrela do nosso time e concordo com esse tipo de avaliação, é isso mesmo”, disse, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira.

O meia do Arsenal fala também que os alemães vieram ao Brasil decididos a encerrar o jejum de 24 anos sem títulos e voltar para a Europa com a taça. Para isso, se fosse preciso, abririam mão do padrão tático da equipe para jogar feio.

Estadão – Um ano depois da vitória por 1 a 0 sobre a Argentina no Maracanã, o que vem a sua cabeça quando você se recorda do Mundial no Brasil?

Özil – Quando segurei o troféu da Copa do Mundo em minhas mãos, foi um momento muito emocionante. Aquele foi e continuará sendo um dos momentos mais importantes da minha vida. Também guardo boas recordações de coisas que aconteceram fora dos gramados, como, por exemplo, a hospitalidade que tivemos no Brasil não apenas quando chegamos ao País, mas durante todo o Mundial. Foi uma coisa realmente incrível. Mas sei também que a Copa do Mundo foi vista de maneira bem crítica no Brasil.

Estadão -O que fez da Alemanha campeã do mundo?

Özil -Em praticamente todas as posições o nosso time tinha dois ou três bons jogadores. E, o mais importante, nenhum jogador era egoísta e pensava em si próprio. Isso pode parecer simples, mas nem toda equipe consegue fazer o que fizemos. Cada atleta trabalhou para o bem do time. Na nossa seleção não havia estrelas que tentavam estar à frente dos companheiros. Isso é o verdadeiro espírito de equipe. Li muitas vezes na imprensa estrangeira que o conjunto era a principal estrela da seleção da Alemanha e concordo com esse tipo de avaliação, é isso mesmo. Eu, por exemplo, sempre me sinto feliz quando estou viajando com a seleção, o ambiente é muito bom e os aletas conhecem uns aos outros muito bem. Isso também acaba ajudando o rendimento da equipe dentro de campo.

Estadão -De que maneira o fato de ter sediado a Copa do Mundo de 2006 foi importante para a Alemanha?

Özil – Sonhamos com o troféu da Copa desde 2006. “O conto de fadas de verão”, como as pessoas na Alemanha chamavam a campanha da seleção daquele Mundial, terminou com um terceiro lugar. Mas a Copa, de uma maneira geral, foi um grande sucesso, algo que ninguém esperava. Toda a Alemanha ficou em festa. As pessoas comemoraram muito pelas ruas e, claro, nos estádios. A avaliação das pessoas foi de que a Alemanha foi uma boa anfitriã para os torcedores de todo o mundo. Acredito que a Copa de 2006 ajudou a mudar um pouco a imagem dos alemães no exterior. As pessoas passaram a ver que os alemães são apenas pessoas normais, como qualquer outro povo.

Estadão -De alguma maneira você ficou surpreso com o desempenho dos jogadores brasileiros naquele 7 a 1 da semifinal?

Özil – Honestamente, toda equipe pode ter um dia ruim. Mas ficamos realmente chocados em conseguir fazer 5 a 0 em menos de 30 minutos no primeiro tempo. No vestiário, durante o intervalo, conversamos sobre o que estava acontecendo para tentar entender tudo aquilo. Apesar de uma vantagem de cinco gols ser mais do que confortável, mantivemos o respeito pelo Brasil porque sabíamos que eles poderiam acordar no segundo tempo. Disputar uma Copa em seu próprio país pode ajudar a melhorar o desempenho técnico por causa do apoio da torcida, mas, por outro lado, também pode aumentar muito a pressão sobre você e acho que foi isso que aconteceu. Eu amo o futebol brasileiro. O placar de 7 a 1 certamente não tem nenhuma relação com os pontos fortes e fracos das duas equipes. Eu me lembro que um dia depois do jogo publiquei no meu Twitter um texto dizendo que o Brasil é um país belo, com pessoas maravilhosas e jogadores incríveis e que o resultado daquela partida não podia destruir o orgulho dos brasileiros.

Estadão -A ausência do Neymar foi determinante para o placar do jogo?

Özil – Eu acho que sim, afinal Neymar é um grande jogador, que pode decidir qualquer partida. Com ele em campo, acredito que o Brasil teria sido mais agressivo no ataque. Mas acho também que o fato de o Thiago Silva estar suspenso afetou o desempenho da equipe.

Estadão -Depois de abrir 5 a 0 no primeiro tempo, a Alemanha tirou o pé? Os brasileiros temiam que a partida terminasse 10 a 0.

Özil – O Brasil se tornou uma equipe definitivamente mais perigosa no segundo tempo. Lembro-me que o Neuer teve de fazer algumas defesas complicadas por causa de excelentes chutes a gol dos brasileiros. Mas Schürrle marcou dois gols no segundo tempo e, então, passei a ter a certeza de que não teria mais como o Brasil reagir porque o placar já estava muito favorável a nós. Mesmo assim, mantive o meu respeito pelo Brasil durante toda a partida porque sabia que todos os jogadores da seleção brasileira têm muita qualidade. O gol do Oscar não foi um presente nosso para o Brasil. O problema é que, talvez, não estivéssemos suficientemente focados no jogo naquele momento.

Estadão -O 7 a 1 contra o Brasil acabou contribuindo para que a Alemanha derrotasse a Argentina na final?

Özil – Certamente aquele resultado nos deu muito mais autoconfiança. Mas cada jogo é diferente e tínhamos de nos preparar para enfrentar um outro tipo de adversário. Um dia depois da partida contra o Brasil, assistimos à semifinal entre Holanda e Argentina e vimos duas equipes muito defensivas, tentando neutralizar o adversário. A Argentina ganhou nos pênaltis e aquele jogo desgastou muito eles fisicamente. Já nós tivemos um dia a mais para descansar depois da vitória sobre o Brasil. Isso

certamente foi uma vantagem.

Estadão -O que era mais importante para a Alemanha durante a Copa do Mundo de 2014: ganhar ou jogar bonito?

Özil – Definitivamente ganhar. Você não se lembra de jogos bem jogados, mas sim de títulos da Copa do Mundo. Isso, no entanto, não quer dizer que o nosso estilo de jogo não seria importante. O público espera um jogo atraente, os torcedores pagando muito dinheiro à espera disso. Por isso, considero que o padrão de jogo também é importante.

Estadão -A Alemanha é treinada pelo Joachim Löw há oito anos. Quanto isso contribuiu para o desempenho da equipe?

Özil – Alguns jogadores fazem parte da seleção há muito tempo. Eu, por exemplo, entrei na equipe em 2009. Esse trabalho a longo prazo faz com que o treinador conheça com precisão nossos pontos fortes e fracos. De vez em quando ele tenta fazer algumas experiências em determinadas posições, mas sem prejudicar o conceito global da equipe. Essa foi uma das principais razões para a nossa conquista na Copa do Mundo. Crescemos juntos como equipe e nos conhecemos muito bem. Durante o jogo podemos antecipar algumas situações e muitas coisas acontecem até de maneira automática.


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